Resenha do texto Os Empresários e a Educação Superior. In: Rodrigues, José. Campinas, SP: Autores Associados, 2007, 112 pp. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo).
Por: NINHA85 • 30/4/2019 • Resenha • 3.630 Palavras (15 Páginas) • 262 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Programa de Pós-Graduação em Educação
Disciplina: Educação e Luta de Classes
Professor: José Rodrigues
Aluna: Carla Guimarães Ferreira
Resenha do texto Os Empresários e a Educação Superior. In: Rodrigues, José. Campinas, SP: Autores Associados, 2007, 112 pp. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo).
O livro é iniciado com um prefácio de autoria de Ronaldo Rosas Reis, intitulado “A universidade vai ao shopping center” e citando o documento que continha ideias para orientar o processo de reforma da universidade brasileira em julho de 2004 (todavia, o autor não deixa de citar a reforma universitária de 1968, conduzida pela ditadura militar, que inaugurou a privatização da educação superior brasileira). Na verdade, a intenção do anteprojeto de reforma universitária era conservar o télos competitivista na educação, herdado do governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso. Competitividade representada por meio da acentuada flexibilização dos mecanismos de captação de recursos financeiros no mercado via universidades públicas, (sobretudo na forma da implementação de cursos de pós-graduação pagos como os MBAs e por meio de transferência de recursos públicos às IES (Instituições de Educação Superior) privadas através de programas como o Fies e o ProUni, que indiretamente compram vagas nas empresas privadas de ensino, por exemplo).
“Notável a extraordinária indiferença e até a naturalidade com que professores, pesquisadores, alunos e funcionários têm aceitado o processo de reconfiguração do espaço físico dos campi universitários” (p. ix).
Segundo Sguissardi e Silva Júnior (2009, p. 18), o cotidiano do sujeito pode ser um lugar que lhe causa alienação, por exigir dele respostas imediatistas. Isto o impede de refletir sobre fenômenos de sua própria prática. Segundo os autores, isso se dá, pois o ser humano age na superficialidade dos fenômenos sociais. Ou seja, não há uma reflexão por parte do docente sobre seu relacionamento com a IFES em que trabalha (IBID., p. 45).
Como a pesquisa de José Rodrigues iniciou-se com o Shopping Nova América, no Rio de Janeiro, Ronaldo Rosas relembra o fato que “o que se observa nos maiores shoppings do Rio de Janeiro é o crescimento da tendência de incorporação de estabelecimentos educacionais privados de todos os níveis ao tradicional mix de lojas” (pp. x-xi). Segundo o professor, as empresas de educação superior têm ocupado o espaço do shopping center atraídas pelo número maciço de jovens ali presentes. Inversamente, os shoppings centers têm adentrado o campus universitário através de livrarias e lanchonetes, bancos, quiosques de financeiras, comércio de roupa, etc. A universidade pública segue a lógica do mercado, invertendo o sentido de ‘demanda social’. Como consequência, mascaram-se as desigualdades sociais e suprimem-se artificialmente as diferenças de classe.
Este processo também indica indiferença e a naturalidade com que esse fenômeno tem sido recebido na academia, muito devido ao acúmulo de cerca de três décadas de intensas campanhas de convencimento da noção de equivalência entre consumo e cidadania. Tal noção, recorrente no discurso pós-moderno de natureza conformista, tem por finalidade tornar palatável o culto ao mercado.
Segundo Rosas, em Os Empresários e a Educação Superior, José Rodrigues traz à memória a máxima de Marx e Engels encontrada no Manifesto Comunista que afirma que “o governo do Estado não é mais que uma junta que administra os negócios comuns de toda a burguesia”. E isto tem sido convenientemente esquecido pela intelligentsia acadêmica e pelos setores do sindicalismo chapa-branca.
José Rodrigues, na apresentação do livro, explica que o objeto empírico de sua pesquisa é o shopping Nova América no Rio de Janeiro – “um signo da economia globalizada onde se comercializam os mais variados produtos – de sanduíches a cursos de graduação” (p. 2). Neste shopping destaca-se uma universidade privada, a maior instituição de educação superior em número de matrículas, a Faculdade Estácio de Sá (UNESA). A receita de seu crescimento conta com fatores como 1) vestibular fácil; 2) mensalidades de baixo custo; 3) campi espalhados por toda cidade, até em shoppings centers; 4) marketing voltado para empregabilidade e (talvez o mais grave): 5) tolerância governamental (principalmente do Ministério da Educação) para com o funcionamento de tais empresas educacionais. O autor analisa o papel dos empresários industriais e dos empresários do ensino. “As análises aqui desenvolvidas revelam que as referidas transformações são em grande parte determinadas pelos interesses do capital em converter a educação superior em uma mercadoria” (p. 3).
José Rodrigues divide seu livro em quatro capítulos, a saber: A Educação-mercadoria e a Mercadoria-educação; Educação superior e os Empresários industriais; Os empresários do ensino e a Educação superior e Mercadoria especial do Governo Lula da Silva.
A Educação-mercadoria e a Mercadoria-educação:
Pode-se resumir educação-mercadoria com a expressão “venda de serviços” e mercadoria-educação sendo análoga a investimento – ambas, segundo o autor, dizem respeito ao modo como o capital encara a educação escolar. A educação é mercadoria (educação-mercadoria) quando o capital comercial tenderá a tratar a prática social educacional como mercadoria. Em síntese, quando as universidades são transformadas em empresas prestadoras de serviço, isto é, de fornecedoras de educação-mercadoria. E se a mercadoria (-) educação é um insumo necessário à produção de outras mercadorias (para a burguesia industrial é o insumo necessário à expansão de seu próprio negócio), como é de costume em um processo produtivo, temos a mercadoria-educação.
No caso da educação-mercadoria tem-se, por exemplo, a venda de vagas em cursos de graduação. Ao se tratar de mercadoria-educação, a expansão rápida de profissionais graduados (insumos) favorece imediatamente o capital industrial e leva a duas consequências: 1) cria um exército reserva de determinada categoria profissional, rebaixando o salário da mesma; 2) graduados sem as devidas qualificações, o capital industrial a médio e longo prazo encontrará dificuldades em seu processo produtivo.
Na década de 1990, houve o ingresso dos empresários (industriais) brasileiros no debate educacional. A década de 1990 foi marcada por uma modernização sistêmica iniciada devido ao aprofundamento
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