Os impactos da violência no desenvolvimento infantil
Por: luizferro39 • 16/1/2023 • Relatório de pesquisa • 7.981 Palavras (32 Páginas) • 99 Visualizações
Os impactos da violência no desenvolvimento infantil
Luiz Roberto Marquezi Ferro – luiz315@hotmail.com - Neuropsicologia
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Ribeirão Preto, SP, 06 de abril de 2022
Resumo
Estudos que abordam maus-tratos na infância e adolescência se tornaram relevantes durante os últimos anos dada as evidências das repercussões danosas na esfera psicológica de suas vítimas. O presente artigo tem por finalidade investigar os impactos da violencia no desenvolvimento da inteligência de crianças e adolescentes expostos à situações de violência. A pesquisa consiste em uma revisão sistemática da literatura de abordagem qualitativa descritiva e exploratória, realizando um percurso investigando na literatura variáveis como aspectos sociodemográficos de crianças e adultos com e sem violência, seguido por traços da personalidade de crianças e adultos com e sem violência, assim como, a percepção das emoções faciais das crianças com e sem violência, e por fim, o desenvolvimento cognitivo de crianças com e sem violência.Para o levantamento de artigos na literatura, foram consultadas as seguintes bases de dados, Scielo, PePsic e Portal Regional da BVS. Os resultado encontrados afirmam que crianças que tem oportunidade de crescerem com educação de qualidade, junto de famílias emocionalmente equilibradas, tendem a ter menor incidência para comportamentos violentos, prejuízos cognitivos e de transtornos de personalidade.Conclui-se que a exposição a violência em crianças e adolescentes apresenta desregulação emocional na infância e estende-se até a idade adulta.
Palavras-chave: Violência Doméstica, Personalidade, Emoções Faciais, Inteligência, Violência.
Introdução
A violência, muito provavelmente, fez parte da história da experiência humana. As consequências da violência podem ser observadas em várias partes do mundo, nas mais diferentes situações e contextos.
Segundo o Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, todo ano mais de um milhão de pessoas perdem suas vidas e muitas outras sofrem lesões fatais, resultantes da violência auto-infligida, interpessoal ou coletiva, diante disso a violência está entre as principais causas de morte de pessoas na faixa etária de 15 a 44 anos, em todo o mundo (KRUG, DAHLBERG, MERCY, ZWI, & LOZANO, 2002).
Algumas causas da violência podem ser facilmente percebidas bem como as consequências por ela causadas outras, porém estão enraizadas no arcabouço cultural e econômico da vida humana. Segundo o Relatório Mundial sobre Violência e Saúde “ao mesmo tempo em que fatores biológicos e outros fatores individuais explicam algumas das predisposições à agressão, é mais frequente que esses fatores interajam com fatores familiares, comunitários, culturais e outros fatores externos para, assim, criar uma situação propícia à violência” (KRUG et al., 2002:3).
Muitas das vítimas são demasiadamente jovens, fracas ou mesmo doentes, para conse guirem proteção ou se protegerem. Outras por meio de coação, de pressões culturais ou convenções sociais são forçadas a manterem suas experiências sob o árduo silêncio (SANTOS, GONÇALVES, VASCONCELOS, & VIANA, 2014).
A violência doméstica é justamente uma demonstração de que pessoas vítimas estão englobadas nos chamados grupos vulneráveis (mulheres, jovens, adolescentes, crianças e idosos). As consequências da violência doméstica podem ser muito sérias, pois crianças e adolescentes aprendem com cada situação que vivenciam, seus aspectos psicológicos são condicionado pelo social e o primeiro grupo social que a criança e adolescente tem contato é a família (VYGOTSKY, 1978).
O meio familiar ainda é considerado um espaço privilegiado para o desenvolvimento físico, mental e psicológico de seus membros, um lugar ‘sagrado’, porém em muitos casos é também espaço de conflitos (ROSAS & CIONEK, 2006).
Desta forma, para se alcançar às raízes do problema da violência doméstica é necessário quebrar o paradigma de famíli
a enquanto instituição intocável, desta forma os atos violentos ocorridos no contexto familiar não permaneçam no silêncio, mas sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar providências.
Conceito da Violência
No plano internacional e nacional, a violência é reconhecida como uma questão social e de saúde pública (SCHRAIBER, D'OLIVEIRA, & COUTO, 2006) (DAHLBERG & KRUG, 2006). Ela é considerada mundialmente violação de direitos. Ela se dá nos mais diversos espaços, tanto públicos quanto privados, nas relações institucionais, grupais ou interpessoais. Ainda não há elementos suficientes para lidar com um domínio tão amplo, gerado por interconexões ainda não muito conhecidas (SCHRAIBER ET AL., 2006).
Impasses em lidar com a liberdade e os direitos sociais do ser humano e suas conexões com as responsabilidades éticas e civis, a desconexão da esfera relacional, situando o ser humano cada vez mais na esfera individual, a volatilidade de valores dentro da sociedade, a coisificação do indivíduo, entre outros, favorecem e promovem o incentivo a violência cada vez mais em nossa sociedade (BAUMAN, 2013).
O Relatório Mundial sobre Violência e Saúde traz a seguinte definição para este conceito (violência) tão amplo:
uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha a possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (KRUG ET AL., 20 02:5).
Esta definição abarca uma gama de significados e situações tais como, injúria psicológica, privação e desenvolvimento precário. Ela reflete um crescente reconhecimento entre pesquisadores da necessidade de incluir a violência que não produza necessariamente sofrimento ou morte, mas que, apesar disso, impõe um peso substancial em indivíduos, famílias, comunidades e sistemas de saúde em todo o mundo.
A inclusão da palavra “poder” e da expressão “uso da força física”, amplia a natureza de um ato violento e expande o entendimento convencional de violência, dessa forma também, passa-se a incluir atos que resultam do poder, como ameaças, intimidações, negligências ou atos de omissão. Assim, o uso do poder ou da força física deve ser entendido de forma a incluir a negligência e todos os tipos de abuso físico, sexual e psicológico e outros atos de auto-abuso (KRUG ET AL., 2002).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) criou uma tipologia para que se pudesse caracterizar os diferentes tipos de violência e os elos que as interligam. A tipologia aqui proposta divide a violência em três amplas categorias, segundo as características daqueles que cometem o ato violento: a) violência autodirigida; b) violência interpessoal; c) violência coletiva. A categorização inicial estabelece uma diferença entre a violência que uma pessoa inflige a si mesma, a violência infligida por outro indivíduo ou por um pequeno grupo de indivíduos e a violência infligida por grupos maiores, como estados, grupos políticos organizados, grupos de milícia e organizações terroristas (KRUG ET AL., 2002).
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