OS FUNDAMENTOS DE PSICOMOTRICIDADE
Por: Karol Alvees • 19/6/2015 • Trabalho acadêmico • 13.282 Palavras (54 Páginas) • 441 Visualizações
FUNDAMENTOS DE PSICOMOTRICIDADE
Profa. Maria Luísa Bissoto
1S/2015
1. Introdução
1.1 - Fundamentação Teórica
A Psicomotricidade[1] é uma área de investigação e de atuação profissional que, partindo do princípio de que há um paralelismo entre o desenvolvimento das funções motoras e o desenvolvimento das funções psíquicas, incluindo o intelecto, o simbolismo, a afetividade e a adaptabilidade ao meio, se propõe a facilitar o domínio dessas funções em indivíduos de diferentes idades e características. Para tanto, os teóricos envolvidos nessa área investigam e estruturam técnicas diversas, sempre, contudo, visando uma abordagem global e integrada da pessoa: “No trabalho psicomotor não é apenas o comportamento exterior que importa, são os processos internos que guiam e controlam esse comportamento que se deve tratar de entender (R. RIGAL, 2003, p. 07).”
De maneira geral a Psicomotricidade se divide em 3 grandes eixos de atuação e de investigação:
A educação psicomotora, que nasce da concepção de educação vivenciada, defendida pelos franceses André Lapierre e Bernard Aucouturier (meados década de 1960), partindo do pressuposto de que o movimento é elemento fundante e impulsionador do desenvolvimento infantil. Tem por objetivo favorecer o desenvolvimento da inteligência e dos demais atributos cognitivos (memória, percepção visual, análise-síntese, etc), bem como a aquisição do aprendizado acadêmico, via proposições de ação motora/sensorial que acompanhem o desenvolvimento maturacional “normal”. A idéia básica é a de que existe uma relação causal entre os exercícios psicomotores (lateralidade, tempo, espaço, coordenação visomotora, etc), o desenvolvimento das funções psíquicas e o aprendizado escolar, principalmente aquele ligado à leitura/escrita e à matemática. A crença, largamente difundida na área da Psicomotricidade é a de que o bom desenvolvimento de estruturas cognitivas de base, a saber, aquelas ligadas à organização corporal, espacial e temporal, à integração sensorial, à memória e ao raciocínio lógico, constituem condição prévia para esses aprendizados. Entre os teóricos dessa perspectiva estão Jean Le Boulch e Pierre Vayer.
A reeducação motora se refere à intervenção empregada em casos de transtornos[2] ou dificuldades psicomotoras, de origens diversas, em qualquer faixa etária, envolvendo a avaliação dessas dificuldades e propondo a elaboração de um programa de intervenção. Objetiva restabelecer o controle psicomotor voluntário, que o sujeito deveria ter sobre seus atos, mas que não se encontra suficientemente presente devido a transtornos que geram desordens no comportamento psicomotor, escolar ou social. A intervenção se dirige a refazer a educação de uma função ou a reestruturar a personalidade do indivíduo, sob a pressuposição de que a alteração de uma função - ou de componentes da personalidade - influenciará as demais.
A reeducação psicomotora tem origem nos trabalhos da escola francesa de neuropsiquiatria infantil, nos primeiros anos do século XX. Foi impulsionada pelos estudos de H. Wallon, Ajuriaguerra, Diatkine, Soubiran e Zazzo; esses últimos acentuando o caráter clínico que a reeducação motora assumiu e mantém até atualmente.
A terapia psicomotora se refere à vivência do indivíduo em relação ao seu próprio corpo, em relação aos demais e ao entorno. Marca uma ruptura com os vieses mais tradicionais da Psicomotricidade, que se referem predominantemente ao saber fazer, preocupando-se com o saber ser. Compartilha a base teórica da Psicanálise, creditando as dificuldades de adaptabilidade sujeito-entorno não tanto à relação entre a corporeidade do sujeito e esse entorno, mas, antes, às relações que o sujeito estabelece com outras pessoas: pais, outros familiares, amigos, professores, etc. A imagem corporal que formamos de nós mesmos durante essas relações é que marcarão nossas experiências libidinais e emocionais, nossos desejos e repressões, nossa auto-estima e confiança; estruturando nossa comunicação e ações relacionais com o entorno.
O desafio da terapia psicomotora é conciliar a verbalização e a análise dessa verbalização, acompanhando as diversas linhas psicanalíticas, com os aspectos motores/corporais dos sujeitos.
Todos esses eixos objetivam, apesar de suas diferenças, auxiliar a organização do sujeito no domínio de seu espaço vital.
Os problemas no desenvolvimento infantil são, de forma geral, denominados como “atraso no Desenvolvimento NeuroPsico (perceptivo) Motor (DNPM)”. As causas de um atraso no DNPM são variadas, abrangendo complicações pré-natais, peri-natais ou pós-natais: alterações genéticas, metabólicas, privação severa de estímulos, desnutrição grave, maus-tratos, problemas de natureza psicológica diversas, patologias variadas, condutas típicas, dentre outras.
As técnicas psicomotoras se utilizam de atividades/exercícios motores, sensório-motores e percepto-motores. Através dessas atividades a psicomotricidade procura intervir na vivência, na percepção e na representação corporal (SÁNCHEZ, 2000, p.10), agindo em 07 áreas, consideradas básicas para a integração do ser humano em seu entorno:
1) consciência do próprio corpo e a organização do esquema corporal
- o domínio do equilíbrio
- controle das coordenações globais e específicas
- controle da inibição voluntária e da respiração
- estruturação espaço-temporal
- a estruturação da lateralidade
- adaptabilidade ao mundo, incluindo a comunicação e a vida social e afetiva
Ainda de acordo com Sánchez (2000), a intervenção psicomotora deve se centrar em 4 vias fundamentais de ação:
1) Mobilizar e conter as produções tônico-emocionais. Estimular e possibilitar que a pessoa viva, de maneira equilibrada, emoções em relação ao mundo exterior.
2) Mobilizar o imaginário, auxiliando a pessoa a mobilizar e conter suas imagens e pensamentos.
3) Ajudar a pessoa a investir a mobilização emocional em criações progressivamente mais elaboradas, incluindo a criação intelectual.
4) Ajudar a pessoa a distanciar-se de suas emoções e de seu imaginário corporal.
Para a Psicomotricidade são as intervenções, adequadas a cada caso, que favorecem a contínua construção de estruturas cognitivas progressivamente mais abstratas, a partir da interiorização das vivências corporais, que resultam das ações efetivadas e das reflexões que o sujeito faz sobre estas.
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