RELIGIÃO, ÉTICA E PSICOLOGIA: EXISTE DIÁLOGO POSSÍVEL?
Por: Ana Mauri • 4/11/2019 • Trabalho acadêmico • 3.173 Palavras (13 Páginas) • 154 Visualizações
UNIVERSIDADE POSITIVO
CURSO DE PSICOLOGIA
RELIGIÃO, ÉTICA E PSICOLOGIA: EXISTE DIÁLOGO POSSÍVEL?
Trabalho apresentado a disciplina de Ética, Legislação e Contemporaneidade como avaliação integral do 1º Bimestre do 5º ano do Curso de Psicologia, da Universidade Positivo. Prof.° Adjuto de Eudes Fabri.
CURITIBA
2017
INTRODUÇÃO
Configurada como um conjunto de símbolos, assim como rituais os quais tem significados para as pessoas, tendo como suporte as crenças de grupos de pessoas que se identificam com determinada crença a religião é algo que sempre esteve presente na sociedade, sendo assim, é um dos aspectos de maior influência na vida do indivíduo ou de forma coletiva, afetando fortemente as pessoas quando o assunto é algo inquestionável.
A religião se dá por meio do convívio familiar e social a qual vai sendo interiorizada ao longo da vida, norteando à maioria das pessoas a maneira de como se portar e conviver. A prática religiosa envolve valores morais e trazem sentido à vida e se apresenta de maneira cultural.
Para Bowker (apud VIANA, 2014) a religião une as pessoas a partir das crenças que as mesmas têm em comum, aproximando-as por meio de um objetivo, pode-se dizer assim que a pratica religiosa é algo bastante antigo desde os primórdios e algo passado de geração para geração, dessa maneira pode-se afirmar que a religião se tem, por assim dizer, uma grande contribuição na construção das relações humanas.
Mas se de um lado a religião une, por outro lado também separa as pessoas devido a não concordância com as mais variadas crenças religiosas que existem no mundo, se formos mais além segundo Viana (2014) e levarmos em consideração igreja e estado, democracia e liberdade de expressão, há luta e matança tudo em nome da religião, claro evidenciando que há exceções.
Por esta razão não podemos falar da religião sem que se fale da ética, pois estas estão ligadas naturalmente de maneira filosófica, de forma que o ideal ético estava na busca teórica e na pratica do bem e de acordo com a natureza, porém isso varia para cada época.
A ética e a moral são preocupações antigas da sociedade, assim para Vasquez (1995) “O ético transforma-se assim numa espécie de legislador do comportamento moral dos indivíduos ou da comunidade”. Ou seja, no decorrer do tempo a ética vem sendo moldada de acordo com a época pois segundo Viana (2014) para Platão e Aristóteles a conceituação de ética se associa a ideia de felicidade, mas no decorrer das épocas essa definição mudou apresentando a ética como um modelo de obrigação, dever. Com isso, ser ético diz respeito a agir adequadamente e relacionando a ética com a religião e Psicologia, é possível perceber que a religião atualmente tem ganhado bastante força e as pessoas as tem procurado para o alivio de dores emocionais, a tênue linha entre a psicologia é exatamente essa, devido a isso que indivíduos ligados a grupos religiosos vem procurando a psicologia para auxilia-los (VIANA, 2014).
Dessa maneira, as perguntas a serem feitas que só por meio de pesquisas mais aprofundadas podem ser respondidas são: De que forma os representantes utilizam-se da psicologia no meio religioso? Quando é considerado um exercício profissional ou não. Frente a isso esse trabalho visa apresentar uma breve análise do ponto de vista psicológico da ética na religião que pode vir a responder tais questões futuramente.
DESENVOLVIMENTO
A religião faz parte da cultura, e é formada por mitos, rituais, regras morais, interpretando o processo cultural à sua luz e atribuindo novos significados, influenciando sobre o que pode ou não pode ser feito pelo individuo, assim caminha entre as tradições herdadas do passado e novas descobertas do presente (HEFNER, 2007 apud HENNING e MORÉ, 2009).
Na perspectiva de Henning e Moré (2009), a espiritualidade acompanha o homem ao longo da história. Desta forma, se faz presente nos atendimentos clínicos de Psicologia, trazida como parte da constituição psicológica dos clientes que procuram auxílio profissional para seus problemas. Entretanto, a religião, foi colocada em tela na época moderna, principalmente pela dificuldade metodológica da prova da existência em termos concretos da fé, frente a uma cultura de conhecimentos em que as relações precisavam ser quantificadas. A Psicologia sofreu efeitos deste paradigma científico, apesar de se constituir como uma ciência humana, o que gerou uma tensão frente à possibilidade de se adotar a Religião como campo ou elemento de estudo.
Stadtler (apud HENNING e MORÉ, 2009), afirma que os psicólogos foram quase que proibidos de abordar os clientes pela via da religiosidade apresentada pelos mesmos. Para a autora, esse tipo de posicionamento positivista tem causado muitas incompreensões e problemas profissionais devido às pressuposições assumidas sobre a vida mental dos clientes, ao adotar-se o mesmo tratamento para situações que na verdade são bem diferentes: crença religiosa/doença mental, racionalidade/loucura, misticismo/alucinação. Entretanto, dada a influência da religiosidade na cultura e nos valores pessoais, o fenômeno religioso se faz presente nos atendimentos psicológicos.
Para Vergote (2001 apud HENNING e MORÉ, 2009), o Psicólogo deve considerar o indivíduo em seu contexto cultural-religioso, na escuta clinica deve estar atento para as expressões religiosas e interpretá-las sem ajuizamentos sobre a verdade de tais convicções. As crenças religiosas interferem na autoimagem que o sujeito faz de si, e na percepção que tem do mundo e dos eventos que ocorrem, portanto influencia na sua personalidade. Dessa forma, o individuo acaba por assimilar características psicológicas e comportamentais pertencentes ao grupo religioso da qual frequenta. Portanto, os profissionais devem possibilitar a emergência da religiosidade/espiritualidade de seus clientes no setting terapêutico, considerando a temática como parte de sua realidade e, por meio do discurso religioso (mas sem ater-se a ele), ajudá-los a chegar ao cerne da questão. Isto pode ser considerado como uma forma de se utilizar a religiosidade a serviço da psicoterapia, partindo da ideia de que ambas são potencialmente capazes de promover saúde e bem-estar (HENNING e MORÉ, 2009).
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