O Desafio do Cenário Escolar para o Profissional da Psicologia
Por: Monicachoi • 21/9/2024 • Trabalho acadêmico • 5.940 Palavras (24 Páginas) • 42 Visualizações
Correia, M. (2004). O desafio do cenário escolar para o profissional da psicologia: por onde começar? In Correia, M. Psicologia e escola: uma parceria necessária. Campinas, São Paulo: Editora Alínea.
O Desafio do Cenário Escolar para o Profissional da Psicologia:
por onde Começar?
Em trabalhos anteriores, junto com outros colegas, discuti e defendi uma estrutura de atuação para o contexto educacional que tem se mostrado como adequada a este momento histórico (Correia & Campos, 2000; Correia, Lima & Araújo, 2001). Tal estrutura foi gerada a partir da análise de algumas das inúmeras discussões apresentadas nas últimas décadas pela literatura e a partir da minha própria experiência na supervisão de estágios na área de Psicologia Escolar/Educacional. Neste capítulo, eu retomo a atuação, mas agora de outro ângulo, descrevendo e discutindo as etapas envolvidas no desenvolvimento dos referidos estágios.
O Objetivo desta descrição, desde os passos mais primários ou iniciais, é possibilitar uma visão mais detalhada do por onde começar a atuação. Após esta retomada eu abordo alguns dos problemas mais freqüentes nas inserções de estagiários ou profissionais nas instituições educativas, com o objetivo de sugerir diretrizes para a solução de tais problemas.
As análises construídas neste texto poderão contribuir significativamente para uma melhor atuação do profissional da Psicologia envolvido com a Educação - daqueles que estão em inicio de carreira ou mesmo em formação a aqueles que há anos trabalham no cenário escolar. Espero ainda instigar novas discussões e, dessa forma, gerar maiores interações entre colegas envolvidos com esta temática.
Etapas que compõe um estágio em psicologia educacional
Reconhecimento e negociações
O estágio em Psicologia escolar abrange basicamente quatro etapas ou fases:
- Embasamento teórico;
- Diagnóstico;
- Intervenção e
- Avaliação.
Mas antes de iniciar o estágio propriamente dito, existe uma "pré-fase". Nessas pré-fases através de conversas informais, é realizado um levantamento das experiências e dos interesses dos alunos e das alunas, em relação à área de conhecimento. Nestes primeiros contatos discutimos e analisamos especialmente as possibilidades de atendimento às expectativas e as dificuldades a serem encontradas na inserção na escola e no dia-a-dia de um longo ano dentro de uma determinada instituição educativa. O objetivo aqui é ajudá-los a se situar melhor na realidade da referida área de atuação (reconhecimento).
Ainda nessa pré-fase os alunos e as alunas tomam conhecimento das exigências envolvidas neste estágio, como por exemplo, a exigência de que se cumpram "expedientes na escola (um turno). Dessa forma, os estagiários e estagiárias devem freqüentar a instituição como se fossem funcionários desta, ou seja, precisam
- estar presentes nos horários de início e término do turno;
- durante quatro dias na semana (o quinto dia é reservado à supervisão) e
- estar presentes nos horários e dias em que seja necessário participar de algum evento promovido pela escola.
Por essa razão, o que caracteriza uma segunda exigência, é permitido ao estudante estar matriculado em no máximo duas disciplinas além do estágio, cuja carga horária é de aproximadamente 540 horas/aula, distribuídas em dois semestres, exigindo de fato um alto comprometimento do estudante (negociação).
Cientes das exigências, o aluno e a aluna devem selecionar uma escola. A seleção é realizada pelo estudante, respeitando-se alguns critérios: a escola deve ter pelo menos um dos ciclos de ensino completo (educação infantil ou ensino fundamental, por exemplo), disponibilizar uma sala para os estagiários e aceitar a supervisão externa dos estudantes (pela universidade) mesmo que a escola conte com psicólogos ou psicólogas em seu quadro de recursos humanos. Neste sentido, mesmo que a supervisão de estágio sugira algumas escolas, os estagiários podem escolher de acordo com as suas conveniências (como ser próximo a suas residências), desde que na distribuição final existam estagiários tanto em escolas da rede particular como da rede pública de ensinos. Este equilíbrio tem se mostrado essencial, uma vez que promove o enriquecimento das experiências do grupo, Isso ficava patente nas reuniões de supervisão que se realizavam com todo o grupo de estagiários, nas quais a interação entre alunos e alunas inseridos nos diferentes contextos era possibilitada. Nessas reuniões todos podiam opinar e participar, por exemplo, da resolução dos problemas trazidos por diferentes grupos/realidades.
Refiro-me a "diferentes grupos", porque o estágio é realizado em duplas. Ou seja, em cada escola selecionada como campo de estágio é alocada uma dupla de estudantes em supervisão. Esta prática é estimulada por oferecer excelente oportunidade de compartilhamento da experiência, através da análise, decisão e solução de problemas cotidianamente em equipe.
Além dessas reuniões mensais, existem reuniões semanais, nas quais acontecem as distribuições de leituras sobre temas trabalhados em cada escola específica e nas quais os alunos e as alunas procuram aperfeiçoar ou adquirir a habilidade da "objetividade", fio necessária no mercado de trabalho e especialmente nos encontros realizados no contexto escolar A objetividade é "lapidada" por ocasião dessas reuniões, cuja duração é limitada em apenas uma hora. Nessa hora os estagiários e estagiárias precisam apresentar realizações e acontecimentos daquela semana na escola e precisam também discutir suas dúvidas com relação às posturas assumidas em cada ocasião. Este momento, portanto, deve ser bem aproveitado. Invariavelmente, nas primeiras reuniões os estudantes conseguem colocar no máximo 25% do que programam o que é completamente transformado no decorrer do ano.
Por fim, reconhecida a área, realizadas as necessárias negociações e selecionada a escola, os estagiários e estagiárias devem requisitar na instituição sua permanência durante o ano letivo. Uma vez concedida, agenda-se uma visita da supervisora para alguns esclarecimentos, entre eles o da realização da supervisão pela universidade e o da garantia de resguardar os nomes da escola e dos profissionais. Todavia, os mais importantes motivos desta primeira visita são assegurar a participação dos estudantes em todos os eventos que compõem o cotidiano da escola e esclarecer o papel deles naquela instituição, procurando diminuir as expectativas, invariavelmente encontradas, de que eles resolverão todos os problemas apontados pela escola e de que trabalharão exclusiva ou diretamente com os chamados "alunos-problema". Assim, se todos estiverem de acordo, oficializa-se o convênio entre a universidade e a escola, dando início ao estágio propriamente dito.
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