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A Dimensão Pulsional Do Superego Em Freud E Melanie Klein

Por:   •  24/10/2023  •  Artigo  •  1.832 Palavras (8 Páginas)  •  87 Visualizações

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A DIMENSÃO PULSIONAL DO SUPEREGO

EM FREUD E MELANIE KLEIN

A partir de um determinado ponto do percurso de minha análise

pessoal, há alguns anos, passei a me interessar pela instigante e

misteriosa atuação do superego no psiquismo humano.

Com meu ingresso no curso de formação em psicanálise, e o

consequente aprofundamento no estudo do aparelho psíquico,

aumentou em muito o meu interesse em apreender o funcionamento

dessa instância interditora das renúncias pulsionais, essencial ao pacto

civilizatório, mas que eventualmente vem a se tornar um carrasco

feroz na dinâmica da culpa na neurose obsessiva.

Marcelo Barreto Marques Ameida

Em seu texto de 1923, O Ego e o Id, Freud apresenta o Superego como

instância crítica que compara o Ego com o seu ideal (Ideal do Eu). O Superego é

apresentado como a instância interditora, que impõe a lei e impede a transgressão, mas

que também diz ao sujeito o que deve fazer, imperativos comparados por Freud ao

imperativo categórico Kantiano.

Segundo Freud (2011) , essa instância surge pela identificação em relação aos

pais, ou cuidadores, da criança, sobretudo, e culminando, no processo edípico. Essa

identificação na verdade se relaciona ao caráter e ao que é transmitido por esses adultos.

Para ele, os investimentos pulsionais, tanto sexuais quanto agressivos, são

substituídos por um investimento libidinal na identificação e introjeção das referidas

características, que em grande medida são relacionadas ao próprio superego daqueles

pais ou cuidadores.

Freud situa a formação do superego na dissolução do complexo de Édipo,

quando "Os investimentos objetais são abandonados e substituídos pela identificação. A

autoridade do pai ou dos pais, introjetada no Eu, forma ali o âmago do Super-eu, que

toma ao pai a severidade, perpetua a sua proibição do incesto e assim garante o Eu

contra o retorno do investimento libidinal de objeto" (Freud, 2011, p. 208-209).

Segundo Freud, "O ideal do Eu é, portanto, herdeiro do complexo de Édipo e,

desse modo, expressão dos mais poderosos impulsos e dos mais importantes destinos

libidinais do Id. Estabelecendo-o, o Eu assenhorou-se do complexo de Édipo e, ao

mesmo tempo, submeteu-se ao Id. Enquanto o Eu é essencialmente representante do

mundo exterior, da realidade, o Super-eu o confronta como advogado do mundo

interior, do Id" (Freud, 2011, p. 45).

Aqui neste ponto é interessante observar que Freud, apesar de já ter estabelecido

diferenças entre os conceitos de ideal do ego e superego, ele os usa às vezes como

sinônimos. Sendo o primeiro oriundo de uma identificação mais primária, como um

modelo a ser seguido pelo Eu, e o segundo tendo um caráter mais relacionado com o

modelo interditor, introjetado quando da dissolução do complexo edípico, é curioso que

ele se refira no texto ao Ideal do ego, e não ao superego, como herdeiro do complexo de

Édipo.

O estudo sobre a Segunda Tópica Freudiana trouxe luz sobre essas instâncias

psíquicas, e me elucidou muitos questionamentos relacionados com as interações entre

tais instâncias, em especial aquelas que se dão a nível inconsciente. Por outro lado, me

despertou o desejo de me aprofundar nas questões relacionadas com o superego,

principalmente nas questões que estão subjacentes ao sentimento de culpa na neurose

obsessiva, e ao caráter agressivo do superego.

Ainda em O Ego e o Id, Freud localiza o sentimento de culpa na tensão entre as

expectativas da censura moral e as realizações do Eu:

No curso posterior do desenvolvimento, professores e autoridades

levam adiante o papel do pai; suas injunções e proibições continuam

poderosas no ideal do Eu, e agora exercem a censura moral como

consciência. A tensão entre as expectativas da consciência e as

realizações do Eu é percebida como sentimento de culpa. (FREUD,

2011, p. 46)

Mas Freud também entendia que a agressividade do superego em relação ao ego,

tanto na melancolia como na neurose obsessiva, se apresentava de forma exarcebada,

com uma ferocidade extraordinária. Freud faz a seguinte reflexão e questionamento:

...como acontece de o Super eu manifestar-se essencialmente como

sentimento de culpa (ou melhor, como crítica; sentimento de culpa é a

percepção no Eu que corresponde a essa crítica) e desenvolver tão

extraordinário rigor e dureza para com o Eu (FREUD, 2011, p. 66)?

Em sua teoria, ele também já admitia uma dimensão pulsional ao superego, além

da dimensão relacionada com a ordem moral. Ele entendia que o sadismo presente nos

ataques

...

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