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Post-Scriptum Sobre as Sociedades de Controle

Por:   •  18/10/2018  •  Pesquisas Acadêmicas  •  1.066 Palavras (5 Páginas)  •  225 Visualizações

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Post-Scriptum Sobre as Sociedades de Controle[1]

DELEUZE, Gilles. Post-Scriptum Sobre as Sociedades de Controle. In: DELEUZE, Gilles. Conversações. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992. p. 219-226.

Gilles Deleuze (1925- 1995) é considerado um dos filósofos mais renomados do século XX. Deleuze estudou filosofia na Universidade de Sorbonne, Paris, entre 1944 a 1948, e escreveu grandes obras acerca da história da filosofia e livros de conceitos. Após o ato revolucionário do famoso maio de 68, Deleuze escreveu junto a Guattari, sob os influxos deste grande marco, obras como O Anti- Édipo (1972) que dizem muito acerca da filosofia, antropologia, política e psicologia no mundo moderno. Deleuze, com grande base em Foucault, escreveu um artigo titulado Post-Scriptum Sobre as Sociedades de Controle, que se encontra no livro Conversações, que retrata com vigor o poder das diferentes prisões sociais no enquadramento da subjetividade dos indivíduos.

Post-Scriptum Sobre as Sociedades de Controle, trata acerca da crise na qual os meios de confinamento se encontram. As sociedades disciplinares (prisão, escola, igreja, exército, etc.) tiveram sua origem no Hospital Geral, criado pelo rei da França em 1965, que tinha como objetivo servir de abrigo de caridade para a parte da sociedade desabrigada. Porém, o cunho de caridade do hospital logo transformou-se em político e social, onde o intuito agora era a exclusão de minorias sociais. O Hospital Geral foi assim nomeado por Foucault de “O Grande Enclausuramento”, onde a única função era aprisionar aquelas minorias sociais que destoassem do restante da população. Após a Revolução Francesa e a Queda da Bastilha, com os ideais de igualdade, fraternidade e liberdade instaurados na sociedade, médicos começaram a atuar no Hospital Geral e, aos poucos, a visão de aprisionamento foi se distanciando e o hospital tornou-se assim, uma instituição médica, em tese.

O Hospital Geral foi apenas o marco inicial para a criação de outras instituições totalitárias disciplinares. A escola, fábrica, exército e a própria família, são todos produtos de um sistema prisional autoritário, cuja a finalidade é controlar os corpos, e dar ao indivíduo uma subjetivação limitada por meio da objetividade que rege essas instituições, afim de controla-lo. Assim, as instituições disciplinares distribuem os corpos, e controlam o seu comportamento, e tudo que foge as normas, assim como nas prisões, é passível de punição. Desta forma, o Estado visa construir uma sociedade dócil e passível.

A construção dos corpos dóceis se dá justamente por meio de um adestramento dos corpos, que torna os indivíduos obedientes, podendo desta forma serem utilizados, transformados e aperfeiçoados. O adestramento se dá por meio do poder disciplinar, que faz com que as medidas punitivas não sejam dadas de forma física ou verbal, há aqui uma violência também de cunho psicológico, que deixa o indivíduo em constante autovigilância e que pune a si mesmo caso algo fuja do próprio controle.

Porém, as instituições disciplinares, tais como as conhecemos, estão fadadas ao fim. Tal fato pode ser observado uma vez que estas instituições vêm passando por constantes reformas, adaptando-se a realidade contemporânea que se encontra cada vez mais mergulhada nos avanços tecnológicos. As instituições disciplinares perdem a sua força, mas os seus sujeitos dóceis ainda persistem na sociedade mesmo que fora destes ambientes autoritário pois, segundo Foucault, o indivíduo passa a ser controlado por três meios globais absolutos: o julgamento, medo e destruição. Assim surge o que Gilles Deleuze irá denominar como sociedades de controle. Nesta nova concepção de sociedade as instituições disciplinares não irão deixar de existir, o que irá ocorrer é que o indivíduo, por influência dos avanços tecnológicos e, consequentemente, do capitalismo, irá se tornar mais flexível e maleável. O poder disciplinar que até então era aprisionado dentro das paredes das instituições, é interiorizado pelo sujeito e levado para todos as esferas sociais.

Dado o exposto, percebe-se que na sociedade de controle, diferente da sociedade disciplinar, não se faz mais necessário a figura de uma autoridade presente o tempo todo para punir o sujeito, uma vez que as regras são interiorizadas e os indivíduos passam a julgar uns aos outros, o controle passa a ser virtual, uma constante vigilância. O capitalismo assim, falsifica uma ideia de liberdade e vende isso a massa, pois os controles tornaram-se mais sutis. O capitalismo se transforma com os avanços tecnológicos e os meios de produção deixam de ser o foco, e o controle social se dá por meio do marketing, que têm em vista unicamente a venda do produto final. O marketing controla também a subjetivação dos indivíduos, e isso fica evidente no quão forte a mídia impõe, por exemplo, uma ditadura da beleza. Esta ditadura, empregada na moda, revistas e publicidades no geral, visa unicamente a obtenção de lucro, e aprisiona psicologicamente o indivíduo em uma constante busca pelo corpo perfeito, podendo gerar inclusive transtornos psicológicos, como a anorexia e bulimia.

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