OS FUNDAMENTOS PSICANALÍTICOS
Por: Karla Fernanda • 27/9/2021 • Dissertação • 35.279 Palavras (142 Páginas) • 119 Visualizações
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C A P Í T U L O Freud utilizou as palavras “Instinkt” e “Trieb”, no
original alemão, com significados bem distintos
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entre si e não como sinônimos.
De uns tempos para cá, os autores estabelece-
ram a diferença significativa de que, quando Freud
empregava “Instinkt”, ele estava-se referindo aos
instintos biológicos que caracterizam o reino ani-
mal, tal como os conhecemos com as suas caracte-
rísticas específicas por cada espécie, e quando re-
As Pulsões do Id feria-se a “Trieb”, ele estava aludindo a algo muito
mais abrangente e imanente, proveniente das
profundezas inatas do ser humano, sob a forma de
impulsões (aquilo que aguilhoa e propulsiona).
Embora Strachey (1977, p. 27) tenha feito uma lon-
Este capítulo que trata do id, juntamente com ga fundamentação justificando a sua tradução para
os dois seguintes, que enfocam o ego e o superego, “instinctual impulse”, ele reconhece que, para a
compõem aquilo que, na “teoria estrutural” de tradução inglesa da palavra “trieb”, os seus críti-
Freud, costuma ser denominado “estrutura tripartite cos preferem unicamente o termo “drive”, da mes-
da mente”. Convém, portanto, esclarecer o concei- ma forma como, em nosso meio, os estudiosos
to da palavra “estrutura”, em psicanálise: ela defi- atuais da obra de Freud evidenciam uma preferên-
ne um conjunto de elementos que se constituem cia pelo termo “pulsão”.
numa relação organizada, e que, portanto, são ri- Em muitos dos seus textos, Freud manifestou a
gorosamente intedependentes entre si, não obstante sua concepção de que a pulsão representa o con-
o fato de cada um deles, separadamente, conservar ceito de algo que é limite entre o somático e o psí-
uma relativa independência. Assim, toda estrutura quico (1905, Três ensaios...). Trata-se, portanto,
é um sistema, ligado de um modo tal que qualquer de uma fonte de excitação que estimula o organis-
mudança produzida em um elemento provoca mu- mo a partir de necessidades vitais interiores e o
dança nos demais. impele a executar a descarga desta excitação para
Depreende-se daí que as pulsões do id, as fun- um determinado alvo. A natureza dessa força
ções do ego, os mandamentos do superego e a rea- energética só pode ser conhecida por meio dos seus
lidade ambiental externa agem entre si de forma representantes psíquicos. Assim, transformando o
continuada e indissociada, um influenciando ao somático em psíquico, com as respectivas sensa-
outro, e somente serão abordados em capítulos dis- ções das experiências emocionais primitivas, o in-
tintos pela razão de obediência a um esquema di- divíduo vai construindo o seu mundo interno de
dático de exposição. representações.
Também convém esclarecer que Freud escolheu Conforme Freud descreveu, toda pulsão impli-
o termo id (que ele tomou emprestado de Groddeck) ca a existência de quatro fatores que lhe são
para caracterizar a instância psíquica que sedia as imanentes: uma fonte, uma força, uma finalidade e
pulsões, pelo fato de que “id”, em alemão (“das um objeto. Além destes, pode-se depreender dos
Es”), designa um artigo neutro, sem gênero nem trabalhos de Freud mais essas características: o
número, assim caracterizando a maneira impesso- deslocamento da pulsão de uma zona corporal para
al, biológica, de como as pulsões instintivas agem outra, o intercâmbio entre as distintas pulsões, a
sobre o ego. compulsão à repetição e as transformações das
pulsões.
A fonte provém das excitações corporais, dita-
CONCEITUAÇÃO das pelas necessidades de sobrevivência. A força
determina o aspecto quantitativo da energia pulsio-
Inicialmente, é útil lembrar que há uma equiva-
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