Psico-Higiene e Psicologia Institucional – Bleger
Por: lorenacristina22 • 5/3/2017 • Resenha • 14.957 Palavras (60 Páginas) • 3.352 Visualizações
Psico-Higiene e Psicologia Institucional – Bleger
Introdução (Lorena C.)
É evidente que aprendemos — como espécie — a manejar os fatos naturais, a manejar a natureza, a construir e manejar instrumentos, técnicas e objetos, mas não aprendemos ainda o suficiente para orientar a vida e as relações dos seres humanos, quer sejam estas de caráter individual, grupal, institucional ou comunitário (nacional e internacional). Creio que a psicologia pode e deve gradualmente nos oferecer uma cota de bens considerável para salvaguardar e melhorar a vida dos seres humanos. Enfocada desta maneira, a psicologia tem que se inserir, penetrar cada vez mais na realidade social e em círculos mais amplos, incluindo o estudo dos grupos, das instituições e da comunidade, tanto como problemas sociais nacionais e internacionais de todo tipo, já que a dimensão psicológica se faz presente em tudo, posto que em tudo o ser humano intervém.
Capítulo 1: O psicólogo clínico e a higiene mental (Lorena C.)
Sabemos que a melhor medicina seria aquela na qual os profissionais dedicassem seus esforços à saúde pública, quer dizer, dentro de uma organização quecentre e dirija os esforços coletivos para proteger, fomentar e reparar a saúde. E, no entanto, o médico profissional é preparado e exerce, em forma individual, uma medicina fundamentalmente assistencial. Esperamos que a pessoa adoeça para curá-la, no lugar de evitar a doença e promover um melhor nível da saúde. Isso é um problema de difícil resolução, que encontra certa resistência em ser mudado pela comunidade médica. É necessário levar em conta que são as condições sociais e econômicas as que atualmente tornam mais fácil para o profissional a praticada medicina privada, assistencial e individualista. É muito possível, no entanto, que muito rapidamente isto vá deixando de ser certto em nosso país, ou talvez já não o seja. São muito variados os campos de atuação do psicólogo clínico; mas se este se acha interessado predominantemente nos problemas psicológicos da saúde, tem que se situar corretamente no, até agora, pouco definido campo da higiene mental e, à medida em que o vá fazendo, o campo irá se configurando mais clara e nitidamente. No entanto, a carreira de psicologia terá que ser considerada como um fracasso, a partir do ponto de vista social, se os psicólogos ficam exclusivamente e em sua grande proporção limitados à terapêutica individual.A função social do psicólogo clínico não deve ser basicamente a terapia e sim a saúde pública e, dentro dela, a higiene mental. O psicólogo deve intervir intensamente em todos os aspectos e problemas que concernem a psico-higiene e não esperar que a pessoa adoeça para recém poder intervir.
Higiene mental e psico-higiene
Habitualmente para se ensinar higiene mental, passasse conteúdos sobre psicologia e psicopatologias. No entanto, ter conhecimento sobre tais temas não significa conhecer a higiene mental, ainda que esta última pressuponha o primeiro. O que corresponde em um seminário de higiene mental é o estudo da administração dos conhecimentos, atividades técnicas e recursos psicológicos que já foram adquiridos, para encarar os aspectos psicológico da saúde e da doença como fenômenos sociais e coletivos. Temos que adquirir uma dimensão social da profissão do psicólogo e, com isto, consciência do lugar que ela ocupa dentro da saúde pública e da sociedade (olhar a saúde da comunidade).
Objetivos da higiene mental
Um dos primeiros objetivos, com o qual nasce a higiene mental, é “fazer algo pelo doente mental”, no sentido de modificar a assistência psiquiátrica, levando-a a condições mais humanas e com isto à possibilidade de uma maior proporção de curas. Um segundo objetivo é realizar o diagnóstico precoce das doenças mentais, aumentando a taxa de curas, diminuindo o sofrimento, juntamente no tempo necessário de intervenção. Em nossa realidade atual, o diagnóstico se faz ainda muito tardiamente, e se diagnostica a doença mental em momentos ou períodos equivalente ao do diagnóstico do câncer em fase terminal. O terceiro objetivo diz respeito a profilaxia ou prevenção das doenças mentais, agindo antes que estas façam sua aparição, ou seja, evitando-as.
Também aparece na higiene mental a necessidade de atender a reabilitação tanto de pacientes que precisam ser reintegrados a vida plena, quanto para aqueles com déficits ou seqüelas. O objetivo mais recente da higiene mental não mais se refere apenas a profilaxia, mas também a um equilíbrio, de um melhor nível de saúde na população (atenção para a vida cotidiana dos seres humanos). Além disso, não deixa de ser certo que, em boa medida, os conhecimentos necessários para atuar na profilaxia, na reabilitação e na promoção da saúde derivam do campo da patologia e da terapêutica. A profilaxia, como possibilidade concreta, chega muito tarde no campo da psiquiatria, pelo fato de que para desenvolvê-la requer-se conhecer as causas da doença, o qual — em forma cientificamente rigorosa — fica ainda como uma perspectiva do futuro. De tal maneira, a profilaxia específica (atacar uma causa para evitar uma dada doença) só se torna atualmente possível em muito poucos casos (paralisia geral progressiva, por exemplo), de tal maneira que nossa arma profilática mais poderosa no presente é de caráter inespecífico: a proteção da saúde e, com isto, a promoção de melhores condições de vida.
O psicólogo clínico deve ocupar um lugar em toda equipe de saúde pública, em qualquer e em todos os objetivos da higiene mental, nos quais tem funções específicas para cumprir (as da psico-higiene).
Extremos em higiene mental
Existem algumas atitudes e preconceitos que devemos estudar e nos prevenir, frente a higiene mental. Um dos primeiro preconceitos refere-se aos dos pólos idealização-menosprezo das possibilidades da higiene mental: ou se espera desta última soluções milagrosas ou se desvalorizam todas as suas possibilidade e realizações. Estas atitudes extremas dificultam ou impossibilitam o necessário sentido de realidade e, como em todas as atitudes extremas, uma vez embarcados em uma delas, com facilidade gira-se à inversa. Com isso, corre-se paralelamente o risco de flutuar entre a impotência e a onipotência, com todos os prejuízos e danos de ambas.
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