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A Psicologia Social Comunitária

Por:   •  5/5/2019  •  Trabalho acadêmico  •  4.374 Palavras (18 Páginas)  •  350 Visualizações

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        INTRODUÇÃO

  1. – Objetivos

A pesquisa tem como objetivo estabelecer histórica e criticamente o campo de pesquisa de intervenção da Psicologia Comunitária no Brasil e na América Latina. Com foco na identificação e discriminação dos fundamentos e das práticas de investigação e intervenção social psicológica. Avaliação das práticas de intervenção realizadas no campo das Políticas Públicas de Assistência Social de acordo com os pressupostos epistemológicos, metodológicos e políticos das tradições brasileira e latino-americana de Psicologia Comunitária. Reconhecimento da função técnica e política da ação do psicólogo no âmbito das Políticas Públicas de Assistência Social.

Temos como ponto de partida, para a elaboração desse projeto, a ideia de que “a relação entre produção teórica e aplicação do conhecimento parte-se do pressuposto de que o conhecimento se produz na interação entre o profissional e os sujeitos da investigação” (CAMPOS, 1996) e o conceito de promoção de saúde.

  1. – A Psicologia Comunitária

O conceito de comunidade passou por uma grande trajetória até se tornar o que conhecemos hoje, e não devemos analisar fora do contexto econômico e político do Brasil e da América Latina, que foi de extrema importância para seu estopim. No início de seu capítulo, Freitas (1996) aponta o começo da década de 50 em que mundo estava passando por um período pós 2ª Grande Guerra, um momento muito complicado em que se instaurou a Guerra Fria posteriormente gerando uma grande tensão na população global. O Brasil passava por mudanças modelo produtivo: do agropecuário para agroindustrial. Projetos nas áreas educacionais e assistenciais são introduzidos sob a coordenação do Estado para preparar os setores populares para esse novo modelo econômico.

Ainda nesse período, Juscelino Kubitschek colocou em vigor seu plano de metas, que tinha como objetivo desenvolver o país 50 anos em 5, “...ao mesmo tempo em que o país já assiste ao crescimento da inflação, do desemprego e da sua pobreza, em ritmo acelerado.” (FREITAS, 1996, p.57).

        Na década de 60 ocorreram constantes manifestações populares com confrontos políticos e projetos buscando desenvolver uma consciência crítica na população eram desenvolvidos na área educacional. Freitas (1996) ainda cita os trabalhos de Paulo Freire no nordeste do país de “Educação popular e de adultos” e sua “Experiência pedagógica”. É nesse âmbito sociopolítico que se dá em 1962 o reconhecimento oficial da Psicologia como profissão no Brasil. Os primeiros modelos metodológicos em grande maioria eram importados dos EUA, havendo pouca participação das produções europeias. Tradicionalmente, a psicologia no Brasil se estruturou na prática nos consultórios, organizações e ambientes educacionais.

Em 1964 instaurou-se o regime militar no Brasil que trouxe um terror político e cultural e o fim de diversos direitos civis da população. Ao redor do mundo várias manifestações contra regimes totalitários nos países subdesenvolvidos e em toda a América Latina. Ocorre assim, em meio ao caos, o início da inserção do psicólogo no contexto da comunidade afim de tornar a psicologia mais próxima da população e visando a deselitização da profissão. Freitas (1996) traz os trabalhos desenvolvidos junto às populações de baixa renda, provenientes de professores e alunos de Psicologia da PUC, que geralmente estavam inseridos nos núcleos de pesquisa, como exigência de estágio e trabalhos de conclusão de curso - importante salientar que esses trabalhos eram voluntários e não remunerados. Ainda nesse contexto surge em vários países da América Latina o conceito de “Psicologia Comunitária” como proposta de abordar uma atuação de forte cunho assistencialista e manipulativo, atendendo as populações carentes.

        Na década de 70 há maior incidência dessas intervenções na comunidade em que a prática não é mais feita apenas pensando na deselitização da profissão. Freitas (1996) cita que os psicólogos voluntários envolvidos nessas intervenções eram comumente empregados no contexto acadêmico, proporcionando assim um ambiente de discussão e reflexão nas universidades sobre prática do psicólogo na comunidade e de seu compromisso social e político.

        No início da década de 80, a professora e doutora Silvia T. Maurer Lane cria a ABRAPSO (Associação Brasileira de Psicologia Social) para que houvesse uma definição e especificidade dessa prática psicológica. A ABRAPSO foi um marco importante para construção de uma psicologia social crítica, histórica e comprometida com a realidade concreta da população. Assim, vários encontros regionais e nacionais provenientes dessa associação ocorrem pelo país todo nos quais eram apresentados os trabalhos até então desenvolvidos, discutidos praticados sobre e o papel do psicólogo na sociedade (FREITAS, 1996).

        Após a ditadura, o Estado começa a inserir o psicólogo nas instituições públicas e a Psicologia assume caráter de profissão da saúde. Os anos 90 foram marcados por uma diversidade teórica, epistemológica e metodológica no desenvolvimento desses trabalhos em comunidades. Foi uma quebra do modelo clínico clássico, e o psicólogo assumia em nível primário o papel de buscar a promoção de saúde biopsicossocial, engajado em proporcionar condições favoráveis à qualidade de vida e gerar autonomia no sujeito (CAMPOS, 1996).

        A mestre e doutora em psicologia social Bader Sawaia no livro “Psicologia Social Comunitária da solidariedade à autonomia” (1996) mapeou diacronicamente o termo comunidade e, para ela, comunidade é mais do que uma categoria de ciência-analítica, é um orientador de ação a partir da reflexão do contexto social na qual está inserindo. O termo comunidade abrange todas as formas de relacionamento, integrando a pessoa em sua totalidade e sendo a fusão do sentimento, pensamento, tradição e de sua ligação com o meio dando vida a dialética da individualidade e da coletividade.

        A relação com o espaço geográfico não é fundamental para configurar uma comunidade, mas sim sua vida cotidiana realizada em forma concreta. Segundo Sawaia (1996, p. 51):

Nessa perspectiva, comunidade apresenta-se como dimensão temporal/espacial da cidadania, na era da globalização, portanto, espaços relacionais de objetivação da sociedade democrática (plural e igualitária).

A base da psicologia comunitária procura fazer valer a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a igualdade independente do grupo da qual o indivíduo está inserido. O psicólogo dentro da comunidade entra como um mediador, são os próprios moradores que escolhem as pautas que serão discutidas e analisadas, tem como função, informar e levantar questionamentos sobre seus direitos como indivíduos pertencentes de um grupo, busca despertar a consciência crítica e contribuir para a formação da identidade social e individual do sujeito (LANE, 1996).

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