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Resenha de MASSCHELEIN, Jan; SIMONS, Maarten. Em defesa da escola: uma questão pública. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. Cap. 2. p. 25-103. (compilado).

Por:   •  28/3/2021  •  Resenha  •  1.642 Palavras (7 Páginas)  •  1.523 Visualizações

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MASSCHELEIN, Jan; SIMONS, Maarten. Em defesa da escola: uma questão pública. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. Cap. 2. p. 25-103. (compilado).

Desde a Antiguidade a escola é vista como um espaço de invenção. Como uma ferramenta para equipar as crianças com conhecimento por meio de métodos. O mais comum dentre eles é o tradicional espaço escolar traduzido pelo quadro negro, carteiras, crianças e professores em sala de aula. Essa distribuição nos remete a uma questão de ordem, disciplina e obediência. Porém, a escola vai muito além desses conceitos. Ela desempenha papel norteador a fim de se encontrar um lugar na sociedade. Seria um local de iniciação coletiva para nivelar e igualar as diferentes pessoas e sociedades.

Há também a visão generalizada de escola, que é uma invenção política, específica das polis grega. Era um local que pessoas de diferentes esferas da sociedade entravam em contato. Um local que fornecia tempo livre àqueles menos favorecidos na sociedade, onde havia democratização do tempo livre. Por isso e também, a elite tratava a escola com desprezo.

Atualmente a escola é vista como extensão da família, que deveria fornecer um “segundo ambiente de educação”, tem que ser funcional para a sociedade, meritocrática, aristocrática, onde se prepara para o mercado de trabalho e forma bons cidadãos. Mas a escola exerce muito mais que um papel positivista. A escola é um local de equalização e democratização e quer ser vista dessa forma. Um local em que se desenvolve o chamado “Tempo livre”, que, por vezes pode ser visto como tempo improdutivo, mas não o é.

Para Jan Masschelein e Maarten Simons o que seria escola? Antecipamos a resposta no parágrafo supracitado. Seria um local em que se aprende a produzir o tempo livre, a materialização e espacialização do tempo livre, que retira os alunos da ordem social e econômica. Possui objetivo não de esboçar a escola ideal, mas de fazer um local diferente de outros ambientes de aprendizagem. Não se quer salvaguardar uma velha instituição, mas se criar uma escola para o futuro.

A escola é um local onde se prepara para independência. Tomemos como exemplo, o tão experimentado, primeiro dia de aula. Crianças e pais se preparam desde cedo. Os pais deixam os filhos na escola e isso é uma forma de independência, de preparação para uma vida que vai, inevitavelmente, separar pais e filhos. Os rebentos irão para o mundo e os primeiros passos desse processo são dados a partir da experiência escolar.

A escola também é terapia, ocupação do tempo. Como é o caso de escolas para crianças doentes. Muitas delas, pacientes terminais, onde a doença não é lembrada, fica do lado de fora dos muros. O importante neste espaço é promover o tempo e aproveitá-lo para o aprendizado.

Não importa a configuração da escola. O importante é que nela os sujeitos atuantes constroem o tempo escolar, que implica numa suspensão. Nesse ambiente o papel do professor é de imunidade, de isenção, ou seja, as matérias e conteúdos sempre são conhecimentos e competências que devem circular de forma regular, livres e não produtivo. Se ele estiver trabalhando bem na sala de aula, ele atrairá os alunos para o “tempo presente”.

A construção do tempo escolar é sócio-histórica e cultural passível de mudanças e transformações e cabe ao professor libertar aos alunos, permitindo que a separação do passado e do futuro.

E o que seria essa suspensão? O que significa? Significa construir a escola, suspender o peso de todos os tipos de regras e expectativas sociológicas. A escola é uma organização que não garante que todos alcancem o mesmo conhecimento e habilidades, mas ela cria igualdade para que cada um, ao seu tempo, consiga alcançar resultados. São as ditas “brechas no tempo linear”, no qual o espaço escolar aberto e não fixo.

Nesse sentido, a escola tem de ser vista como centro de onde se compreende todas as direções. Ela não é transitória, tampouco temporária ou terá um fim. Neste ambiente não é ideal que se desenvolva, segundo Pennac (2010), o chamado “pensamento ilusório”, que são pensamentos negativos, que inferioriza ou aqueles que emitem comandos ou premissas determinadas. Por vezes uma escuta com atenção é o suficiente para trazer à tona jovens. Pennac (2010, p 50-51) ainda destaca que o ensino é “começar de novo e de novo até alcançar o momento critico em que o professor pode desaparecer”.

O que significa uma lousa e uma carteira dentro de uma sala de aula? Para muitos serviria apenas para reafirmar a ideia de autoridade do professor perante aos alunos ou de um local tradicional, com uma forma antiga de ensinar. Mas, na verdade, também pode ser visto como um local de permissão do imaginário. Um local de “suspensão”, no qual, alunos são levados a invocar um mundo mágico. Saem de seus mundos e entram num mundo novo. Por outro lado, a escola se mostra como um local de possibilidades e liberdade. É quando os autores dissertam sobre o tema profanação.

Nesse sentido, o profano está relacionado como algo ligado ao mundo, acessível a todos, ou seja, público. Um mundo que se abre também como um novo. O estudo, nesse contexto, significa “conhecimento em prol do conhecimento”, “prática em prol da prática”. Simplificando: a escola é espaço para estudo e prática intrinsicamente enraizado na sociedade. Na verdade não há como disseminar esses conceitos e práticas. Eles andam juntos e se complementam.

O ambiente escolar não atende os anseios ou às práticas individuais. Está intimamente ligada às práticas da sociedade. Um exemplo disso é a escola como um local de jogo e regras, com divertimento, mas também seriedade. Há nessa relação o peso da ordem social das leis.

Outro ponto tocado pelos autores é a escola, no tocando do ensino técnico e vocacional, como um lugar no qual o trabalho não está ligado à produção, ou seja, não há uma obrigatoriedade do real. É um exercício, pois ao se fabricar um objeto não há a necessidade deste ser entregue a um cliente, por exemplo. Fabrica-se o objeto por treino, aprendizado de um ofício, mas mesmo assim há regras e disciplina. Quando o aluno do ensino técnico dar forma a alguma coisa ele trabalha e dá forma a si mesmo.

A partir disto, há outra discussão em voga: a diferença entre alunos e aprendizes. A escola é um lugar de “algo”, no qual se transforme em estudo, de uso adequado. Onde se pode começar algo novo.

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