O Sujeito, a velhice e o envelhecimento
Por: Ataques • 12/9/2018 • Artigo • 6.142 Palavras (25 Páginas) • 221 Visualizações
O sujeito, a velhice e o envelhecimento
César, Isabel1
Guedes, Geraldo Matos1
Pereira Júnior, João Gonçalves1
Silva, Evanildo Ferreira1
Taques, Alan Gefferson A.[1]
Machado, Vívica Lé Sénéchal[2]
Resumo
O objetivo geral do presente trabalho é programar e desenvolver estratégias de atenção psicossocial para os idosos em âmbito institucional. Como objetivos específicos: investigar a natureza das dificuldades e/ou limitações, identificar as variáveis facilitadoras e dificultadoras, analisar o processo de autonomia e o conceito de velhice em psicanálise, explicar como se formam as representações sociais e investigar formas características de vida, no que se referem ao envelhecimento. Como Metodologia, foi adotado a pesquisa participante, de cunho qualitativo, usando como instrumento de coleta de dados a entrevista aberta, não estruturada. Tendo como campo a instituição asilar Associação das Damas de Caridade “Lar das Velhinhas”, na cidade de Montes Claros, no período de março a maio de 2016. Dentre outras considerações, destaca-se que o sujeito não envelhece, a despeito de modificações corpóreas trazidas pela velhice, apresentadas pelas rugas e cabelos brancos.
Palavras Chaves: velhice, envelhecimento, autonomia, representações sociais, identidade.
- Introdução
O envelhecimento é uma etapa do desenvolvimento que pressupõe alterações biológicas. Estas alterações são gerais, e ocorrem de forma gradativa e natural, sendo assim, não se pode afirmar que há uma idade exata para caracterizar o idoso.
A Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) considera o envelhecer como:
[...] sequencial, individual, acumulativo, irreversível, universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte. (OPAS, 1993, p. 06)
Como etapa do desenvolvimento, o envelhecimento é algo inevitável para os que vivem, porém, os efeitos do envelhecimento podem ser reduzidos a partir de alguns fatores ambientais, tais como: estilo de vida apropriado, hábitos saudáveis, nutrição e dieta, que desempenham um papel fundamental na caracterização do envelhecimento (GOTTLIE et al., 2007).
Sob o ponto vista cultural e social, a velhice está associada ao estigma preconceituoso do período vulnerável e frágil da vida, com maior incidência de patologias. Segundo Debert (2004) citado por Maia, Castro, Jordão (2010):
[...]a modernidade estabeleceu parâmetros claros entre diferentes períodos etários (idades cronológicas pré-definidas, que separam as diferentes etapas da vida), a fim de registrar, regular e disciplinar a vida das pessoas. (MAIA, CASTRO, JORDÃO, 2010, p. 196)
Trata-se de uma normatização da vida através da idade cronológica, como fator regulador da mesma, com períodos distintos e apropriados para cada momento da vida, como: momento para ir à escola, trabalhar, casar-se, afastar-se do trabalho. É justamente nesse momento de falta de produção e atividade, que a velhice é enquadrada. Desta forma, este momento da vida estaria associado a representações que a qualificam como uma fase negativa do curso da vida (MAIA, CASTRO, JORDÃO, 2010).
A inatividade e a improdutividade, caracteriza a velhice como um fator de cunho social, onde as pessoas nesta etapa da vida, agora inaptas a trabalhar, precisam ser assistidas. E a institucionalização do idoso passa ser considerada, como parte do processo de assistência social (Idem, 2010).
Na clínica psicológica, em sua “prática higienista” busca observar, entender, para logo depois fazer a intervenção, no sentido de proporcionar um remédio, buscando o tratamento e a cura. Sendo uma prática voltada para o individualismo e uma prática curativa. E, nesta prática se distanciou dos aspectos sociais. A revolução industrial acontecida em 1789, teve uma forte repercussão na sociedade e nos indivíduos, o que os levou pelo modo de produção industrial urbana, a um isolamento e um modo de vivência que cultiva o individualismo. Com isto tem-se uma clínica que vem alimentando este modelo individualista, que em sua maioria das vezes, privilegia o sistema capitalista. (MOREIRA, ROMAGNOLI, NEVES, 2007)
Em contrapartida a esta clínica, se dá a clínica social, que ancora o sistema de saúde pública, que segundo Figueiredo (1996) citado por Moreira, Romagnoli, Neves (2007. p. 617), o qual afirma “que a clínica psicológica se caracteriza não pelo local em que se realiza – o consultório, mas pela qualidade da escuta e da acolhida que se oferece ao sujeito”. Portanto, não sendo significativo os lócus onde acontece o ato clínico, quer seja em um local público ou privado. Neste espaço a prática do fazer clínico se transforma também em um fazer político, vez que faz a transformação.
Nesta clínica social não há apenas a atenção às camadas menos favorecidas da população, mas a clínica que atende em qualquer lugar, a qualquer público, observando a singularidade de cada cliente. (MOREIRA, ROMAGNOLI, NEVES, 2007)
Na perspectiva de Maia, Castro e Jordão (2010), que através de uma experiência três anos em ambiente asilar, notou-se que a partir de uma análise crítica do ambiente institucional, a velhice tem que ter de olhar clínico diferente, pois “idealizar a velhice institucionalizada como livre de sofrimentos, pois realmente há, em muitos casos, sofrimento, solidão e depressão” (MAIA, CASTRO, JORDÃO, 2010, p.207), está longe da realidade. É preciso uma revisão na compreensão da velhice no ambiente asilar, propondo ações de atenção psicológica diferenciada, oferecendo “um espaço de acolhimento aos modos de subjetivação emergentes nesse local, desconstruindo formas hegemônicas de escutar e olhar a velhice, bem como rever os modos vigentes de atendimento a esses sujeitos” (MAIA, CASTRO, JORDÃO, 2010, p.194).
Esta pesquisa busca como objetivo geral: programar e desenvolver estratégias de atenção psicossocial para os idosos em âmbito institucional. Tendo como objetivos específicos: a) investigar a natureza das dificuldades e/ou limitações vivenciadas pelos idosos na realização das atividades cotidianas; b) identificar as variáveis facilitadoras e dificultadoras do processo de institucionalização dos idosos; c) analisar o processo de autonomia dos idosos institucionalizados frente às atividades cotidianas; d) analisar o conceito de velhice em psicanálise; e) explicar como se formam as representações sociais sobre a velhice; f) investigar formas características de vida dos sujeitos acompanhados.
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