A EXPRESSÃO DA FRUSTRAÇÃO ADOLESCENTE DIANTE O IMEDIATISMO DE CONSUMO
Por: Caroline Belekewice • 22/2/2020 • Artigo • 3.711 Palavras (15 Páginas) • 316 Visualizações
CENTRO DE EDUCAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE FOZ DO IGUAÇU - CESUFOZ
ANA CAROLINE BELEKEWICE
KASSIA DE PAULA TOITO GOMES
A EXPRESSÃO DA FRUSTRAÇÃO ADOLESCENTE DIANTE O IMEDIATISMO DE CONSUMO
THE EXPRESSION OF ADOLESCENT DISAPPOINTMENT AT THE IMMEDIACY OF CONSUMPTION
RESUMO: O propósito desse artigo é tratar do fenômeno da adolescência e toda a complexidade que a fase envolve, demonstrado por diferentes conceitualizações, através de renomados estudiosos do assunto, tendo como objeto delimitado a Psicanálise. O desenvolvimento do trabalho se dá na pesquisa que aborda o adolescer, a frustração e o apelo consumista na contemporaneidade, apresentado como referência mais substancial a base dos estudos winnicottiano acerca da adolescência.
Palavras-Chave: Psicanálise, Frustração, Adolescente, Consumo
ABSTRACT: The purpose of this article is to address the phenomenon of adolescence and all the complexity that the phase involves, demonstrated by different conceptualizations through renowned scholars of the subject, having as its object delimited psychoanalysis. The development of the work takes place in research that addresses adolescence, frustration and consumerist appeal in contemporary times, presented as the most substantial reference the basis of Winnicott's studies on adolescence.
Keyword: Psychoanalysis, Frustration, Adolescent, Consumption
A ADOLESCÊNCIA
Atualmente nossa sociedade pode ser caracterizada pela hegemonia das tecnologias, da informação rápida, pela realidade virtual, pelas máquinas, smartphones, pelo questionamento da ascendência da cultura superior, onde o conhecimento científico é só mais um conhecimento, determina modos específicos de subjetivação que são próprios dessa época (Sennett, 1975; Tajfel, 1984; Giddens, 2002; Hall, 2002).
As crianças e adolescentes crescem em meio a uma cultura que é caracterizada pela indústria de informação, posse de bens materiais, culturais, lazer e principalmente o consumo, onde a ênfase está no presente, na velocidade, no aqui e agora. A subjetividade desses seres, então é construída na relação como outro num tempo e espaço social específico.
Segundo Ariès (1986) o conceito de infância de adolescência é uma invenção da sociedade industrial, ligado a leis trabalhistas e o sistema educacional, a especificidade da adolescência foi reconhecida e emergiu com o processo de escolarização, foi necessário a separação dos adultos e dos seres em formação. Esse processo ocorreu inicialmente com as famílias burguesas, para excluir as crianças do mundo do trabalho. Logo depois, estendeu-se para toda a sociedade e se impôs como um modelo de organização social.
Atualmente, o jovem e o adolescente adquiriram o status de dependentes. Segundo Castro (1998), a criança vai à escola, brinca, mora com a família e não possui nenhuma responsabilidade, contudo sabemos que socialmente existe a concepção de que as crianças e os adolescentes devem ser disciplinados para tornarem-se adultos. A criança deve ser submetida a socialização, assim conseguirá a transmissão da cultura e garante a continuidade da sociedade. A escola e a família são as responsáveis por esses processos disciplinadores e educativos (Lash, 1991).
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a adolescência é um período de transição da infância para a vida adulta, é caracterizada pelo desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social do indivíduo. Ocorrem também as mudanças corporais. Para a OMS, o indivíduo entre 10 e 19 anos é considerado adolescente. Já para a ONU (Organização das Nações Unidas) é entre 15 e 24 anos, (este é usado principalmente para questões políticas e estatísticas). No Brasil, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) considera adolescentes indivíduos de 12 à 18 anos, segundo a Lei 8.069 (1990).
Para a psicanálise, a adolescência é vista como um processo crucial na formação da subjetividade. Onde envolve reconhecer o próprio corpo, as relações - tanto sociais como familiares - conduzindo o adolescente a reposicionamento em relação a alteridade.
A adolescência para Aberastury (1990) “é um momento crucial na vida do homem e constitui a etapa decisiva de um processo de desprendimento” (p.15). A adolescência atualmente é tida como uma fase do desenvolvimento humano onde o indivíduo busca pela sua identidade, sexualidade, desejo de adquirir independência das figuras parentais, o pertencimento a um grupo, a irresponsabilidade, entre outros. O imediatismo pelo consumo vem com o desejo de pertencimento aos grupos em que muitas vezes o adolescente está tentando se inserir.
Yates (1995) chefe do serviço de psiquiatria infantil da Universidade do Arizona - Escola de Medicina - cita que de acordo com a psicanálise, a adolescência é um período onde os jovens regridem para reviver o Complexo de Édipo, porém, apesar da regressão inicial, a grande maioria dos adolescentes não atingem um nível de perturbação que possa ser qualificado como turbilhão adolescente. Os pais precisam compreender que nesta fase, os adolescentes passam por um período de profunda dependência e que precisam deles tanto ou até mais do que quando eram bebês, essa dependência pode ser seguida de uma necessidade de independência, os pais devem ser apenas espectadores ativos, e ao ceder à dependência ou à independência não se baseiam em seus estados de ânimo, mas sim nas necessidades do adolescente.
A revivência do conflito edipiano, a maturação da genitalidade, a dificuldade ou facilidade de fazer luto das imagens parentais, as oscilações de eventos narcísicos, problemas com a identificação de identidade e a definição do seu papel social vão fazer reviver as velhas dificuldades e surgirão novas, por isso o suporte de identificação adulto é tão importante e decisivo no destino dos adolescentes.
Davis (1982) diz que a adolescência é um momento de nova adaptação, é nesse momento que o adolescente tem necessidade de maiores cuidados, pois a vulnerabilidade do eu requer amparo do ambiente, ele está tentando ser alguém, constituir-se em um eu dentro e inserir-se dentro de um grupo, por isso, necessita de um ambiente firme, seguro e suficientemente bom.
A arrogância, a hostilidade, mentira e ironias também surgem neste período, pois segundo Dias (2003) o adolescente repete certos padrões de estágios primitivos, pois padece do sentimento de irrealidade, tendo como principal luta sentir-se real, pois estão em busca da sua verdade.
Portanto, para Winnicott não tem como “curar” o adolescente, pois trata-se de comportamentos normais, que requerem atenção, firmeza e apoio dos pais ou cuidadores. O autor diz que somente o amadurecimento faz tudo isso passar. Como podemos ver a seguir: “De fato, existe somente uma cura real para a adolescência: o amadurecimento. Isso e a passagem do tempo resultam, no final, no surgimento da pessoa adulta” (Winnicott, 2005, p. 163).
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