A EXPERIÊNCIA DA DESCONSTRUÇÃO DO SUJEITO E A LUTA DOS APOSTOS: uma análise psicológica do filme “Divertida Mente”
Por: João Pedro Flávio • 16/11/2018 • Artigo • 1.348 Palavras (6 Páginas) • 526 Visualizações
A EXPERIÊNCIA DA DESCONSTRUÇÃO DO SUJEITO E A LUTA DOS APOSTOS: uma análise psicológica do filme “Divertida Mente”
Dênis Marques da Silva[1]
Eleone José da Silva[2]
João Pedro Flávio Viana Rodrigues[3]
João Vitor Alcântara Jorge[4]
Por meio deste ensaio trataremos de fazer uma abordagem psicológica do filme “Divertida Mente”, e para tal nos apoiaremos na tese de pós-graduação de Barbara Prado Zerbatto (2016), com o título “Divertidamente: um olhar analítico”, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Barbara aponta em sua tese a desconstrução do sujeito pelo processo de mortificatio[5], e, consequentemente, a importância da luta dos sentimentos opostos para a construção de uma personalidade mais sólida. Para atingir tal proposta, a autora faz um comparativo entre as teses de Edward F. Edinger (1990) e de Carl Gustav Jung (2012-2013), com o longa-metragem “Divertida Mente”, da Pixar Animation Studios, que por sua vez utilizaremos nesse ensaio.
Ao fazer uma análise do filme “Divertida Mente” na área da psicologia analítica, Barbara ressalta a importância da desconstrução do sujeito para a formação de uma personalidade mais sólida. Para isso, ela apresenta a tese de Edinger sobre as reações alquímicas, citando especificamente a experiência de mortificatio:
A mortificatio é a mais negativa operação alquímica. Está vinculada ao negrume, à derrota, à tortura, à mutilação, à morte e ao apodrecimento. Todavia, essas imagens sombrias com freqüência levam a imagens altamente positivas – crescimento, ressurreição, renascimento. (EDINGER, 1990, p. 166).
Ao passar pela experiência de mortificatio algo novo pode surgir, por em dúvida as vivências anteriores, “matá-las”, dando-se “vida” a uma nova experiência. Segundo Edinger, somente ao passar pela escuridão pode-se surgir a luz, ou seja, somente por uma experiência psicológica negativa que se pode chegar a contemplar o crescimento da personalidade.
No filme “Divertida Mente”, Riley dá início a sua experiencia de mortificatio no momento em que coloca em confronto seus sentimentos ao mudar-se de cidade. A mudança causa em Riley uma desestruturação emocional, fazendo com que seus sentimentos entrassem em um grande conflito e que sua personalidade fosse destruída ao longo do filme.
Os diretores do longa-metragem apresentaram a personalidade por meio das chamadas ilhas de personalidade. Essas ilhas são formadas após o armazenamento de uma memória base, ou seja, memórias que possuem grande importância para a formação psicológica do sujeito. Ao serem criadas, as ilhas de personalidade definem conceitos da personalidade do indivíduo, atribuindo-lhe valores como a família, a honestidade, a amizade. Durante a crise, as ilhas de personalidade de Riley vão apagando-se e desmoronam, fazendo com que a personagem perdesse a qualidade que havia se desmoronado. Mas, ao pedir perdão aos seus pais e desistir da tentativa de fuga, a personalidade de Riley reconstrói-se, ficando assim, mais sólida:
É necessário destruir, desmoronar para que o novo surja. É através da “morte” que o renascimento se faz possível e utilizando o processo alquímico como metáfora para as transformações interiores e da psicoterapia, com suas fases e operações, é na fase da nigredo que esses desmoronamentos ocorrem. (ZERBATTO, 2016, p. 48).
Para que o processo de reconstrução pudesse ocorrer, a luta entre os opostos, sendo eles Alegria e Tristeza, possuiu grande importância na mente de Riley. Segundo Jung (2013, OC XVI/1, § 185) é necessário encontrar uma harmonia entre os opostos, afirmando que “[...] a plenitude da vida exige um equilíbrio entre sofrimento e alegria.”
Ao início do filme, apenas Alegria era o sentimento mais importante, tudo deveria passar por seu comando, criando um mito de que a protagonista só seria feliz caso a própria Alegria estivesse coordenando. Mas, ao ser sugada para fora da Sala de Controle, junto com Tristeza, os dois sentimentos passam por um processo de readaptação.
Durante quase todo o percurso da trama, a Alegria sente-se como a salvadora da vida de Riley, que apenas ela poderia modificar a situação, excluindo completamente Tristeza. Mas, em alguns trechos específicos, Tristeza, ao permitir que Bing Bong (antigo amigo imaginário de Riley) vivesse o seu momento de mágoa como deveria vivê-lo, permite que este continue seu caminho, enquanto que Alegria, ao tentar anima-lo, não permite um espaço para que ele viva um momento de profunda reflexão interna. Segundo Barbara (2016, p. 51), “é necessário, muitas vezes, recolher-se, fechar-se para depois conseguir prosseguir. Se por um lado a tristeza possibilita a empatia, em seu extremo ela paralisa o sujeito, acabando com qualquer possibilidade de relacionamento interpessoal”.
Ao final da trama, percebe-se que somente por meio da união dos opostos, após passar pelo processo de mortificatio, que a personalidade de Rilley possa ser constituída solidamente:
O processo psicoterapêutico também é um “alternar-se para melhorar”. A pessoa é jogada para lá e para cá entre os opostos, de modo praticamente interminável. Mas surge, de maneira deveras gradual, um novo ponto de vista que permite a experiência dos opostos ao mesmo tempo. Esse novo ponto de vista é a coniunctio[6], e ao mesmo tempo em que é libertador, também é uma sobrecarga. (EDINGER, 1990, p. 232).
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