Os primeiros passos no processo de se tornar um psicoterapeuta no âmbito de uma abordagem centrada na pessoa
Tese: Os primeiros passos no processo de se tornar um psicoterapeuta no âmbito de uma abordagem centrada na pessoa. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: pereirakeila • 5/11/2014 • Tese • 4.610 Palavras (19 Páginas) • 551 Visualizações
Artigos Originais
Os primeiros passos no processo de tornar-se psicoterapeuta sob o referencial da Abordagem Centrada na Pessoaa
The first steps in the process of becoming a psychotherapist under the reference of The Person-Centered Approacha
Vera Lucia Pereira Alves*; Daniela Dantas Lima**
Resumo
O processo de tornar-se psicoterapeuta, segundo os princípios da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), não é algo que ocorra com a aprendizagem da graduação, demanda muito mais prática do que a oferecida durante este curso; é nas clínicas escola que o estudante começa a trilhar seu caminho. O presente trabalho teve como objetivo compreender como se dava o processo de tornar-se psicoterapeuta de alunos do último ano de um curso de psicologia, em uma universidade privada do estado de São Paulo, Brasil, descrevendo parte de sua experiência e seus significados, reconhecendo os sentimentos vivenciados ao longo do processo. O material de estudo foi o registro escrito do sentido de cada uma das sessões realizadas, nomeado por Versões de Sentido (VS). Os textos das VS foram analisados em acordo aos princípios da metodologia fenomenológica. Observou-se que o momento vivido por esses estudantes compreendia quatro fases distintas: angústia, compreensão, retrocesso e separação, sendo cada uma delas repleta de especificidades, e foi fomentado o questionamento de se estas seriam "fases de um psicoterapeuta iniciante" ou "fases com um cliente iniciante".
Descritores: Psicoterapia; Ensino; Prática (Psicologia); Humanismo; Aprendizagem.
Abstract
The process of becoming a psychotherapist, according to the principles of the People- Centered Approach (PCA) is not something that occurs during graduate studies, demanding a lot more practice than what is offered during this course, it is in the school clinics that the students begin to mark their path. The present work aimed to understand how the process of becoming a psychotherapist was experienced by students in the last year of a Psychology course in a private university in the state of São Paulo, Brazil, describing part of their experience and its meanings, and recognizing the feelings lived during the process. The study material was the written register of the meaning of each of the sessions that occurred, named Versions of Meaning (VM). The texts of the VMs were analyzed according to phenomenological methodology. It was noted that the moment lived by these students encompassed four distinct phases: anguish, understanding, regression and separation; being each of them full of specifics and fostering the questioning of whether these would be "phases of a novice psychotherapist" or "phases of a novice client."
Keywords: Psychotherapy; Teaching; Practice (Psychology); Humanism; Learning.
INTRODUÇÃO
A atividade de psicoterapia é realizada no Brasil principalmente pelos profissionais de psicologia e medicina. Para os primeiros, o Conselho Federal de Psicologia1, - autarquia pública que orienta, fiscaliza e disciplina a profissão de psicólogo - especificou e qualificou, somente em 20002, a psicoterapia como prática profissional. Contudo, essa atividade tem sido ensinada nos cursos de graduação em psicologia e nos de especialização e formação para os já graduados mesmo antes dessa resolução.
Os cursos de psicologia contemplavam até a primeira metade da década de 1990, o ensino da atividade de psicoterapia e dos atendimentos clínicos, notadamente, apenas em acordo aos referenciais psicanalítico e comportamental. Desde 1992, com o movimento iniciado pelo Conselho Federal e Conselhos Regionais de Psicologia para a abertura aos sistemas teóricos ausentes até então, das salas de aula3, que resultou na Carta de Serra Negra4 e mais especificamente em 1999 com o lançamento de novas propostas para as diretrizes curriculares, evidenciou-se uma mudança de direcionamento. As "três forças" de psicologia passaram a ser igualmente transmitidas nas instituições de ensino superior, priorizando a importância da diversidade teórica e metodológica nos estudo dos fenômenos psicológicos5.
A partir destas novas diretrizes, muitos cursos de psicologia começaram a implantar em seus currículos a disciplina de Psicologia Humanista - a terceira força em psicologia3. Via de regra, essa teoria passou a ser ensinada entre os primeiros quatro anos de curso, anteriores à prática clínica exercida no quarto ou quinto e último ano do curso, quando os alunos iniciam a atividade de atendimento, baseando-se nos princípios aprendidos teoricamente. As diferentes escolas a ela pertencentes têm sido apresentadas, tais como Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), Gestalt-terapia, Psicodrama, entre outras. E é em acordo com os princípios de algumas destas escolas que ocorrem as diferentes práticas clínicas do aluno (entre elas a psicoterapia) bem como a supervisão no penúltimo ou último ano do curso3.
A Abordagem Centrada na Pessoa foi instituída pelo psicólogo norteamericano Carl Rogers, tendo sua origem reportada ao início da década de 1940 e partindo de pressupostos contrários aos das abordagens teóricas psicológicas vigentes até então. Ela estabelece a concepção de pessoa como unidade indivisível, que incorpora tudo que a cerca e possui recursos próprios internos para seu desenvolvimento6. Dentre seus principais conceitos, alguns se fazem essenciais para a compreensão de sua teoria da personalidade e consequente sentido de seu processo terapêutico. Denomina-se organismo a totalidade do indivíduo compreendida pela unidade biopsicossocial; self e experiência, sendo self a imagem ou ideia que o indivíduo tem de si, como retrata sua identidade e experiência, o momento de contato imediato com qualquer tipo de fenômeno e os sentimentos despertos nesta vivência, antes mesmo de se tornarem conscientes (representados, simbolizados)7,8. A tendência atualizante, interna ao desenvolvimento, é central na teoria e diz respeito à tendência inerente que move todos os organismos vivos, inclusive os seres humanos, em direção à totalidade, à realização de suas potencialidades, de maneira a favorecer sua conservação e enriquecimento7,9.
A mobilização que faz o indivíduo procurar a ajuda de um psicoterapeuta é invariavelmente ocasionada pelo estado de incongruência em
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