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A ANÁLISE DA INFÂNCIA À LUZ DA PSICOLOGIA HISTÓRICO CULTURAL

Por:   •  3/5/2022  •  Artigo  •  4.641 Palavras (19 Páginas)  •  121 Visualizações

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UMA ANÁLISE DA INFÂNCIA À LUZ DA PSICOLOGIA HISTÓRICO                                                                                                         CULTURAL

Daniel Zadorosny Gonzalez GRR:20201087

UFPR – Universidade Federal do Paraná

Introdução

Sob o amparo da Psicologia Histórico Cultural, o estudo do desenvolvimento humano é sistematizado dentro do processo histórico e social de sua formação e das condições materiais nas quais os sujeitos estão inseridos, isto é, a dialética intrínseca à formação do indivíduo em uma realidade de eterno movimento onde tudo se transforma. Nessa perspectiva, o desenvolvimento humano está ligado ao processo de objetivação e apropriação que ocorre na realização da atividade vital humana, geradora e gerada pela história (Duarte, 1999). A atividade vital é fruto das objetivações humanas e é designada por dois aspectos: assegurar a existência do indivíduo que a realiza, bem como a existência da sociedade. Porém, é importante frisar que esses aspectos submetidos às relações sociais de dominação tornam-se alienadamente separados e antagônicos (Marx, 1989, apud Duarte, 1999).

O desenvolvimento do psiquismo humano, do nascimento até a sua formação no final da adolescência, é o que se dedicam a estudar autores da psicologia histórico-cultural como L. S Vigotsky, A. N Leontiev, A. R Luria e D. B Elkonin. Na teoria da periodização desenvolvida pela psicologia histórico-cultural, o princípio do materialismo dialético -o eterno movimento da realidade em que tudo se transforma- concretiza-se pela alternância de período estáveis e críticos proposta por Vygotsky (Pasqualini, 2016). Cada período é caracterizado pela atividade que domina o processo de desenvolvimento psíquico, determinando o vínculo do sujeito com a realidade (Abrantes; Eidt, 2019). As atividades dominantes ou guias de cada período são aquelas em que certos processos psíquicos tomam forma ou são rearranjados e em que ocorrem as principais mudanças na personalidade infantil. Na perspectiva de análise de Vigotsky (1996) o movimento da realidade assume duas formas: a de mudança quantitativa e de mudança qualitativa. Enquanto a atividade se realiza, ocorrem pequenas mudanças imperceptíveis na criança que culminam em uma mudança brusca e repentina, que altera essa relação criança-realidade, fazendo despontar uma nova atividade principal. O espaço entre períodos é chamado em Vigotsky (1996) de crises. Essas crises são marcadas por tensões entre a velha estrutura psíquica, sua reestruturação e a relação do indivíduo com o mundo que se altera no processo. Em psicologia histórico cultural o nascimento do novo refere-se a esse salto qualitativo que ocorre no sujeito. Essas novas formações têm papel central no desenvolvimento que caracteriza a reorganização da personalidade da criança. Vigotsky (1996) chama de linhas centrais do desenvolvimento “processos de desenvolvimento que se relacionam de maneira mais ou menos imediata com a nova formação principal” (Vigotsky, 1996, p. 9). Enquanto as linhas acessórias são aquelas que se ligam a processos e mudanças separadas e secundários na personalidade da criança (Vigotsky, 1996).

A criança que se desenvolve vem a um mundo que é anterior a ela, com objetos e relações historicamente desenvolvidas das quais ela deverá se apropriar movido pelas forças motivadoras do desenvolvimento. Essas forças motivadoras são para Leontiev (1998), o lugar em que a criança ocupa nas relações sociais, caracterizando o estágio existente já alcançado por ela no curso de seu desenvolvimento. Todavia, “o que determina diretamente o desenvolvimento da psique de uma criança é a sua própria vida e o desenvolvimento dos processos reais desta vida.” (Leontiev, 1988, p. 63). “O mesmo processo histórico que torna possível que as pessoas vivam de modo humano, portanto ativo, é aquele que nega que essas ricas possibilidades se expressem como mediações na vida da maioria dos indivíduos, aprisionando-os as circunstâncias e a uma existência aquém das possiblidades históricas, realizando-se como humanos em si, ou seja, que não se reconhecem em sua dimensão ativa, produtora de circunstâncias.” (Abrantes; Eidt, 2019, p. 5)

 A época da infância, dos 3 aos 11 anos, compreende um estágio do desenvolvimento psíquico fundamental para o desenvolvimento da consciência e personalidade. Os jogos de papéis e a atividade de estudo, contemplados como atividades principais dessa época, guiam e orientam o processo de formação do indivíduo, despontando novas formações à medida que este vai mudando seu lugar nas relações sociais. Levando em conta que o desenvolvimento depende dos objetos e relações historicamente determinadas ao ser, é possível levantar certas questões acerca dos métodos pedagógicos aplicados nas escolas que baseiam o ensino na generalização empírica. Concomitante Asbahr (2016), o pensamento teórico é a neoformações observadas no final da atividade de estudo. Porém, as instituições de ensino falham em auxiliar o desenvolvimento dessa formação, alienando o aluno de sua atividade (Davidov, 1988, apud Asbahr, 2016).

O trabalho a seguir tem como objetivo a análise da dinâmica do desenvolvimento psíquico na época da infância, assim como o apontamento da dialética intrínseca desse processo de formação do ser humano. Caracterizando o que é a atividade principal, seus motivos e como ocorre; a dialética do desenvolvimento dos 3 aos 11 anos, as atividades que dominam o processo de formação do psiquismo assim como como ocorre o processo de apropriação dos conhecimentos historicamente desenvolvidos  em uma sociedade de divisão de classes marcada pela alienação.

 O homem

Ao realizar um estudo sobre o desenvolvimento psíquico na época da infância à luz da psicologia histórico cultural é importante destacar a base teórica de análise. À luz  do materialismo histórico dialético proposto por Karl Marx se analisa que o ser humano é a capacidade de ligar-se conscientemente com a sua espécie, com o ser humano genérico. O indivíduo durante o curso de seu desenvolvimento aprende a ser homem pois, nas palavras de Leontiev (1988, p. 267) “O que a natureza lhe dá quando nasce não lhe basta para viver em sociedade. É-lhe preciso adquirir ainda o que foi alcançado no decurso do desenvolvimento histórico da sociedade humana”.

A dialética, como movimento eterno das coisas em contradição e que se transformam, e o materialismo histórico em que o homem e a sua consciência estão condicionados são sintetizadas na atividade humana a partir da dinâmica de objetivações e apropriações.

Inicialmente como seres naturais, a humanidade se sujeitava, como o resto dos animais, às leis naturais biológicas. No curso do desenvolvimento da espécie, em que se iniciava a fabricação de instrumentos, formas iniciais de trabalho e sociedade, houve um momento de virada em que se iniciou o processo de humanização (Leontiev, 1988). Leontiev (1988, p. 262) descreve o processo: “Em resumo, o seu desenvolvimento biológico tornava-se dependente do desenvolvimento da produção. Mas a produção é desde um início um processo social que se desenvolve segundo leis objectivas próprias, leis sócio-históricas. A biologia pôs-se a inscrever na estrutura anatômica do  homem a história nascente da sociedade humana.” . O trabalho, portanto, tem destaque fundamental nessa análise já que, sendo a atividade vital do homem deve primeiro garantir os meios de sobrevivência para este. Diferente da atividade vital dos animais que se satisfazem no consumo dos objetos dispostos na natureza, o homem cria os meios para a satisfação de suas necessidades, realizando assim também, seu primeiro ato histórico (Duarte, 1999). Para Duarte (idem) ao produzir as condições para a satisfação de suas necessidades, o homem acaba por criar uma realidade humana, transformando a natureza e o próprio homem. O homem acaba por se apropriar da natureza, transformando-a ao produzir os meios para a sua sobrevivência, iniciando o processo de humanização. A atividade humana objetivada nesta transformação acaba por se tornar conteúdo de apropriação do próprio homem, ele se apropria daquilo que de humano ele criou, incorporando a dinâmica de objetivação e apropriação na atividade (Duarte, 1999).

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