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Escuta Psicológica dos acompanhantes de pacientes na emergência do Hospital

Por:   •  16/2/2018  •  Artigo  •  1.837 Palavras (8 Páginas)  •  297 Visualizações

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Escuta psicológica dos acompanhantes de pacientes na emergência do Hospital de Trauma de Campina Grande

 Márcia Candelaria da Rocha

Introdução

A sala de espera de hospitais, em geral, é um espaço carente de atenção para com quem ali se encontra aguardando por notícias de um parente em atendimento, interno ou que tenha se submetido a tratamentos e/ou procedimentos cirúrgicos. Necessita-se de um trabalho que acolha esses indivíduos proporcionando-lhes o suporte necessário para minimizar seus sofrimentos e preencher o tempo ocioso da espera. Torna-se o lugar ideal para exercitar a capacidade de observação e posteriormente traçar um instrumento de ajuda.

Segundo Moreira Jr. (2001), a sala de espera se configura como um espaço de conversação e troca de experiências, onde os pacientes e seus acompanhantes podem refletir sobre o processo de saúde-doença, ventilando os sentimentos e apropriando-se do processo de forma autônoma e ativa.

Veríssimo e Valle (2006) mencionam que as ações em sala de espera são uma forma produtiva de ocupar um tempo ocioso nas instituições, transformando os períodos de espera em momentos de trabalho através do desenvolvimento de processos educativos e da troca de experiências comuns entre os usuários, possibilitando um preenchimento do tempo ocioso e um maior contato entre o usuário e a equipe de saúde.

É visível a necessidade de um trabalho psicológico mais sistemático neste ambiente, possibilitando um atendimento às demandas existentes e ao mesmo tempo diminuindo os desconfortos emocionais inerentes à situação de espera de acompanhantes. Essa necessidade é reconhecida pelos profissionais que atuam no Hospital Regional de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes. Em visita realizada para levantamento das demandas, alguns deles ressaltaram a relevância do trabalho do psicólogo, que pode contribuir com a escuta e apoio emocional não só com os pacientes, mas, principalmente, com os acompanhantes.

A partir das visitas realizadas ao hospital, foram encontradas as seguintes demandas psicológicas dos acompanhantes: sentimentos de angústia, fragilidade, vulnerabilidade, ansiedade, irritação e estresse. Diante disso, foram planejadas intervenções com o objetivo de promover a escuta e o acolhimento dos acompanhantes da emergência do Hospital de Trauma de Campina Grande. Para se alcançar esse objetivo, foram traçados objetivos específicos, entre os quais destacamos: alcançar a ressignificação de conteúdos subjetivos que causem sofrimento nos acompanhantes; oferecer momentos lúdicos que contribuam para minimizar o sofrimento associado à espera; promover escutas psicológicas minimizando os sentimentos gerados pela espera; buscar informações clínicas dos pacientes internos ou em observação, exercendo uma ligação que abrange a tríade (pacientes – familiares – equipe de saúde) e orientar os acompanhantes com relação a procedimentos que devem ser tomados diante das internações, altas hospitalares e óbitos de pacientes.

Metodologia

O projeto foi apresentado ao Departamento de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba, com fins de elucidar a proposta do componente curricular Extensão I – II, ministrado no semestre 2016.2. Teve duração entre novembro de 2016 a abril de 2017.

Inicialmente, em reuniões semanais os extensionistas discutiram o referencial teórico e metodológico que baseou o trabalho e, a partir disso, o projeto foi construído e as intervenções planejadas e encaminhadas para o comitê de ética do Hospital Regional de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, no Município de Campina Grande- PB, obtendo a devida autorização e aquiescência para a realização do trabalho.

Partindo dos resultados obtidos no levantamento da realidade realizada por meio de dois tipos de questionários, um direcionado aos psicólogos e outro aos demais profissionais do hospital, para identificar as demandas dos acompanhantes dos pacientes da emergência do Hospital de Trauma, foi realizada uma visita técnica com todos os alunos extensionistas e mais cinco intervenções semanais, com um subgrupo menor de 4 a 5 alunos, em local e horário previamente acordado com o comitê de ética do Hospital de Trauma.

As intervenções se fundamentaram na metodologia participativa, a qual implica na utilização de métodos e técnicas que propiciem a minimização de sentimentos como ansiedade, estresse e angústia. Considerando as características da metodologia participativa, a equipe de alunos convidou aleatoriamente alguns acompanhantes na sala de espera a se encaminharem a uma sala na qual foram realizadas as ações. Cada intervenção foi elaborada em torno de um tema específico, sendo os temas “cuidado” e “desafios” desenvolvidos semanalmente, durante cinco semanas, contendo momentos de descontração, dinâmicas de grupo, técnicas de relaxamento e escuta psicológica em grupo.

Ao término de cada intervenção, foi aplicado aos acompanhantes um breve questionário de avaliação do quanto a atividade foi eficiente em relação aos objetivos. Todas as intervenções foram supervisionadas pela coordenadora do projeto e por uma psicóloga do hospital, além de serem registradas em diários de campo. Ao final, foi produzido um relatório final, destacando os resultados das intervenções.

Resultados e discussão

Diante das análises das dinâmicas realizadas pelo grupo, podemos detectar alguns aspectos de suma importância e que, por vezes, é omitido. Existe, nesse sentido, um desamparo emocional das pessoas que aguardam seus familiares e amigos na sala de espera. E aos que estão acompanhando seus entes já internos (diretamente) existe uma prostração. Não existindo nenhuma atividade voltada diretamente para esse público, uma vez que as preocupações estão voltadas para a pessoa que está em tratamento.

Durante o processo de internação do paciente, o acompanhante também sofre um impacto de mudanças de rotina e precisa adaptar-se a aquele novo ambiente. Além de lidar com situações de cuidar do paciente no ambiente hospitalar, também tem que resolver problemas em casa, há o cansaço físico, emocional e psicológico etc., se faz necessário ver com outros olhos esses acompanhantes e dar um suporte para que os mesmos também não adoeçam. Pois, percebemos que o bem-estar do acompanhante, também interfere no bem-estar do paciente.

Como aponta Amaral (2012), outro aspecto de suma importância durante a avaliação e á averiguação da qualidade do suporte familiar e social que o paciente tem, pois a presença de uma rede de apoio satisfatória tende a promover manejo adequado durante o período de adoecimento. Portanto, os sujeitos que ali estão como acompanhantes, também precisam de suporte, pois estar naquela situação demanda conflitos internos e externos.

 Fica evidente essa demanda, quando realizamos as dinâmicas, muitos se emocionaram. Algumas pessoas choravam, outras falavam sobre a quantidade de dias que estavam lá, expondo parte de suas problemáticas (de como era estar ali, os conflitos que havia em casa ao deixar demais familiares, ao mudar suas rotinas etc.). O cansaço físico e emocional, pois alguns estavam lá há mais de 30 dias e não tinham mais ninguém para ficar no seu lugar.

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