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O Melanie Klein e as Crianças

Por:   •  26/5/2020  •  Artigo  •  1.001 Palavras (5 Páginas)  •  130 Visualizações

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Melanie Klein e a Criança

Áustria, ano de 1892, nascia uma criança que seria dona de uma genialidade e amor à verdade, que crescendo em meio a tantas barreiras sociais e turbulências emocionais, apresentaria ao mundo pensamentos próprios, distintos e no mínimo provocadores. Mulher, judia, depressiva, divorciada, sem estudo superior, com a perda de um filho e com uma filha declarada sua inimiga, desprezada por Freud e “persona non grata” por Anna Freud (filha de Freud), foi Melanie Klein. Uma das psicanalistas mais importantes da história de todo o movimento psicanalítico do século XX.  

Foi Karl Abraham, um dos mais fiéis se não o maior colaborador de Freud (ainda que negligenciado nos anais da história psicanalítica), quem incentivou Melanie Klein a se aventurar nos estudos da psicanálise. É possível refletirmos acerca da sorte de Melanie Klein em ser analisada primeiramente por Abraham em momento oportuno e por nenhum outro do chamado Comitê dos Sete Anéis (membros dos colaboradores mais próximos de Freud). Também, é necessário ainda destacarmos aqui, que foi devido à contribuição de Abraham, para a psicanálise, com o estudo da agressividade como sendo um dos elementos primordiais presentes durante os primeiros meses de desenvolvimento das crianças, que Melanie Klein desenvolveria todo seu arcabouço teórico, técnico e prático.

Assim sendo, mesmo diante de inúmeras críticas tecidas na época por parte de psicanalistas freudianos fervorosos, que não aceitavam sob quaisquer hipóteses, modificações na forma do entendimento estético e aplicação das técnicas vigentes na psicanálise e, que ainda hoje, tais críticas são defendidas por um certo número de profissionais, Melanie Klein pode ser reconhecida como “a principal representante da segunda geração psicanalítica mundial (E.Roudinesco, 1998)”. Não há dúvidas que Klein transformou o freudismo clássico, elaborando uma nova forma de análise, a inusitada e pioneira “análise de crianças”, em lato senso. Enquanto Freud e seus discípulos buscavam “a criança no homem”, Klein estava em busca do “bebê na criança”. Uma atitude inovadora!

Melanie Klein, sem descartar o aparato fisiológico da teoria do pai da psicanálise, procurou na dimensão do psicológico extrair conteúdos que lhe dessem suporte para estudar a mente dos infantes. Conteúdos tais como fantasias, medos, angústias, etc. Klein tomou para si a tarefa de elaborar uma técnica de análise que viabilizasse o acesso ao inconsciente da criança, algo impensável na época. Assim sendo, como os pequeninos não apresentam um mecanismo de “linguagem estruturada em vocabulário” (pois ainda estão em fase de desenvolvimento, diferente de crianças em idades mais avançadas, acima dos seis anos), Klein não tinha dúvidas de que a técnica da associação livre estaria comprometida. Foi então que, essa psicanalista austríaca, brilhantemente, adotou a análise pôr meio da brincadeira. Isto é, através da atividade lúdica, a psicanalista ousou interpretar os conteúdos das fantasias, angústias, e outras manifestações oriundas do inconsciente dos infantes. Entrava em jogo as expressões simbólicas!

As divergências de Klein para com a psicanálise freudiana na época, ganharam maior intensidade na medida que a psicanalista postulou a agressividade inata na criança, como sendo o elemento central de sua teoria. Isto é, a agressividade estava agora em maior destaque do que a vida sexual apregoada pelo pai da psicanálise.  

Melanie Klein, sempre se manifestou publicamente como uma discípula fiel a Freud e sua teoria, trabalhou intensamente no intuito de ampliar os estudos referentes aos sentimentos inatos a natureza humana, principalmente no que diz respeito as relações do neonato com sua mãe. Também, procurou Klein aprofundar-se na análise e compreensão dos fenômenos psicóticos, pois estes não receberam tanta atenção nos estudos de Freud.

É impossível desvincularmos Melanie Klein de uma nova teoria psicanalítica, pois ela estudou de forma minuciosa, propôs uma maneira integradora para a época de todos os fenômenos psíquicos. Estes inerentes na história do homem, desde o nascimento até sua morte. Nas palavras de Joan Riviere (psicanalista pioneira da Sociedade Britânica, paciente de Freud e que muito contribuiu para a psicanálise como tradutora dos trabalhos de Freud e Klein, etc.), “Klein, a respeito das fantasias inconscientes é extremamente precisa e detalhada”. Assim sendo, com a teorização kleiniana, mesmo sob fogo cerrado de críticos entusiasmados, a clínica de análise e aplicação, teve seu poder de compreensão dos fenômenos, não explorados tanto por Freud quanto pelos membros mais íntimos dos círculos psicanalíticos, intensificado por contribuições que não poderiam ser rechaçadas por “livre e espontânea vaidade intelectual”.    

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