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Posição do Analista na Clínica Psicanalítica Infantil

Por:   •  13/7/2020  •  Artigo  •  1.921 Palavras (8 Páginas)  •  196 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

ALINE RESENDE

A POSIÇÃO DO ANALISTA NA  CLÍNICA  PSICANALÍTICA INFANTIL

São João del-Rei novembro 2019

A posição do analista na clínica psicanalítica infantil

Resumo: O presente artigo visa explorar a importância da posição do analista na clínica psicanalítica infantil, tendo como referência a sistematização de princípios da psicanálise desenvolvida por Freud para adultos neuróticos, o debate teórico iniciado por Anna Freud e Melanie Klein e posteriormente as formulações teóricas de Lacan, pautadas na ética psicanalítica,  e nas contribuições dos autores que os sucederam.

Palavras-chave: clínica psicanalítica infantil, posição do analista, ética psicanalítica

Inicialmente, Petri (2008) esclarece que para sistematizar as condições para a psicanálise com crianças e levantar princípios gerais para a direção do tratamento, é importante fazer um mapeamento do campo a partir do que já foi formulado sobre o tratamento com adultos neuróticos, sendo este o tratamento-padrão formulado por Freud, que se mantém como ponto de partida e principal referência.

Freud desenvolveu o procedimento padrão para a realização de uma psicanálise, chamada por Petri (2008) como ‘técnica clássica’, sistematizando princípios e regras  a fim de estabelecer, conforme sua experiência clínica, as melhores condições para se atingir o objetivo desejado no tratamento analítico. Freud em Recomendações ao médico para o tratamento psicanalítico (1912), fez  algumas recomendações aos analistas, dentre as quais, a de sua maior preocupação era o que não fazer na psicanálise. Chamadas de recomendações negativas por Petri (2008), Freud advertia, principalmente, que não cabe ao analista abusar de sugestões e interpretações, inculcar os seus ideais e nem modelar o analisando, como se fosse uma criação sua.

Dentre princípios,  regras e recomendações sistematizados por Freud, consideramos a posição do analista de grande importância para que a psicanálise ocorra, pois, é na posição do analista onde a ética da psicanálise se desvela. Petri (2008) considera esta uma   questão de importância vital, pois está  ligada ao modo como o analista age  seu próprio ser.

Ressaltando que Lacan, mais tarde, retirou a Psicanálise do âmbito das regras para situá-la na esfera da ética referindo ao desejo do analista como a força motora da psicanálise. (Fink, 2018).

Freud não desenvolveu  propriamente as condições para a psicanálise com crianças, sendo que esta tarefa foi inicialmente atribuída a sua filha Anna Freud, cujas ideias representam as primeiras teorias e técnicas formuladas para a psicanálise com crianças.

Anna Freud propôs uma conjunção entre educação e psicanálise, defendendo não ser possível estabelecer uma relação puramente analítica com uma criança, tendo a psicanálise infantil uma função educativa. (Petri, 2008). Para ela, a criança não é um sujeito desejante, não tem vontade de cura-se, não consegue praticar a associação livre, restando, portanto, inviável a instalação da neurose de transferência. Desta forma, entende-se que na visão da autora, a posição do analista na psicanálise infantil é mais de um educador, de alguém que tem uma posição diretiva, buscando uma identificação da criança com o ideal de eu, lugar esse ocupado pelo analista. Anna Freud ressalta também que inicialmente é necessário estabelecer uma relação afetiva e emocional com a criança para esta ganhar confiança e aceitar o tratamento se abrindo com o analista. Além disso,  o analista também deve contar com a ajuda e colaborações dos pais.

Conforme Petri (2008), o trabalho de Anna Freud está situado no campo da pedagogia, pois desconsidera princípios básicos da psicanálise, sobretudo com relação à ética analítica e a posição do analista, pois destinou a posição de ideal do eu ao analista, impondo à criança ideais alheios.

No entanto, não se pode negar que primeira importante problematização da psicanálise com crianças se deu com Anna Freud e com o confronto de suas ideias por Melaine Klein. Dentre outas questões, as duas divergiram quanto à posição do analista.

Para Melaine Klein, a análise com criança e adulto é igual, não estabelecendo nenhuma diferença entre a posição ocupada pelo analista. Contrapondo as ideias de Anna Freud, Klein afirma ser  incompatível com análise qualquer influência educativa, sendo que educação e psicanálise são processos distintos e feitos por profissionais diferentes. São duas tarefas difíceis e contraditórias. O supereu da criança não está vinculado aos pais reais, conforme entendia Anna Freud, mas internalizados na própria criança  e esta, sim, pratica a associação livre, mas através da atividade lúdica. (Petri, 2008).

Após a composição deste referencial teórico iniciado entre Melaine Klein e Anna Freud, outros autores surgiram trazendo suas contribuições. Com os desenvolvimentos teóricos posteriores da teoria lacaniana, novos avanços foram feitos no campo da psicanálise com crianças, contribuindo para a nova prática de análise com criança que se desenvolveu na França com Françoise Dolto, Maud Mannoni, Rosine Lefort e Robert Lefort, dentre outros.

Enfim, com base nestes autores, hoje se entende que a  Psicanálise é uma só, seja de criança seja de adulto. Não há impedimento para que se conduza a análise de uma criança segundo princípios da ética psicanalítica. A criança é um sujeito inteiro em análise, tal como o adulto. Mas também não se pode negar que há singularidades no trabalho psicanalítico com crianças. Falaremos destas singularidades quanto à posição do analista.

A entrada em análise se dá pelo direcionamento do sintoma ao analista sob a forma de uma demanda. Isto significa que o sintoma não coincide, necessariamente, com a demanda explícita. Petri (2008) esclarece que, conforme orientação lacaniana, o sintoma é uma mensagem que tem um sentido e é direcionada a um Outro para ser decifrada. Sintoma é a manifestação de uma satisfação pulsional que não teve lugar e foi reprimida. O sujeito procura a análise acreditando existir no sintoma um saber a ser decifrado na busca pela cura de seu sofrimento.

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