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A Discriminação de Pessoas Transgênero Reflete Preconceito e Ameaça à Distintividade de Gênero

Por:   •  6/3/2023  •  Dissertação  •  9.216 Palavras (37 Páginas)  •  72 Visualizações

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A Discriminação de Pessoas Transgênero Reflete Preconceito e

Ameaça à Distintividade de Gênero

Resumo

Existe evidência de que os homens discriminam pessoas transgênero mais do que mulheres, mas os motivos desse efeito ainda estão por elucidar. Abordamos essa questão num programa de estudos no qual propomos que preconceito transfóbico e da ameaça a distintividade de gênero (PAD) estão relacionados a maior discriminação de pessoas transgênero pelos homens. No Estudo 1 (N = 162) apresentamos uma notícia fictícia sobre vazamento de fotos na internet, na qual manipulamos o sexo (feminino vs. masculino) [a]e a identidade de gênero (cisgênero vs. transgênero) de uma pessoa vítima de vazamento de fotos íntimas na internet. Os participantes homens expressaram maior menor suporte social à vítima trangênero, tendo este efeito sido mediado pelo  preconceito tranfóbico. No Estudo 2 (N = 196), manipulamos a ameaça à distintividade de gênero e medimos o preconceito contra transgêneros, a percepção de distintividade de gênero,[b] o apoio a discriminação, e a atribuição de valor em dinheiro para cirurgia de redesignação sexual. Os homens apresentaram maior preconceito, maior percepção de distintividade na condição de saliência ameaça representada por um homem transgênero, e maior apoio a discriminação. Além disso, observamos que o preconceito e a ameaça a PAD mediaram a relação entre o sexo do participante e o apoio a discriminação. Nossos resultados têm implicações importantes para a compreensão da discriminação contra trangêneros, esclarecendo o papel desempenhado pelo preconceito e pela ameaça à distintividade de gênero na expressão do apoio a discriminação. Os resultados serão discutidos com base na teoria de ameaça intergrupos e teoria da identidade social.

Palavras-chave: preconceito, discriminação, ameaça à distintividade, pessoas transgêneros

Abstract

[…]


A Discriminação de Pessoas Transgênero Reflete Preconceito e Ameaça à Distintividade de Gênero

Embora pessoas transgêneros venham ganhando cada vez mais visibilidade na mídia, na política e na sociedade, muitas vezes, esse fenômeno é acompanhado por percepções de ameaças de grupos majoritários/dominantes por grupos minoritários/subordinados. Quanto mais as fronteiras intergrupos podem ser reduzidas, tal como as diferenças entre cisgêneros e trangêneros, maior a percepção de ameaça que o grupo majoritário pode se sentir.

Meios que favoreçam às pessoas trangênero de alguma forma podem reduzir essas diferenças, ativar a percepção de ameaça intergrupal e, consequentemente, aumentar atitudes negativas e discriminação de transgêneros. Podemos citar, por exemplo, que muitas pessoas se opõem ao uso de banheiros públicos por pessoas trans de acordo com o gênero em que elas se identificam (Outten et al. 2019). Outros exemplos seriam a oposição ao acesso a empregos ou ensino; cirurgias de redesignação sexual; políticas para combater o preconceito; e aumento de pessoas trans na representação política.

O que exatamente essas percepções de ameaça envolvem? A teoria da ameaça intergrupos (Stephan et al,, 2009; Stephan et al., 2015) e a teoria da identidade social (Tajfel & Turner, 1986) abordam a ameaça como variável importante para a expressão do preconceito contra minorias sociais. A teoria da ameaça intergrupos (Stephan et al., 2009; Stephan et al., 2015) enfatiza dois tipos gerais de ameaças que os grupos podem perceber um do outro: ameaça realista ao poder, recursos, segurança ou bem-estar do grupo e ameaça simbólica aos valores, à cultura ou ao modo de vida de um grupo. O exogrupo é considerado uma fonte de ameaça realista quando há preocupações sobre a competição por recursos (por exemplo, "cargos de empregos"), preocupações com a segurança física (por exemplo, "eles estão cometendo crimes"), ou alguma outra combinação (Rios et al., 2018).

As percepções de ameaças realistas e simbólicas tendem a ser fortemente correlacionadas (Stephan et al., 2009; Stephan et al., 2015) e frequentemente coexistem. No entanto, é possível que alguns grupos despertem mais ameaças realistas, enquanto outros grupos, ameaças simbólicas. Por exemplo, a presença de imigrantes no mercado de trabalho, ou o poder e recursos para grupos desfavorecidos seriam mais relacionados a ameaça realista, enquanto o racismo, sexismo, homofobia e transfobia seriam construtos mais relacionados a julgamento de valores questionáveis (ameaça simbólica). A maioria dos estudos sobre ameaças entre grupos não empregou manipulações de ameaças experimentais ou quase-experimentais. No entanto, necessitamos entender como e quando ameaças realistas e simbólicas estão causalmente relacionadas a atitudes negativas entre grupos, bem como as condições sob essas ameaças produzem consequências semelhantes versus divergentes (Rios et al., 2018).

A Teoria da identidade social (TIS) sugere que os membros do grupo são altamente motivados para manter a distintividade intergrupal (Turner et al.,1987). A motivação para manter essa distinção leva as pessoas a desvalorizarem os membros do exogrupo que são percebidos como obscurecendo as fronteiras do grupo, um fenômeno conhecido como ameaça à distintividade positiva (por exemplo, Jetten et al.,  2005). Logo, para a TIS é mais provável que as pessoas demonstrem preconceito entre grupos e tentem distinguir seu próprio grupo dos grupos externos em condições de ameaça (Tajfel & Turner, 1986). A TIS também enfatiza outro tipo de ameaça, a ameaça de status (Ellemers, Spears, & Doosje, 2002), que envolve percepções de que o exogrupo está competindo com o grupo por poder, recursos ou prestígio, sendo semelhante à ameaça realista. Além disso, a necessidade de distinção reativa – que envolve preocupações de que o endogrupo tem muito em comum com os exogrupos para estabelecer ou manter sua própria identidade (Jetten & Spears, 2003).

A TIS também difere da teoria da ameaça intergrupos nos motivos subjacentes à identificação e ao conflito do grupo. De fato, de acordo com a TIS e perspectivas relacionadas (por exemplo, Teoria da Incerteza-Identidade; Hogg, 2014), as pessoas são motivadas a se associar a grupos para maximizar sua autoestima (Tajfel & Turner, 1986) ou reduzir a incerteza sobre suas identidades pessoais e sociais (Hogg, 2014). Nesse sentido, as pessoas trans podem evocar desconforto ou ameaçar os sistemas de crenças conservadoras em relação à sexualidade, papéis de gênero (Rye et al., 2019) e crenças no binarismo do gênero (Tebbe & Moradi, 2012).

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