A ANGUSTIA
Por: Tecylane Kalyne • 26/2/2019 • Resenha • 663 Palavras (3 Páginas) • 318 Visualizações
Ao contrário das reflexões anteriores que legavam à angústia a condição de patologia, o pensamento a coloca como um dos determinantes que trazem a condição humana à nossa presença e nos direciona à categoria de seres livres e únicos. Para os existencialistas, a angústia não é um sentimento negativo, e sim uma experiência valiosa que emerge quando tomamos consciência da nossa condição humana; é um sentimento que nos amedronta diante do “nada” existencial.
A consciência da liberdade é angústia. “A angústia em sua estrutura essencial é liberdade”. Assim, essa consciência não pode ser nada do tipo automaticamente garantido por algum esquema existencial, já que deverei sempre estar consciente da liberdade na constrição da consciência livre.
Em primeiro lugar, ela é um sentimento de certa forma elitista e filosófico, e pouco ou nada tem a ver com aqueles estados nos quais os homens comuns são aterrorizados pelo perigo e pelas asperezas da vida, e que podem ser chamados de angústia, com sentimentos que se experimenta quando uma carta não chega, ou uma criança adoece, ou um emprego ou o país são ameaçados.
Seja como for, tal espécie de angústia é transitória e esporádica, enquanto a angústia a que aludem os existencialistas refere-se à totalidade da existência humana, não apenas a episódios sombrios que podem ou não ocorrer nela. A angústia é o reconhecimento de que as coisas têm o significado que lhe damos, que o sistema através do qual definimos a cada momento a nossa situação é atribuído ao mundo por nós, e que, portanto, não podemos derivar deles a maneira de ser do mundo. Assim, a angústia é deslocada daquelas situações em que uma mãe vê em seu filho ameaçado por uma doença.
A angústia seria, assim, o objeto primário de sofrimento da própria existência, ou ainda a particularidade ou individualidade da condição humana.
Podemos falar de três tipos de angústia: angústia de ser, angústia diante do aqui-agora e angústia da liberdade.
• O fenômeno da existência, por si, deveria dar ao homem o encanto e o discernimento necessário para que ele pudesse viver de modo mais pleno, transformando a própria condição da angustia de ser.
• A angustia do aqui agora, por outro lado, revela um traço da condição humana que pode ser expresso negativa ou positivamente. Negativamente ele significa que, mesmo que existissem objetos eternos, o homem não poderia participar da sua eternidade. Positivamente, que o homem é por natureza um ser temporal. O conceito da humanidade vai ao encontro dos princípios aristotélicos que o concebem como sendo uma abstração vazia. Assim, não há como estabelecer relação vital entre um individuo concreto e uma abstração vazia. O futuro da humanidade é desconhecido, e o individuo não pode se identificar com o desconhecido.
• A angustia da liberdade, de outra parte, é, segundo Sartre, decorrente da necessidade de que o indivíduo é obrigado a optar. A negação da angustia diante da liberdade é a própria negação da liberdade como condição humana. Não se deve, entretanto, confundir a angústia de ser com a angústia da morte, embora a ideia da morte possa evocar e, de fato, amiúde evoque que a primeira. A angustia de ser é propriamente experimentada quando pensamos que nada e ninguém poderiam nunca ter vindo à existência ou que tudo e todos poderiam deixar de existir num instante. Segundo os existencialistas, desde que só Deus poderia dar sentido ao ser, e desde que Deus não existe, o ser é absolutamente sem sentido. Os existencialistas religiosos por outro lado, embora permitam acreditar, por um ato de fé, que Deus existe e para Ele o ser tem sentido, a “incomensurabilidade radical” entre Deus e o homem torna impossível para nós sequer imaginar qual seja esse sentido. A ação humana deve ser vista, assim, como uma reação a determinado estado de coisas e uma tentativa de instauração de um estado ideal de coisas. É também através da angustia que a existência adquire plenitude e contornos específicos de condição libertaria.
...