O que é ser diferente para a psicanálise?
Por: Artur Henrique • 28/7/2019 • Ensaio • 751 Palavras (4 Páginas) • 116 Visualizações
O que é ser diferente para a psicanálise?
A psicanálise olha para o sujeito. Cada ser humano é um, e a tarefa mais importante
da vida é conhecer a si mesmo. Procura-se por um processo de análise alguém que, em
algum momento de sua trajetória, esqueceu-se de si mesmo. Segundo a tradição platônica,
sabemos de tudo, só não lembramos e, sabendo ou não, o importante é conhecer e
respeitar a si mesmo e o desconhecido de cada um. Só podemos reconhecer o outro como
diferente, quando sabemos quem somos.
Ao nascer somos o desejo daqueles que nos colocaram no mundo. Os pais
costumam ter muitas expectativas em relação a seus filhos, e a criança busca corresponder
a isso. Porém, a medida que as crianças crescem, precisam discriminar e perceber o que as
separa do outro. É comum que jovens na adolescência entrem em conflito com seus pais,
quanto a suas escolhas, vocações e projetos de vida. Um momento que parece ser de crise,
pode ser extremamente rico para ambos, principalmente para os pais, que, sendo o lado
adulto da relação, muitas vezes têm de reconhecer que estão idealizando o futuro de seus
filhos (escolhas, expectativas...). Neste momento, os jovens e os pais podem recorrer a
especialistas procurando ajuda.
Outro caminho seria encontrar respostas na literatura. Richard Bach, em “Fernão
Capelo Gaivota”, conta a trajetória de uma jovem gaivota que gostava de aprender e
experimentar voos diferentes, e seu desejo de conhecer era visto como ameaça à cultura
daquela sociedade que, preocupada com a subsistência e produção, toma-se limitada. Voar
era necessário para a pesca e não para o aperfeiçoamento de si mesmo. Fernão era julgado
por não estar preocupado em ser útil para o bando, e o consideravam egoísta. Ele vivia em
conflito entre fazer o que desejava e agradar os pais, mas o seu desejo de voar para se
aperfeiçoar era tão forte que, sem se dar conta, voltava a fazer seus experimentos. No
lugar em que vivia Fernão, todos tinham que ser iguais, não havia espaço para o diferente.
A história de Richard Bach mostra-nos, dentre outras coisas, que o desejo de aprender é
algo inerente e que se manifesta mesmo em um ambiente hostil.
Há 25 séculos, Sócrates retomava uma das máximas de Delfos: "conhece a ti
mesmo", para ele essa era a tarefa mais importante do homem. Em contexto
completamente diferente, Machado de Assis, em seu conto "O Espelho”, trata do tema de
quem somos e compara o ser humano a uma laranja: possui duas almas, a interna e a
externa. Ambas são valorizadas pelo autor e precisam estar integradas, em harmonia, uma
alma alimentando a outra. Machado conta a história de um jovem que ganhou uma patente
de alferes, deixou a família inteira feliz e ficou tão deslumbrado com a patente, a qual
rendia a ele muitos elogios, que se esqueceu de alimentar a alma, a sua subjetividade. Um
belo dia, sozinho, não ouvia mais os elogios e entrou em
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