Mecanismos de Defesa
Por: jansle • 16/5/2018 • Resenha • 3.713 Palavras (15 Páginas) • 309 Visualizações
MECANISMO DE DEFESA
Roberto Andersen
Introdução
Em todas as oportunidades que tive na observação do comportamento humano, a característica que me pareceu mais interessante foi a da utilização dos mecanismos de defesa.
Tais observações regressam muito no tempo, coletando dados desde a época do início da vida escolar, em escolas particulares, onde algumas crianças, ainda pré-adolescentes, já mostravam alguns sinais de procedimentos de defesa, tanto exagerando qualidades para esconder defeitos, como procurando dar ênfase às limitações de algum colega com a intenção, mesmo inconsciente, de ignorar os seus próprios problemas.
Os colegas das escolas públicas secundárias já constituíram material mais bem elaborado, já que a idade média dos treze e quatorze anos começava a exigir desses adolescentes um procedimento social mais difícil, principalmente em relação ao sexo oposto, onde começava a pesar a sua formação psico-sexual.
O material mais farto para as observações foi obtido nos anos seguintes, com a convivência, vinte e quatro horas por dia, com inúmeros colegas das mais diversas procedências e formações, em internato militar de formação acadêmica.
Não posso negar que tal fase foi a mais rica em material analisável, embora muitas das conclusões tenham sido enriquecidas pelos períodos posteriores, em países estrangeiros, principalmente a Austrália e Grã-Bretanha, onde o conhecimento de outros povos e culturas possibilitou uma diferenciação da amostragem e facilitou a descoberta de semelhanças e algumas grandes diferenças.
O universo observado na Austrália foi limitado a três cidades, Adelaide, Elisabeth e Melbourne e mostrou um sentimento grande de realidade, onde a maioria das pessoas se mostrava sem rodeios ou dissimulações, parecendo uma situação de honestidade para consigo mesmo, diferente do que havia sido observado em no Brasil.
Na Grã-Bretanha, entretanto, as dissimulações apareciam constantemente, sendo freqüentemente encontrados procedimentos exteriorizados, deixando bem claro a evidência de alguma forte repressão em seus verdadeiros sentimentos.
Em grande parte dos casos, quando esses mecanismos pareciam ser constituídos de "defesas ineficazes", percebia-se a dificuldade em sua dissimulação, ficando evidente para um observador mais atento e, portanto, fácil para o processo de identificação executado pelo analista.
Nos casos que identifiquei como "defesas bem sucedidas" a dissimulação era mais eficiente, dificultando a identificação da neurose. Entretanto, como tais mecanismos "geram a cessação daquilo que se rejeita"(Fenichel, 1997, pág.131), a falha na identificação pouca importância terá para o paciente, já que praticamente resolvem-se por si mesmas, independente da ajuda externa.
Como funcionam os mecanismos de defesa
Os mecanismos de defesa podem ser considerados eficazes, quando conseguem eliminar o fato rejeitado; ou ineficazes, quando nunca o eliminam, perpetuando assim as ações defensivas do indivíduo.
Se a defesa foi eficaz, raramente haverá uma neurose de muita importância a ser tratada.
Entretanto, quando uma defesa é caracterizada pela necessidade permanente de comportamentos substitutivos para evitar que o objeto verdadeiro do instinto apareça, ela não é uma defesa eficaz, pois necessita de ação permanente do indivíduo mais em busca de um auto-convencimento do que do convencimento da própria sociedade, e esse comportamento é um comportamento neurótico que deve ser tratado.
Sublimação
Existe o impulso original em busca de uma determinada finalidade ou de um determinado objeto.
A satisfação desse instinto está em desacordo com os padrões morais, éticos ou comportamentais do grupo ao qual pertence o indivíduo e ele tem consciência disso.
Sua conduta, a partir daí, poderá assumir diversos caminhos e, a depender desse caminho haverá o aparecimento, ou não, de um aspecto neurótico a ser tratado.
Se o indivíduo dá vazão a seus instintos, dificilmente apresentará problemas de neuroses, mas pode estar indo de encontro à sociedade na qual está inserido e, se seu comportamento estiver em desacordo com o padrão dessa sociedade, esse indivíduo estará causando problemas que podem ser interpretados, inclusive, como desvios de caráter, de personalidade ou problemas mentais.
Sabendo da discrepância entre seus instintos e a conduta determinada pela sociedade, o indivíduo pode adotar uma conduta de substituição de objetos ou finalidades.
Se o indivíduo consegue substituir essa finalidade ou esse objeto por outro, desde que essa transformação lhe traga uma satisfação pessoal bastante agradável, existe a possibilidade de descarregar todos os seus impulsos anteriores nesse novo ideal, pois haverá a geração de satisfação plena, o que acabará por anular, a longo prazo, o objeto anterior.
Nesses casos a neurose reduz-se a níveis tão insignificantes que pode ser desprezada, podendo ser considerada uma sublimação com êxito.
Esse êxito proveniente da sublimação se dá quando:
a) há inibição do objetivo;
b) consegue-se sua dessexualização;
c) o instinto é totalmente absorvido em suas seqüelas;
d) há alteração dentro do ego.
A grande força da sublimação, quando ela se limita a inibição do objetivo, é que a ação desse indivíduo continuará existindo, com a diferença de que o seu instinto estará dessexualizado e subordinado ao ego reorganizado.
"É possível ver precursores das sublimações em certas brincadeiras infantis, nas quais os desejos sexuais se satisfazem por uma forma dessexualizada em seguida a certa distorção da finalidade ou do objeto; e as identificações também são decisivas neste tipo de brincadeiras." (Fenichel, 1997 , pág. 132)
Isso valoriza os próprios instintos do indivíduo, transformando-os de amorais ou inadequados a morais, adequados e até elogiáveis, em alguns casos, trazendo uma sensação de satisfação plena que, naturalmente eliminará qualquer vestígio de problemas neuróticos.
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