Esperiencia Subjetiva Privatizada
Por: stelarruda • 23/4/2015 • Resenha • 2.905 Palavras (12 Páginas) • 575 Visualizações
psicologia como ciência independente
Uma visão panorâmica e critica
O processo de criar uma nova ciência é muito complexo: é preciso mostrar que ela tem um objetivo próprio e métodos adequados ao estudo desse objeto, que ela é, enfim, capaz de firmar-se como uma ciência independente das outras áreas de saber.
Para a psicologia, a questão era extremamente complicada, já que todos os grandes sistemas filosóficos desde a antiguidade incluíam noções e conceitos relacionados ao que hoje faz parte do domínio da psicologia científica, como o comportamento, o "espírito" ou a "alma" de homem. Já na idade moderna, físicos, anatomistas, médicos e fisiólogos tratavam de diversos aspectos dos comportamentos involuntários e mesmo de comportamentos voluntários do homem. Também na idade moderna começaram a se construir as ciências das sociedades, como a Economia Política, a Historia, a Antropologia, a Sociedade Linguística.
O que restaria para uma psicologia como ciência independente ? Nada!
Esta foi a resposta de um importante filósofo francês do século XIX, Auguste Comte. No seu sistema de ciência não cabe uma "psicologia" entre as "ciências biológicas" e as "sociais". O principal empecilho para a psicologia seria seu objeto a "psique", entendida como "mente" não se apresenta como objeto observável, não se enquadrando, por isto, nas exigências do positivismo. Ainda hoje após mais de cem anos de esforços para se criar um psicologia cientifica, os estudos psicológicos mantêm relações estreitas com muitas ciências biológicas e com muitas ciências sociais.
A experiência da subjetividade privada
Ter uma experiência da subjetividade privatizada bem nítida é para nos muito fácil e natural: todos sentem que parte de suas experiências é íntima, que mais ninguém tem acesso a ela. Com frequência sentimos alegrias e tristezas intensas e procuramos escondê-las. A possibilidade de mantermos nossa privacidade é altamente valorizada por nós e relacionada ao nosso desejo de sermos livres para decidir nosso destino. Ainda com maior frequência, temos a sensação de que aquilo que estamos vivendo nunca foi vivido antes por mais ninguém
Ao lermos com atenção as obras de historiadores, veremos que as grandes irrupções da experiência subjetiva ocorrem em situações de crise social, quando uma tradição cultural é contestada e surgem novas formas de vida. Quando há uma desagregação das velhas tradições e uma proliferação de novas alternativas, cada homem se vê obrigado a recorrer com maior constância ao seu "foro íntimo"- aos seus sentimentos, aos seus critérios do que é certo e errado. A perda de referências coletivas ou uma lei confiável obriga o homem a construir referências internas. Surge um espaço para a experiência da subjetividade: quem sou eu, como sinto, o que desejo, o que considero justo e adequado? Nessa situação, o homem descobre que é capaz de tomar suas próprias decisões e que é responsável por elas.
Constituição e desdobramentos da noção de
subjetividade na Modernidade
De forma simplificada podemos dizer que nossa noção de subjetividade data aproximadamente dos últimos três séculos: da passagem do Renascimento para a idade Moderna.
O Renascimento foi um período muito rico em variedade de formas e experiências e de produção intensa de conhecimento. O homem viu-se obrigado a escolher caminhos e arcar com as consequências de suas opções. Nesse contexto, houve uma valorização cada vez maior do "Homem", que passou a ser pensado como centro do mundo. Essa transformação é parte essencial da origem da ciência moderna.
Toda a falta de referências absolutas fez renascer uma escola filosófica grega chamada ceticismo.
A descrença cética, somada ao grande individualismo nascente, acabaram por produzir uma reação que, na verdade, assumiu duas feições bem distintas: a reação racionalista e a reação empirista. Em ambas, contudo, tratava-se de estabelecer novas e mais seguras bases para as crenças e para as ações humanas e procuravam-se essas bases no âmbito das experiências subjetivas
Já no século XVI surgiram tentativas de conter e circunscrever as ações dos homens. É como se houvesse o desejo de poder voltar ao mundo medieval, em que uma única ordem reinava.
Uma solução- bastante precoce, mas cujo espírito foi muito duradouro foi dada pelo humanista Pico Della Mirandola que, chegou a concepção de que a liberdade teria sido o grande e exclusivo dom que Deus teria dado ao homem. Tendo o dom da liberdade o homem pode ser recompensado se fizer um bom uso dela e punido caso se deixe perder do bom caminho. Essa reação á dispersão surgiu, primeiramente, no âmbito religioso, embora tenha se espalhado para muito além dele. Entre a reforma e a Contra-Reforma vão nascendo tanto a individualidade quanto os modos de controle do indivíduo que conhecemos ate hoje.
Bacon e Descartes, é um dos grandes pioneiros na preocupação como método na produção de conhecimentos filosóficos e científicos que marcou toda a Modernidade ocidental desde o século XVII até os dias de hoje.
A crise da Modernidade e da subjetividade moderna
em algumas de suas expressões filosóficas
No Iluminismo, as grandes conquistas do racionalismo cartesiano eram articuladas com a valorização das experiências individuais tal como promovidas pelo filósofos empiristas, que formavam a outra grande corrente da Modernidade.
Hume, chega a negar que o "eu" seria algo estável e substancial que permaneça idêntico a si mesmo ao longo da diversidade de suas experiências: ele seria muito mais o efeito de suas experiências do que o senhor de suas experiências.
Outro filósofo Iluminista Emanuel Kant, procura opor-se a essas formulações tão radicais, mas aceita a problematização da crença em conhecimentos absolutos. Em A crítica da razão pura, afirma que o homem só tem acesso às coisas tais como se apresentam para ele.
Além da autocritica iluminista, o século XVIII trouxe outras formas de crítica às pretensões totalizantes do "eu" da razão universal e do Método. O romantismo é um momento essencial na crise do sujeito moderno pela destituição do "eu" de seu lugar privilegiado de senhor, de soberano.
Mas talvez o ponto mais agudo dessa crise tenha sido a filosofia de Nietzsche. Nela, as ideias de "eu" ou "sujeito" são interpretadas como ficções. Com seu procedimento chamado "genealogia". Ele procura desconstruir os fundamentos de toda a filosofia ocidental desde Platão. Basicamente, trata-se de mostrar como cada elemento tomado como fundamento absoluto ou causa primeira de tudo oque existe foi também, por sua vez, criado num determinado momento com uma determinada finalidade. Nietzsche dá um passo bem largo e radical: não só o homem é deslocado da posição de centro do mundo, como à própria idéia de que o mundo tenha um centro ou uma unidade é destruída.
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