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Resenha Crítica - Livro O Pato, a Morte e a Tulipa

Por:   •  27/2/2017  •  Trabalho acadêmico  •  2.094 Palavras (9 Páginas)  •  1.773 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE – UFCG

UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO – UAEd

CENTRO DE HUMANIDADES – CH

PROFESSORA: FABÍOLA VASCONCELOS

DISCIPLINA: LITERATURA INFANTIL

ALUNA: DAYANA ALVES SANTOS

CURSO: PDAGOGIA – NOTURNO        PERÍODO: 2016.1

Resenha crítica do livro: “O pato, a morte e a tulipa 

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Campina Grande, Pb

Outubro de 2016

ERLBRUCH, Wolf. O pato, a morte e a tulipa. Ilustrações do autor. Tradução de José Marcos Macedo. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

Por Dayana Alves Santos

        “O pato, a morte e a tulipa” foi escrito e ilustrado por Wolf Erlbruch, e publicado originalmente na Alemanha, no ano de 2007. O autor é nascido em 1948, na cidade de Wuppertal (Alemanha), onde mora e é professor titular de ilustração na Universidade Gesamthochschule. Começou a trabalhar para editoras e agências de propaganda logo, após ter se formado em artes gráficas, em 1978. Seu primeiro livro, Der Edler [A águia], foi publicado em 1985 e, hoje, suas obras já foram traduzidas para mais de vinte idiomas. Em 2004, Elbruch foi o grande vencedor do prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infantil.

        Lançado no Brasil em 2009, pela editora Cosac Naify, de São Paulo, o livro“ O pato, a morte e a tulipa”, cujo título original é Ente, Tod und Tulpe, foi traduzido por José Marcos Macedo, paulistano, mestre em língua e literatura alemã e doutor em língua e literatura grega pela Universidade de São Paulo.

        “A literatura é também uma forma de conhecimento, uma tentativa de compreender a vida e o mundo (AZEVEDO, 1999, pg 86).” há quem diga que nem todos os temas devem ser abordados com as crianças, porém, Azevedo (1999), vem afirmar que a literatura é um caminho pela qual os autores podem utilizar para apresentar assuntos do cotidiano da criança, de uma forma leve, que desperte sentimentos, que atraiam a criança para a leitura. Esta obra é um lindo exemplo de como é possível tratar assuntos que para nós (adultos) ainda é aterrorizante, como a morte, de forma clara para as crianças, mostrando que a ela faz parte do ciclo natural da vida, que independente de quem seja ela chegará a todos.   “A literatura (...) é uma expressão de arte que emociona, comove, leva a experimentar sensações, pensamentos, palavras...(PARREIRAS, 2009).” Tomando por base essa citação de Parreiras (2009), podemos afirmar que o escritor deste obra contemplou tudo que de mais subjetivo a literatura traz. Com uma sutileza impar, o autor falou sobre a morte com extrema precisão, abordou de fato como ela é, pois como ele relata em uma própria fala da morte “estou por perto desde que você nasceu”, ele enfatizou a verdade sem rodeios, com simplicidade capaz de ser compreendida pela criança e por todos que a leem.  

Composta por 32 páginas e 25 ilustrações, impressas em papel alta alvura 150g/m², na fonte Bodoni, a obra caracteriza-se por ser uma dupla narrativa. É como se tivessem “dois narradores, um responsável pelo texto, outro pelas imagens. Estes dois narradores devem encontrar um modus vivendi” (POSLANIEC, 2002 apud FARIAS, 2004), ou seja, estes dois elementos se completam e dão sentido à obra. Segundo Faria (2004), essa relação de complementaridade que se dá entre a língua verbal escrita e língua das imagens, acontece através das contribuições que ambas dispõem, a elementos que só texto escrito é capaz de proporcionar, como elementos que só a imagem pode propor, ou seja, a escrita tem suas especificidades como articuladores temporais, elementos de causa e efeito e os aspectos de revelação, para exemplificar essa relação de complementaridade da imagem com o texto escrito, a vigésima primeira página da obra traz a pergunta do pato “Você não quer me esquentar um pouco?”, se fosse apenas o texto escrito, seria uma pergunta qualquer, em um momento qualquer, mas a ilustração traz o patinho e a morte de mãos dadas, trocando um olhar sublime e singelo, como se fossem bons e velhos amigos, como se tivessem uma intimidade longa,

 É uma narrativa curta contada em páginas simples e duplas, sendo todas elas compostas por ilustrações e texto verbal escrito. O uso de cores frias, com predominância do tom pastel, remete a um lugar sem vida, sem brilho, envelhecido. São ilustrações feitas com colagens e traços de lápis que dão um toque sutil para um assunto tão sério, tratado nesta obra de forma tão pura. Ainda sobre as ilustrações podemos destacar que o arranjo na página traz uma disposição especifica, com imagens grandes no centro da página e o texto escrito geralmente ocupando a parte superior da página. No que se referem aos recursos técnicos, todas as ilustrações estão enquadradas pela borda da página, em sua grande maioria estão na perspectiva clássica, e algumas (a exemplo da página 8) estão na perspectiva oblíqua. O enquadramento completa-se com os planos em que as imagens se apresentam. Esta obra traz ilustrações no plano geral (FIGURA 1.2), no plano médio (FIGURA 1) e no plano americano (FIGURA 2.1), exemplificadas em anexo.

O autor inicia a obra com um fato acerca do pato: “Fazia tempo que o pato sentia que algo não ia bem”. Nesse momento, o pato observa que a morte o está acompanhando. A morte é apresentada de forma até amigável com seu pijama quadriculado e sapatilhas pretas, carregando consigo uma tulipa roxa. A reação do pato mediante a morte que o seguia é de susto, mas nada alarmante.  Com os olhos arregalados e o corpo ereto o pato pergunta: “você vai me levar agora?”. E a morte diz de forma sutil, que sempre esteve por perto, por precaução.  O pato na sua inocência convida a morte para nadar no lago. A morte não é uma adepta da água, e logo depois do mergulho, sente muito frio e o pato se oferece para esquentá-la, porém “ninguém jamais havia feito a ela uma proposta parecida”. A partir daí o pato e a morte, estreitam um laço de amizade. Dormem e acorda juntos, no dia seguinte da ida ao lago, o pato acordo feliz a vida porque não tinha morrido, e morte fica até contente pelo pato. Em certo momento o pato convida a morte para subir em uma árvore, e lá do alto o pato pensa um pouco triste que o rio ficará sozinho e solitário quando ele morrer (neste momento o pato começa de fato a entender que ele morrerá um dia), e a morte como pode algumas vezes ler mente, tranquilizou o pato dizendo que: “quando você estiver morto, o lago também não vai estar mais lá – pelo menos não pra você”, nos mostrando que todas as coisas ficam no mesmo lugar quando a morte chega, porém somos nós quem não estaremos no mesmo lugar. Depois deste diálogo, o pato começa a ceder, neste momento passa um corvo voando sem rumo, sozinho, um aspecto sombrio como se quisesse falar algo ao pato, como se fosse um prenuncia de que a vida do pato estaria bem mais perto de ter um fim do que ele estava pensando. Nas semanas seguintes eles iam cada vez menos ao lago, passavam o maior tempo sentado na grama, falando muito pouco, em uma noite o pato diz que está com frio, e pergunta a morte: você não quer me esquentar um pouco? A ilustração que acompanha essa pergunta é do pato e da morte de mãos dadas, olhando um para o outro, com um olhar tão inocente, tão amigo, como em nenhuma outra página foi ilustrado antes, uma imagem que traz uma leveza, um carinho, uma parceria, uma cumplicidade tão grande neste olhar que por alguns minutos esquecemos que estamos falando da morte. A página seguinte traz um fundo na cor azul, relatando que algo aconteceu, a morte sentada ao lado do pato, observando com um olhar puro o corpo do pato estirado no chão, sem esboçar nenhum movimento, a expressão da morte traz um tom de tristeza (tristeza porque por alguns minutos a morte conseguiu esquecer-se do seu proposito, quando vivenciou um pouco da vida do pato, construindo uma relação amigável). Uma neve fina cai sobre os dois, como um sinal de que o inverno, o luto e o tempo de recolhimento chegaram. “A morte alisou algumas penas que tinham se arrepiado um pouquinho” (mostrando seu carinho com o pato), com a tulipa na boca pega o pato em seus braços e caminha em direção ao lago, o coloca na água, e a tulipa em cima do seu corpo, dando-lhe um “leve empurrãozinho”. À beira do rio imenso, a morte observa o pato aos poucos desaparecer, ficou parado olhando por algum tempo, e “por pouco a morte não ficou triste”, novamente o vinculo criado o pato mexe com a morte. A última página mostra a morte arrodeada por uma raposa e um lebre, como sinônimo de que a morte é parte do ciclo da vida e que vem para todos.  Essa última ilustração ainda traz um elemento que foi citado no comecinho da história quando a morte fala ao pato, que a vida é responsável por cuidar dos acidentes e de todas as outras coisas que podem tirar a vida do pato, como exemplo a raposa, já que as aves fazem parte da cadeia alimentícia delas. Agora o autor traz a morte caminhando entre a caçada da raposa em busca da lebre, mostrando mais uma vez que a vida é encarregada de tudo e que a morte sempre está por perto, por via das dúvidas.

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