A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA
Pesquisas Acadêmicas: A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 21/11/2013 • 2.236 Palavras (9 Páginas) • 2.436 Visualizações
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA
Resumo
O brinquedo e as brincadeiras possuem valor significativo para o desenvolvimento saudável e gera bem estar na criança. O brincar para a criança não é somente um passatempo, envolve significações funcionais e linguísticas. O pensamento de ação antecede a fala, logo a criança utiliza do brinquedo para desenvolver a linguagem. A fala é expressa por meio do brincar.
Outro aspecto importante relacionado ao brincar, é a influência da brincadeira, onde se desenvolve sua atividade motora. A criança usa do plano da ação (o brincar), como meio de desenvolver o plano das representações, o simbólico. Daí surge sua assimilação de mundo, dos outros e de si mesma.
Palavras-chaves: Psicologia - Brincar – Criança – Boneco- Desenvolvimento
Abstract
The toy and games have significant value for the healthy development and child's well-being. Playing for the child is not just a hobby, it involves functional and linguistic meanings. Thought action precedes speech, so the child uses the toy to develop language. The speech is expressed through playing.
Another important aspect related to playing, is the influence of the game, it develops its motor activity. The child uses the plan of action (playing) as a way of developing the representations plan, the symbolic. Hence arises the assimilation of the world, the others and itself.
Key words: Psychology - Play - Child - Doll – Development
Introdução
Para Deleuze, filósofo francês, a criança traça seu próprio caminho usando diversos meios para isso:
A criança não para de dizer o que faz ou tenta fazer: explorar os meios, por trajetos dinâmicos, e traçar o mapa correspondente. Os mapas dos trajetos são essenciais à atividade psíquica. O que pequeno Hans reivindica é sair do apartamento familiar para passar a noite na vizinha e regressar na manhã seguinte: O imóvel como meio. Ou então: Sair do imóvel para ir ao restaurante encontrar a menininha rica, passeando pelo entreposto de cavalos - a rua como meio. Até Freud considera necessário introduzir um mapa. (DELEUZE, 1993/1997, p. 73)
Este trabalho tem como propósito expor qual a importância que o brincar exerce no desenvolvimento da imaginação, da interação social, da criatividade, da fantasia, do desenvolvimento motor, da aprendizagem de regras, bem como no desenvolvimento da criança como um todo.
Brincar em Vigotsky
Lev Vigotsky, nascido em 1896 na cidade de Orsha na Rússia, matriculou-se na faculdade de medicina, porém graduou-se em direito. Estudou e deu aulas de literatura, história da arte e filosofia ,fundou um laboratório de psicologia , ganhando nesta área grande destaque por sua inovação e mais de 200 trabalhos científicos. Vigotsky vai dizer que a cultura se integra ao homem pela atividade cerebral e que esta é mediada pela linguagem, construindo os conceitos de interação, mediação, internalização e zona proximal para fundamentar sua teoria. (VYGOTSKY apud FERRARI, 2008 )
O grupo escolheu este autor por causa de sua obra: Pensamento e Linguagem (1934) pois ele irá abordar o desenvolvimento intelectual da criança, apontando que este desenvolvimento acontece através de trocas, o agir é antes o interagir e o brincar para a criança irá auxiliar nesta interação com o meio que é, de acordo com o pensador Vigostky, mediada pela linguagem.
O brincar, para Vigotsky (1934/1998), proporciona muitos benefícios para as crianças. A partir da interação lúdica com o brinquedo a criança começa a desenvolver habilidade cognitiva e capacidades importantes como atenção, memória, imitação e a imaginação. O brincar para a criança não é somente um passatempo, envolve significações funcionais, linguísticas.
Em primeiro lugar, as crianças com menos de sete ou oito anos não mantém uma vida social estável; em segundo lugar, a verdadeira linguagem social da criança, isto é, a linguagem que ela utiliza em sua atividade fundamental - o brinquedo -, é uma linguagem de gestos, movimentos e mímica, tanto quanto de palavras. (VIGOTSKY, 1934/1998, p. 19)
Estudos filogenéticos apontam que o pensamento e a fala não progridem paralelamente (VIGOTSKY, 1934/1998). Eles progridem em curvas, que se cruzam ocasionalmente, evoluem num mesmo ponto de convergência, mas ocasionalmente também se separam. O que se entende é que a criança, ao brincar, organiza seus pensamentos, ou seja, é o seu modo de associar a fala ao pensamento dando origem à linguagem.
Cria-se um pensamento de ação que antecede a fala. Logo a criança utiliza do brinquedo para desenvolver a linguagem. A fala é expressa por meio do brincar (BUEHLER apud VIGOTSKY, 1934/1998).
Costumava-se dizer que a fala era o princípio da hominização, talvez sim, mas antes da fala há o pensamento associado à utilização de instrumentos, isto é, a compreensão das relações mecânicas, e a criação de meios mecânicos para fins mecânicos, ou, em resumo, antes do aparecimento da fala a ação se torna subjetivamente significativa - em outras palavras, conscientemente intencional. (BUEHLER apud VIGOTSKY, 1934/1998, p. 54)
Para Vigotsky (1934/1998) é na infância que ocorre o desenvolvimento da fala e do pensamento, respectivamente estabelecendo a fase pré-intelectual, e a fase pré-linguística. O brinquedo influencia nesse desenvolvimento, sendo o instrumento de solidificação para organização do seu pensamento.
Ainda segundo Vygotsky (1989), o brinquedo não é apenas uma atividade simbólica, uma vez que, mesmo envolvendo uma situação imaginária, ele de fato baseia-se em regras, pois contém regras de comportamento pré-estabelecidos.
Brincar em Piaget
Jean William Fritz Piaget, nascido em Genebra no ano de 1896, foi um grande expoente do estudo do desenvolvimento cognitivo. Começou seus estudos na área biológica e posteriormente migrou para as áreas da Psicologia, Epistemologia e Educação. Atuou como professor na Universidade de Genebra de 1929 a 1954 e ficou mundialmente conhecido por sua revolução epistemológica. Foram mais de cinquenta livros e centenas de artigos assinados pelo autor. O grupo escolheu Piaget por sua grande importância no estudo do desenvolvimento da criança, utilizando os métodos da visão interacionista, dizendo que a adaptação da realidade externa depende basicamente do conhecimento. Os estudos de Piaget mostram que o conhecimento se desenvolve desde as rudimentares estruturas mentais encontradas no recém-nascido até o pensamento lógico formal do adolescente.
Segundo Piaget (1997) ao solicitar a uma criança de 4-5 anos que represente o trajeto que faz todos os dias de casa à escola e vice-versa, por um conjunto de pequenos objetos tridimensionais de papelão (casas, igrejas, ruas etc.) ou que indique o plano da escola, como se vê pela entrada principal ou do lado do rio, ela não consegue reconstituir as relações topográficas que utiliza incessantemente em ação: as lembranças, de certo modo, são motoras e não chegam, simplesmente, a uma reconstituição simultânea de conjunto. O primeiro obstáculo à operação consiste, pois, na necessidade de reconstruir neste novo plano, que é o da representação, o que já fora adquirido no da ação.
A criança usa do plano da ação (o brincar), como meio de desenvolver o plano das representações, o simbólico, que acontece só mais tarde.
Ainda segundo Piaget, há uma fase do aparecimento da chamada função semiótica, que é:
Um conjunto de condutas que supõe a evocação representativa de um objeto ou de um acontecimento ausente e envolve, por conseguinte, a construção ao emprego de significantes diferençados, visto que devem poder referir-se não só a elementos não atualmente perceptíveis, mas também aos que se acham presentes. (PIAGET, 1997, p. 52)
A imitação diferida é uma conduta de imitação sensório-motora, onde a criança faz primeiro a observação e depois a representa. Um exemplo é quando a criança faz o movimento de bater os pés no chão. Nesse exemplo não há necessariamente uma representação em pensamento. Já o jogo simbólico, consiste na representação que é uma imitação, porém com objetos que vão se tornando simbólicos. Essas são duas condutas que exemplificam a função semiótica na criança. O jogo simbólico é o apogeu do jogo infantil que transforma o real por assimilação mais ou menos pura às necessidades do eu (PIAGET, 1997).
Para a criança, o brincar é uma forma de comunicação consigo mesma e com o mundo, e neste momento a criança tenta se inserir no mundo adulto e como se vê impedida, utiliza o brincar para entrar neste campo, sendo a criança um ser interativo, o brincar se torna seu instrumento de interação (PIAGET, 2003).
A importância da Neuropsicologia no desenvolvimento da criança
Ao longo do desenvolvimento do sistema nervoso, ocorrem várias transformações que são pautadas entre o antes e o depois do nascimento da criança e que resultarão em várias interações entre as heranças biológicas e sócio-histórico-cultural que exercerão influências importantes no processo de aprendizagem da criança. Como a neuropsicologia é uma ciência que investiga o sistema nervoso, comportamento e cognição, sua contribuição para o desenvolvimento do ser humano é de grande valia e, levando em consideração o tema ora proposto, ela se torna fundamental para a criança, que tem o cérebro em desenvolvimento, plástico, capaz de reorganizar padrões e sistemas de conexões sinápticas proporcionando uma readequação do crescimento do organismo às novas capacidades intelectuais e comportamentais que a criança vai adquirindo.
O desenvolvimento do sistema nervoso inicia-se com poucas células do embrião que chamamos de células-tronco neurais, onde, ainda no útero sofre um explosivo crescimento podendo atingir a centenas de bilhões de células, com grande capacidade de auto-renovação. O cérebro infantil tem uma quantidade enorme de sinapses, e são essas sinapses aliadas às conexões que os neurônios conseguem estabelecer entre si é que formarão as redes neurais que possibilitarão o aprendizado. Além dos fatores genéticos o sistema nervoso também recebe influência de fatores ambientais que possibilitarão a interação das regiões cerebrais que promoverão alterações das estruturas celulares, e por mecanismos envolvidos na aprendizagem eventos do ambiente poderão mudar o comportamento. Ao brincar, a criança desenvolve juntamente às figuras representativas um ambiente que poderá lhe proporcionar um aprendizagem diferente do ambiente formal.
A neuropsicologia tem importantes contribuições no conhecimento mais amplo da atividade mental infantil, permitindo ainda a detecção de problemas comportamentais e de aprendizagem e sua relevância está no reconhecimento dos quadros clínicos caracterizados sobre as bases anátomo-funcionais do cérebro.
“O cérebro humano é um sistema complexo que estabelece relações com o mundo que o rodeia por meio de fatores significativos como: a especificidade das vias neuronais, que da periferia levam ao córtex informações provenientes do mundo exterior; e, a especificidade dos neurônios, que permitem determinar áreas motoras, sensoriais, auditivas, ópticas, olfativas, etc, estabelecendo inter-relações funcionais exatas e ricas que são de extrema importância para o aprendizado”. (Ciasca, S.M.2003)
O brincar, como um importante meio de comunicação, proporciona à criança reproduzir o seu cotidiano, autonomia, criatividade, a construção da reflexão, a motricidade. O ato de brincar e a interação com o brinquedo causam na criança uma sensação de felicidade. Essa alegria é induzida à partir de uma resposta à visualização de imagens agradáveis para o indivíduo e da identificação de expressões de felicidade em outras pessoas, além de uma estimulação competitiva bem-sucedida. Essa indução é provocada à partir da ativação dos gânglios basais, incluindo o estriado ventral e o putâmen (Phan KL, Wager T, Taylor. 2002)
O Brinquedo
A escolha deste brinquedo se deu pela observância das fisionomias de alguns ‘’smiles’’ ( figurinhas de rostos de bonecos com a fisionomia feliz, triste , bravo etc), foi quando o grupo teve a ideia de juntar todas as fisionomias em um só boneco. Pensando-se em alguma forma para que a criança tivesse interação com o brinquedo, e ao mesmo tempo tivesse uma função.
O boneco tem a função de ser uma ferramenta para verificar as variedades de humor, onde a criança se vê no espelho, que vem junto ao brinquedo. Com o auxilio de um adulto ou psicólogo, que pergunta à criança como ela está se sentindo frente ao espelho, a criança mostra qual a fisionomia do boneco mais assemelha a dela.
Segundo o ICCP (Centro Nacional de informação sobre o Brinquedo), a partir de 1981, os brinquedos são classificados da seguinte forma: funcionais, experimentais, de estruturação e de relação.
Podem ser considerados funcionais à medida que se adaptam ao corpo da criança, tanto pela forma como pelo tamanho. Os experimentais são os que promovem diferentes possibilidades, ou seja, o que a criança pode fazer com os mesmos. Os de estruturação são aqueles que auxiliam no desenvolvimento do equilíbrio emocional dos pequenos, na estruturação de sua personalidade e nas suas relações afetivas. Já os de relação são os que auxiliam os relacionamentos entre a própria criança e o brinquedo, e desta com outras pessoas, sejam crianças ou adultos. O boneco criado pelo grupo se encaixa na classificação de brinquedo de estruturação e também no de relação.
O boneco é apropriado para crianças que estão no estágio pré- operatório (entre 3 e 7 anos), pois nesse período, segundo Piaget, a criança adquiri a linguagem socializada, que é aquela que pode ser compreendida pelas outras pessoas de uma mesma cultura¹, podendo assim dizer ao adulto como se vê no espelho. Ainda segundo Piaget, a verbalização que acompanha a ação (a criança pega o espelho, se olha e diz ao adulto como se viu de acordo com as faces contidas no brinquedo), a ação pode ser entendida como um treino de esquemas verbais recém-adquiridos como uma passagem gradual do pensamento explícito (motor), para
o pensamento interiorizado. É nesse período também que a criança tem na brincadeira a representação do real. Ela vê a representação de quando está triste, feliz ou bravo, na própria fisionomia do boneco. É dessa forma que se apresenta o brinquedo como um grande estimulador da curiosidade, da iniciativa e da autoconfiança, e proporciona aprendizagem, desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção.
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