VIDA E OBRA DE LEV SEMENOVITCH VYGOTSKY
Por: Sirlene Coutsiers • 20/9/2021 • Trabalho acadêmico • 2.562 Palavras (11 Páginas) • 155 Visualizações
- 2 VIDA E OBRA DE LEV SEMENOVITCH VYGOTSKY
- 2.1 BIBLIOGRAFIA
Lev Semenovitch Vygotsky, foi o segundo filho de uma família de oito irmãos, nasceu em 17 de novembro de 1896 em Orsha, na Bielorrússia. Sua formação primária foi através de um preceptor particular, sendo que os últimos anos foram realizados em uma escola particular judaica. No ano de 1918, aos 22 anos formou-se em Direito pela Universidade de Moscou, mas durante o período acadêmico estudou simultaneamente história e literatura na Universidade Popular e frequentou diversos cursos de filosofia, psicologia, medicina e artes. Destacando-se na época por suas críticas literárias e pelas análises do significado histórico e psicológico das obras de arte, trabalhos que posteriormente foram incorporados, junto a sua tese de doutorado sobre psicologia da arte defendida em 1925, em seu primeiro livro “Psicologia da Arte” escrito entre 1924 e 1925, e publicado na Rússia somente em 1965.
Casou-se com Rosa Smekhova em 1924 e teve duas filhas, faleceu de tuberculose em 11 de junho de 1934, em Moscou na Rússia, aos 37 anos. Vygotsky contraiu tuberculose ao estar em contato com a mãe e o irmão mais jovem, que haviam contraído a doença. Após o diagnóstico até o seu falecimento em 1934, Vygotsky teve várias crises e passou grandes períodos de tempo em sanatórios, mas nunca parou totalmente sua produção, que acontecia por meio de publicações de artigos, palestras, cartas e ditados a seus colegas do instituto. Para ganhar seu sustento, Vygotsky assumiu uma quantidade enorme de trabalhos editorias para editoras e uma pesada carga de aulas que envolviam viagens entre Moscou, Leningrado e Kharkov.
Não podemos deixar de destacar que Vygotsky produziu diversas de suas obras em hospitais e sanatórios superlotados onde era confinado por longos períodos, chegando algumas vezes a permanecer internado por até cerca de um ano, mas, mesmo assim, demonstrou um ritmo de produção intelectual muito intenso. Era auxiliado por alguns colaboradores, dentre os quais se destacam Alexander Luria e Alexei Leontiev. Oboukhova (2006) relata que durante os 14 anos que esteve doente, Vygotsky viveu apenas com um pulmão. Sobre esse contexto, vejamos o trecho de uma correspondência de Vygotsky a Luria, datada de 5 de março de 1926.
[...] à minha volta havia tal situação o tempo todo, que era vergonhoso e difícil pegar uma caneta nas mãos e impossível pensar com sossego... Sinto-me fora da vida, mais precisamente: entre a vida e a morte; ainda não estou desesperado, mas já abandonei toda a esperança. (LURIA apud VAN DER VEER E VALSINER, 1991, p. 52).
Dedicou-se intensamente à pesquisa do mecanismo de transformação das funções psicológicas naturais em funções superiores tais como: memorização lógica e ativa, pensamento abstrato, raciocínio dedutivo, capacidade de planejamento e compreensão da linguagem. (DANIELS, 1994). A sua produção intelectual foi excepcional e, talvez pelo medo diante de uma morte anunciada, desde o final da década de 20 foi abrindo muitas frentes de trabalho, fato que o obrigou a deixar muitas tarefas inconclusas.
Vygotsky é considerado um gênio, pois não tinha formação formal na área e tampouco nenhum treinamento na ciência empirista, que dominava os departamentos de psicologia da época. No entanto, sua formação e conhecimentos literários sobre filosofia, deram-lhe instrumentos suficientes para lidar com a nova disciplina.
A brilhante inteligência de Vygotsky, segundo Newman e Holzman (2002), fora percebida cedo e, sem dúvida, estimulada pela própria família, ele aprendeu com a mãe a falar alemão e a amar a poesia. Ainda adolescente, encenou uma peça teatral, O casamento, de Gogol, publicou críticas literárias, escreveu um ensaio sobre Hamlet, que se tornou a base para sua tese, lia e falava oito línguas, além de conduzir o círculo de estudos judaicos onde passou a se interessar por Hegel e, posteriormente, por Marx. Não podemos deixar de citar neste trabalho, características da personalidade de Vygotsky, ele era atencioso, gentil, possuía excelente memória e sua reconhecida liderança era assinalada por muitos dos que trabalhavam com ele onde ressaltavam o seu forte magnetismo e sua aura genial. Vejamos o que Oboukhova (2006) destaca sobre o assunto:
[...] as palestras de Vygotsky tinham uma enorme popularidade, o auditório não comportava tantas pessoas que estavam interessadas em ouvir suas palestras. Muitas pessoas interessadas ouviam as palestras dele lá fora através das janelas abertas. A esposa e um psicólogo muito conhecido na época, eles contavam que Vygotsky conseguia falar nas palestras dele, cinco, seis horas ininterruptamente. Naturalmente Vygotsky é considerado um gênio (I Seminário Internacional de Psicologia Histórico-Cultural).
A aparição de Vygotsky no II Congresso Nacional de Psiconeurologia marcara, conforme Blank (1996), o segundo período da trajetória biográfica de Vygotsky, dedicada quase que exclusivamente à psicologia. Após sua exposição, ele foi convidado por Kornilov para trabalhar no Instituto de Psicologia. Aceitando o convite, Vygotsky mudara-se de Gomel para Moscou com sua família[1] começando seus trabalhos no instituto, como podemos observar na citação:
[...] no fim do século XIX e começo do século XX apareceram na Rússia vários laboratórios experimentais e que em 1912, por iniciativa de G. I. Tchelpánov, foi criado em Moscou o primeiro Instituto de Psicologia do país, aliado à Universidade de Moscou (LEONTIEV, 1996, p. 427).
Conhecer mais sobre a biografia de Vygotsky, ou sua trajetória ao longo de sua curta vida, nos faz compreender melhor sua teoria, a de uma nova psicologia, voltada para o social com uma visão interacionista, onde desperta no homem o que ele tem de melhor, sua autonomia, sua criatividade, sua condição de sujeito ativo e participativo de sua história, não a condição de objeto a ser moldado. A educação ainda é pensada nos dias de hoje como algo deslocado da vida cotidiana e para que ela exista de verdade, temos que pensar como uma ação transformadora, no sentido de promover o respeito pela diferença e não que ela seja homogênea, igual para todos.
- 2.2 SUA TEORIA HISTÓRICA-CULTURAL
A construção da teoria de Vygotsky iniciou-se num contexto de reconstrução da sociedade russa, onde marcado pela organização da sociedade, por meio de um governo provisório, acabou por representar os interesses divergentes da burguesia, do proletariado e do campesinato. Essa situação conduziu a radicalização das posições proletárias revolucionárias, derrubando o governo provisório e instaurar um governo forte com base no socialismo. Essas lutas de classes ora burguesas, ora socialistas, foi o fio condutor para as análises de Vygotsky, onde buscou de analisar as tendências predominantes psicológicas de sua época […] a dialética abarca a natureza, o pensamento, a história: é a ciência em geral, universal ao máximo. Essa teoria do marxismo psicológico ou dialética da psicologia é o que eu considero psicologia geral. (Vygotsky)
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