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O Currículo e Multiculturalismo

Por:   •  27/3/2017  •  Artigo  •  2.694 Palavras (11 Páginas)  •  390 Visualizações

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CONSTRUÇÃO SOCIAL DO CURRÍCULO: REFLEXÕES

SOBRE MULTICULTURALISMO

Karina de Souza

Desde as origens da educação formal escolar, discutia-se mesmo que sob outras nomenclaturas e não usando um conceito de currículo, quais os conhecimentos, valores, comportamentos e habilidades que uma determinada instituição deveria disponibilizar aos alunos (APPLE, 2008). Tornou-se, pois necessário pensar sobre a escola e o currículo formal de forma intencional a partir do momento que a educação ao longo da história foi sendo modificada nos seus pressupostos e métodos.

A escola não é a mesma, hoje não é impossível pensar o ambiente educacional sem analisar o amplo contexto social, político, econômico e cultural no qual se está inserido.

Na verdade currículo é um termo polissêmico, que envolve conteúdos, valores, atitudes e experiências, cuja construção se realiza através de uma multiplicidade de práticas, fazendo-se presentes nos mais variados tipos de contextos, sejam social, político, ideológico ou econômico. Não há um único conceito sobre o que seja currículo, pois ele está relacionado a uma complexidade de problemas e uma construção cultural, histórica e socialmente determinada, mas as definições de currículo geralmente abrangem conhecimento escolar e experiência de aprendizagem. (MOREIRA, 1997, apud OLIVEIRA, 2008).

Ao longo da história surgiram diferentes concepções de currículo, para a teoria tradicional o currículo deveria conceber uma escola que funcionasse de modo semelhante a qualquer empresa, cuja ênfase era na produtividade, desenvolvimento, organização e eficiência, o currículo deveria ser técnico, instrumentalista e a educação um processo de moldagem, ainda era visto como neutro, desinteressado e científico. Essa teoria enfatiza o ensino, aprendizagem, avaliação, metodologia, planejamento, objetivos, didática, eficiência e organização.

As teorias críticas e pós-críticas do currículo buscam romper com essa idéia de neutralidade científica do currículo, colocando em discussão a racionalidade moderna de produção e organização do conhecimento como um efeito controlador e regulador das relações sociais. Segundo a teoria crítica, o currículo é um espaço de poder, ele reproduz estruturas sociais, é ideológico e reproduz interesses de classe da sociedade


capitalista; o currículo é um território político (SILVA, 2011, p.149). Elas enfatizam ideologia, reprodução cultural e social, poder, classe social, capitalismo, relações sociais de produção, conscientização, emancipação, currículo oculto e resistência.

O pensamento pós-crítico propõe um currículo que se construa ao redor de temas como cultura, raça, gênero, etnia, sexualidade e multiculturalismo, enfatizando competências e habilidades, e não conteúdos. As teorias pós-criticas ampliam aquilo que as teorias criticas ensinam, o poder torna-se descentrado, não tem mais um único centro, como o Estado, está espalhado por toda a rede social. (SILVA, 2011, p.148).

Há muito que se pensar e questionar no processo de elaboração de um currículo, pois este é uma construção social, que se dá através da cultura, ideologia e poder. Para a teorização critica cultura é o conjunto de significados, expectativas e comportamentos compartilhados por um determinado grupo social,assim dizer que o currículo é uma seleção cultural significa dizer que o currículo em dado momento histórico é fruto da escolha de conhecimentos considerados mais importantes dentre aqueles que fazem parte de uma cultura mais geral.

O currículo também é expressão das relações sociais de poder, presentes no Estado por meio de pessoas e atos legais e no cotidiano escolar, dessa forma as escolas estariam organizadas não só para ensinar conteúdos, mas para reproduzir as relações sociais e organizar a divisão social do trabalho, e a ideologia seria um instrumento utilizado para mascarar a realidade permitindo a perpetuação da dominação e exploração.

Nas escolas existem diferentes tipos de currículo, entre eles o currículo oficial, oculto e em ação. Currículo oficial é aquele presente nos documentos legais do país. O currículo oculto de uma escola é constituído por todas as atitudes, comportamentos e valores presentes na vida dos alunos que são ensinados de forma implícita pela escola, ou seja, não planejadas. Ele é resultado das relações interpessoais desenvolvidas nas escolas, da hierarquização entre administradores, direção, professores e alunos e da forma pela qual os alunos são levados a se relacionar com o conhecimento.

Currículo em ação é o conjunto de saberes, fazeres e interações produzidas e compartilhadas no cotidiano escolar, ele se diferencia e realiza a partir das ações compartilhadas pelos sujeitos. Este tipo de currículo faz parte de muitas práticas que vão além das práticas pedagógicas de ensino, mas incluem ações de ordem politica, administrativa, de avaliação etc.


A construção social do currículo se dá através das relações de poder, ideologia e da cultura presentes na sociedade. Dessa forma assumindo uma concepção crítica o currículo deixou de ser um elemento técnico, inocente e neutro de transmissão do conhecimento.

“O currículo está implicado em relações de poder, o currículo transmite visões sociais particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais particulares. O currículo não é um elemento transcendente e atemporal – ele tem uma história, vinculada a formas específicas e contingentes de organização da sociedade e educação.”

(MOREIRA E SILVA, 1995, p.8).

Concordando com Moreira e Silva,

A escola delimita espaços. Servindo-se de símbolos e códigos, ela afirma o que cada um pode (ou não pode) fazer, ela separa e institui. Informa o

“lugar” dos pequenos e dos grandes, dos meninos e das meninas. Através de seus quadros, crucifixos, santas ou esculturas, aponta aqueles/as que deverão ser modelos e permite, também, que os sujeitos se reconheçam (ou não) nesses modelos. O prédio escolar informa a todos /as sua razão de existir.

Suas marcas, seus símbolos e arranjos arquitetônicos “fazem sentido”, instituem múltiplos sentidos, constituem distintos sujeitos. (LOURO, 2003, p. 58).

Segundo Apple (1989), o papel que o estado desempenha na sociedade é muito importante para se compreender o que a escola faz e como se organiza o currículo. O Estado subsidia o capital através de empréstimos e créditos, fornecimento de energia, transporte, etc. Tem contribuição no processo de expansão dos mercados, comercialização dos produtos, manutenção de aparato militar, custeia pesquisas cientificas, treinamento das forças de trabalho e educação, também regulamenta leis, saúde, família, mídia e outros.

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