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“NELL” (1994): UM OLHAR DA PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA DE VIGOTSKI

Por:   •  11/7/2017  •  Resenha  •  2.798 Palavras (12 Páginas)  •  1.251 Visualizações

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“NELL” (1994): UM OLHAR DA PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA DE VIGOTSKI[1]

Descrição

        A produção estadunidense de cento e treze minutos, “Nell” foi dirigida por Michael Apted em 1994. As cenas iniciais do filme apresentam um entregador de mercadorias encontrando a senhora Kelly morta em sua casa, localizada no meio de uma floresta. Tedd, um policial, e Jerry, um médico, se deslocaram até lá após a ocorrência do fato para a realização de perícia e constataram que esta vivia em estado de completo isolamento, sem aparatos básicos, além de possuir um distúrbio de linguagem que a impedia de tecer comunicação com outras pessoas, agravando esse quadro.

        Jerry, ao adentrar a casa, viu uma jovem escondida através do reflexo do espelho. Esta, por sua vez, passou a chorar e gritar sons incompreensíveis. Com a consequente aproximação do médico, a jovem manifestou um comportamento agressivo, demonstrando pavor com a interação. O médico encontrou uma carta da mãe da menina, que descrevia sua vontade de que a pessoa que a tivesse encontrado pelas mãos do Senhor cuidasse de Nell. Jerry persistiu na ideia de cuidar da jovem, passando a observar suas atividades normais, constatando que seu comportamento na vida cotidiana era calmo, diferente de suas expressões enquanto estava em contato com outra pessoa.

        Outra médica, Paula, foi acionada por Jerry, que prontamente se dispôs a analisar o caso, que considerou ser o desenvolvimento de alguém em completa alienação da cultura, podendo ela apresentar deficiências mentais, ser autista, entre tantas outras hipóteses. A médica fez exames, inclusive sanguíneos, para detectar o que de fato levaria Nell a se comportar daquela forma. Além dela, outro pesquisador deu pareceres sobre o caso, levantando a possibilidade de se investigar através da jovem questões fundamentais na ciência, como os limites do inatismo e da aprendizagem do homem. Além disso, Nell, por ter aproximadamente trinta anos, já teria passado por fases do desenvolvimento, o que proporcionaria uma tese comparativa entre o ser humano “selvagem” e o ser humano “civilizado”. Para isso, considerou necessário levá-la a um ambiente controlado para que a observação fosse de fato efetiva, movendo uma ação judicial para assumir responsabilidade no caso.

        Jerry se contrapôs duramente a essa alternativa, encontrando uma brecha na decisão judicial, afirmou que ninguém poderia levar Nell até que ela emitisse o seu consentimento e, para isso, alguém deveria compreender sua linguagem. Paula entrou em conflito com Jerry, pois defendia a retirada da moça de seu ambiente natural. O tribunal, pressionado por ambos, decidiu por adiar qualquer ação durante três meses, para avaliar a posteriori com a evolução do caso e maior quantidade de informações. Dado esse período, Jerry e Paula foram acampar na floresta, próximos à casa de Nell, para acompanhar o quadro em campo e formular teorias sobre a garota “selvagem”.

        Nas observações de Jerry, o médico presenciou um momento em que Nell sorriu com a memória de um tempo outro em que duas crianças brincavam num lago próximo. Para melhor compreender a linguagem da moça, Jerry passou a frequentar a casa dela e gravar o que ela falava em situações mais calmas para tentar decodificar. Chegando no acampamento com Paula, o médico descobriu que ela havia instalado câmeras pela casa de Nell enquanto ela dormia, para poder monitorar o tempo todo o que a garota fazia.

        A partir do material que já haviam obtido, Jerry começou a emitir alguns sons na intenção de que ela reconhecesse e tentasse se comunicar de volta. Ela o ignorou e continuou suas atividades normais, até que vai ao espelho e começa a fazer expressões corporais e a falar “Mii”. Para o telespectador nessa cena se apresenta uma mão infantil correspondendo aos movimentos de Nell, o que inclusive rompe os limites físicos do espelho. Paula e outros pesquisadores interpretaram essa ação como se ela estivesse entrando em contato com sua consciência, com o seu self, e a constante repetição do som “Mii” seria decorrência da tentativa de falar “me”, correspondente a “eu” na língua inglesa. A explicação científica para o caso estaria fundada, portanto, na consideração de que ela falaria inglês, mas a expressão das palavras estaria modificada em vista da socialização única com a mãe, que era afásica.

        Frente a tal hipótese, Jerry passou a relacionar os sons que ela emitia com palavras do próprio idioma e Nell buscava ensiná-lo a partir de demonstrações e gestos. Nell passou a gostar da presença de Jerry, que passou a visitá-la com frequência. Em um determinado momento Nell se mostrou profundamente irritada, e gritou na porta de sua casa, onde alguns garotos que estavam na floresta a viram. Jerry a socorreu, compreendendo que o motivo do desespero de Nell era a falta da Bíblia que fora levada dali. Jerry trouxe a Bíblia novamente, lendo-a para ela, que começou a sussurrar seu dialeto para as palavras correspondentes. Jerry percebeu e a questionou sobre o “eva dur”, correspondente a “malfeitor”, o que a levou a simular uma faca no seu ventre, como um espeto. Jerry faz inferências relacionando a história de uma moça que viu no jornal que teria sido estuprada depois de ir à Igreja com a história da mãe de Nell, o que explicaria o medo que a jovem teria de sair durante o dia de casa. O médico também considerou que ela não teria medo dele pois o via como seu ‘anjo da guarda’.

        Jerry buscou dessensibilizar Nell oferecendo pipoca para a moça cada vez mais distante da casa dela. A partir disso a jovem chegou à parte exterior de sua casa e começou a dançar, assim como fazia durante a noite. Seguiu-se uma cena em que a menina correu até a floresta e se divertia a cada vez que Jerry e Paula a perdiam e buscavam encontrá-la. Nessa brincadeira, Nell levou os médicos até a “Mii”, uma caveira com flores no lugar do olho, como a mãe da jovem encontrada morta em casa. A partir disso os médicos inferiram que Nell seria a sobrevivente de irmãs gêmeas idênticas, o que explicaria o gesto repetitivo frente ao espelho.

        Os garotos que a viram comentaram em um bar sobre a situação atípica presenciada na floresta. Um jornalista que ali estava se interessou na história e decidiu ir até ela para obter uma reportagem da menina tida como selvagem. O jornalista abordou Nell, que mostrou  resistência, e, no momento em que ele tentou tirar uma foto dela, a moça se assustou com o flash e gritou. Jerry interveio e começou a bater no rapaz que acabou descobrindo o nome dela.

        Depois de uma discussão, Jerry e Paula decidiram levar Nell para a cidade, para ver a sua reação frente àquilo que os pesquisadores mais temiam que ela entrasse em contato direto. Fizeram um percurso de carro e em dado momento, uma criança mostrou a língua para Nell, que repetiu a ação como o menino, fazendo-o chorar. Durante o passeio os pesquisadores encontram Tedd e Nell passou a interagir com a mulher do policial, que a pergunta “você está assustada?” e Nell se esforça para questionar a mesma coisa para ela, estabelecendo-se uma troca de olhares entre as jovens, representando certa identificação entre elas.

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