O Caso Clinico
Por: Leda Alves • 17/12/2018 • Trabalho acadêmico • 1.482 Palavras (6 Páginas) • 201 Visualizações
Caso Clínico
Para falar sobre transferência na clínica com psicóticos, trago um caso onde como estagiária do CAPS- UERJ atendi num período de 6 meses. Darei o nome de Gilmar para o paciente que tem 45 anos, solteiro, sem filhos, é natural e reside no Rio de janeiro. No seu prontuário o diagnóstico está como Esquizofrenia tipo Paranóide (F.20.0) e faz uso de Haldol de 5mg, uma vez ao dia.
Gilmar tem uma história antes do CAPS bem confusa, com várias lacunas que nem mesmo o paciente consegue nos ajudar a entender melhor sua trajetória, principalmente o tempo em que morava em Minas Gerais. No seu prontuário tem algumas informações.
Antes do CAPS
Foi abandonado ainda bebê pela mãe, que era alcoólatra, na cidade do Rio de janeiro. O paciente cresceu sob os cuidados dos familiares do sr Fernando, advogado que reside no Rio e tem a família oriunda de Minas gerais, sendo seu tio uma referência de pai para o Gilmar, pois o criou como sendo seu filho. Gilmar morou com um outra tia desse advogado, numa chácara em Minas Gerais e depois que essa senhora morreu não há mais notícias do Gilmar por uns 5 anos.
No segundo semestre de 2010, o Sr. Fernando recebe notícias do paciente, que estaria em situação precária, morando na rua, com problemas psíquicos, falando coisas sem sentido e ouvindo vozes. Passou por situações de maus tratos, trabalho escravo numa fazenda, passando fome e frio. O Sr. Fernando foi para Minas encontrar com o Gilmar e lá cuidou dele, alugando moradia e conseguiu atendimento psiquiátrico e voltou para visitá-lo ainda umas duas vezes, não podia ficar com ele por conta de seus compromissos no Rio.
Depois de um assalto violento, onde o paciente foi agredido e ficou com ferimentos de faca, Fernando foi convocado novamente para ir a Minas e nessa situação conseguiu alojar o Gilmar num Albergue Espírita da cidade de Itaúna/MG, onde ficou por dois anos tomando os remédios, participando de momentos como palestras religiosas e tendo convívio com pessoas que o ajudaram na sua recuperação física e mental. Depois, a entidade não tinha mais como mantê-lo e foi quando o Sr. Fernando o trouxe para o Rio.
Hoje ainda vive com familiares do Advogado, sua mãe, uma senhora de 93 anos e seus dois irmãos. Gilmar foi levado para clínica da família e está dando continuidade no seu tratamento psiquiátrico e foi encaminhado pelo médico da unidade para o CAPS-UERJ em 2015 onde permanece até hoje.
As demandas na Convivência
O primeiro contato com o Gilmar foi de acolhida por parte dele, sabendo que eu estava chegando no serviço pediu pra conversar comigo. Na conversa me deu “orientações” de como lidar com alguns frequentadores do CAPS pois, segundo ele, tinha algumas pessoas que não respeitavam. Trouxe várias dúvidas sobre sexualidade com a justificativa de que eu, estudante de psicologia podia ajudá-lo. Dizia ser virgem e tinha dúvidas sobre sua orientação sexual, nunca teve relação sexual com mulheres, mas uma vez fez sexo oral em um soldado quando tinha 20 anos, disse que foi “quase” forçado a fazer e que não sabia se tinha gostado.
Outra situação que ele traz é que gosta de usar peças íntimas femininas, que se sente bem e chegou a ter ereção uma vez. Sempre me perguntando sobre minha opinião, queria saber se é normal homem querer vestir roupas femininas, e quando pergunto como que ele enxerga isso, ele traz exemplos de homens públicos que usam saias, vestidos e diz que não vê nada de mais.
Em uma das conversas ele traz que um senhor que era seu superior na fazenda onde trabalhava em Minas gerais, chegou a levar umas calcinhas para o Gilmar vestir na sua frente. Gilmar disse que esse senhor nunca tentou ter relação sexual com ele, em contrapartida esse mesmo senhor chegou a dizer que gostaria que os dois (ele e o Gilmar) tivesse relação sexual com a sua esposa ao mesmo tempo. O paciente conta que aceitou mas nunca se concretizou. Diz de outra tentativas de perder a virgindade mas sem sucesso, não consegue ter ereção (aqui uma contradição quando falou das peças íntimas).
Me questiona se o tamanho do pênis é um fator importante para o prazer da mulher, e eu pergunto por que isso é uma questão para ele e me responde que o seu pênis não é grande e tem dificuldade de ter ereção(nesse dia chega a dizer que nunca teve, mesmo se mastubando).
Gilmar namora uma frequentadora do CAPS e sempre mostra preocupação com seu relacionamento, diz que tem medo de perdê-la, sempre conversa com ela sobre as mesma dúvidas que me apresenta e o retorno que tem dela é de que não se importa, que vai ajudá-lo a perder a virgindade.
Tem muito sonhos e pesadelos, um dia relatou que sonhou com crianças (de 10-12 anos) e tem relação sexual com elas no sonho, me pergunta se isso pode se tornar real. Oriento que isso é considerado crime e não pode se tornar real. Ele diz que sabe disso, pois uma outra psicóloga o havia explicado a mesma coisa, que inclusive podia ser preso. Também sonha com sua mãe que o abandonou. Nunca a viu na vida mas pelo que as pessoas contam sobre características físicas dela ele afirma que é sua mãe mesmo. Momentos diz que tem vontade de conhecê-la outras diz que não pode desejar isso por que ela o abandonou. Tem pesadelos com o tempo em que trabalhou sem receber numa fazenda em MG(uma das lacunas da sua vida, não consegue explicar claramente e mesmo assim sempre fala algo sobre esse período).
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