RESENHA SOBRE FORMAÇÃO E AUTORIDADE: A EDUCAÇÃO HUMANISTA, DE CLAUDE LEFORT
Por: sergiocampos3000 • 23/5/2020 • Resenha • 1.941 Palavras (8 Páginas) • 273 Visualizações
ANTONIO SERGIO FERRAZ DE CAMPOS
RESENHA SOBRE FORMAÇÃO E AUTORIDADE: A EDUCAÇÃO HUMANISTA, DE CLAUDE LEFORT
Trabalho de resenha realizado para conclusão da matéria Psicanálise, Discursos Educacionais e Dispositivos Escolares, dentro do curso de Mestrado em Educação.
São Paulo
2019
RESENHA SOBRE FORMAÇÃO E AUTORIDADE: A EDUCAÇÃO HUMANISTA, DE CLAUDE LEFORT
Claude Lefort. Claude Lefort (Paris, 21 de março de 1924 — Paris, 3 de outubro de 2010) foi um historiador da filosofia e filósofo francês. Ele era politicamente ativo em 1942, sob a influência do seu tutor, o fenomenologista Maurice Merleau-Ponty (cujas publicações póstumas Lefort posteriormente editou). Dentre sua produções literárias, destaca-se “Formação e Autoridade: A Educação Humanista”, que se trata de uma comunicação apresentada no XXVII Encontro Internacional de Genebra. In: Histoire et Société d´aujourd´hui, former I´homme? Éditions de la Baconniére, Neuchãtel, Suiça, 1979. O texto aborda o tema do “humanismo na educação e sua influência na formação e autoridade dentro da educação”, a partir dos cursos que Lefort proferiu na École des Hautes Études en Sciences Sociales na segunda metade dos anos 70 do século passado. Nosso objetivo é mostrar que esse tema (Educação Humanista), que havia sido fundamental na elaboração das reflexões do autor sobre Maquiavel nos anos anteriores, foi uma ponte para suas reflexões posteriores sobre questões como a da democracia e do surgimento do Estado Moderno. Dentre suas fontes no tema política, está Maquiavel, personagem do qual Lefort se baseou para escrever os primeiros escritores políticos, principalmente em Le Travail de L`oeuvre Machiavel e Nicolau Maquiavel e Étienne de La Boétie, abordando também o tema "a empresa totalitária", em sua "negação da divisão social e a diferença entre a ordem de poder, a ordem da lei e da ordem do conhecimento. (Fontes: Revista eletrônica USP - http://www.revistas.usp.br/discurso/article/view/147369/141434 e o site Wikipédia https://pt.wikipedia.org/wiki/Claude_Lefort).
O autor inicia o texto declarando seu objetivo de almejar interrogar a ruptura que ora se produz não somente no sistema de ensino, mas também na concepção de educação entendida como formação do homem. Ele afirma que é fato que um certo ideal, que se pode chamar de ideal humanista de educação, encontra-se, hoje, em via de desaparecer. Numa época em que se vêem subitamente sacudidas as instituições, práticas, crenças, tão profundamente arraigadas que pareciam naturais, somos com frequência tentados a voltar ao tempo dos começos. Seria sinal de nostalgia, esse retorno aos começos, seria sinal de resistência a acolher o novo? “Talvez...afinal, estamos assistindo a gestação de um mundo novo e aceitar o novo pode ser um processo, pode ocorrer em fases ou etapas, dificilmente ocorre de maneira abrupta ou com rupturas breves e rápidas e também nem sempre é geral ou abrange o todo, seja na adesão das pessoas, as quais nem todas aderem de imediato ou aceitam mudanças e novidades, ou seja na adesão das instituições que também prerrogam por suas tradições, linhas de pensamentos e ideais aos quais não se desapegam ou modificam facilmente. Idem ocorre com a própria cultura do homem”, (Fonte: Comunicação apresentada no XXVII Encontro Internacional de Genebra).
Para não ficar tão abstrato a questão do “novo X velho” abordado por Lefort, vale ressaltar que ele implicitamente se refere a questão da educação escolástica, em que instituições como a Igreja católica protagonizava as diretrizes da educação construindo conceitos que eram impostos ao povo e detinham o poder de decisão e determinação dos conhecimentos que seriam passados à população e, principalmente, focando tão somente o objeto de conhecimento, sem considerar o sujeito que receberia esse conhecimento, ignorando suas necessidades e até sua existência no que diz respeito a vontades, autonomia, visão própria e liberdade analítica ou crítica.
Portanto, o autor indaga dentro deste contexto sobre nossos ancestrais do início do século XIX, “se eles enganavam-se, talvez... e talvez somente no presente e no famoso continente Europa, há muito tempo ameaçado, e uma nova cultura ocidental e mais universal está sendo desenhada sobre os destroços da antiga. Ou então, o que denominávamos cultura desagrega-se e está prestes a dar lugar a algo ainda inominável. Porém, aqueles que se contentam em afirma-lo serão sem dúvida mais convincentes se, com mais frequência, não ignorem a História ou não levem outros a ignorá-la”.
Quanto as mudanças, talvez inevitáveis, o autor nos convida a observarmos em nossos dias, a noção de “mudança” que pode nos deixar obnubilados. Quando a mudança é apenas um pensar vazio, sem razão ou sustentação para tal, ou ocorre apenas em uma troca pela troca, sem mais profundidade e um inovar pelo inovar, sem maiores responsabilidades.
Dentro deste cenário de mudanças, Lefort se referia ao final da década de 70 com as necessidades de mudanças que visavam mais num movimento performático político e demagógico, sem concretude e embasamento sólido ou planejamento, sendo assim, independente da forma destas mudanças, o autor discorre que o antigo sistema de ensino não podia mais resistir às transformações do mundo moderno. Porém, não é tanto a modificação do sistema em si que interessa e acredita que se pode disputar indefinidamente a respeito das virtudes e dos vícios das reformas educacionais estabelecidas ou propostas nas condições atuais. Ele continua neste foco sobre o sistema de ensino destacando o fato de que é ordenado em função de uma representação da educação com um ideal de homem a ser formado e implica um desejo – desejo de os indivíduos alcançarem, com sua formação, uma certa maneira de ser, de trabalhar, de se relacionarem entre si na sociedade.
Sobre a educação, Lefort diz que um projeto de educação sempre traz a marca de uma interpretação do homem e da sociedade. Uma interpretação atual, de hoje, mas que incita para o autor voltar ao tempo, no ontem, em que se desenhava pela primeira vez uma concepção humanista da educação, um ideal pedagógico, os quais vemos serem cada vez mais recusados. Assim, ter na memória esse humanismo pode ser a melhor maneira de estarmos em condições de apreciar as pretensões do presente à inovação e investigar se as respostas hoje formuladas ou esboçadas estão à altura das questões outrora abertas. Nesse ontem, está incluído uma das primeiras vezes que foi formulado o desígnio de uma formação do homem. Esse lugar é Florença, onde baliza-se a matriz das representações do humanismo, da pedagogia moderna e, ao mesmo tempo, da democracia. Que o impulso dos studia humanitatis esteja associado a uma concepção nova de educação.
No texto também é enfatizado que a educação não é somente um objetivo que se encontra definido deliberadamente, pois existe um discurso histórico, discurso sobre a língua e discurso político. Dentro deste contexto abrange a Cidade, a República, apresentando-se como a instituição formadora dos indivíduos, do mesmo modo que a família e, na família, tanto como uma criança que está em “formação” e se espelha com outras crianças em seu crescimento e interação ou, ainda dentro da família, o pai, onde exerce autoridade – esse conceito de autoridade é quase um arquétipo de autoridade baseada na figura do pai – no sentido ou representação daquele que tem o poder e exerce o papel de exemplo ou formador para os demais e é acatado em suas ordens ou ações porque ocupa um espaço ou posição de autoridade naquele grupo (família). Neste misto de formação e autoridade o autor aborda também a importância do humanismo e sua interação em todos estes elementos da sociedade e da vida humana que constituem ou se estruturam em uma formação e autoridade. Complementa afirmando que o que dá autoridade à Cidade ou a Família é a cultura. E, dentro desta cultura, está o conjunto de técnicas do saber e deve focar o sujeito e o conhecimento, mas um conhecimento como acesso a própria cultura que oferece então ao sujeito formação e autoridade. Assim também pelo humanismo destituir a educação do monopólio da Igreja e se focando no sujeito, empoderando esse sujeito dentro de uma democracia de um saber global. No entanto o autor salienta ou questiona que sempre há um viés uma linha ou tendência em tudo, e não seria na educação diferente. Portanto, não vemos em lugar nenhum autoridades e instituições legítimas, e, sendo assim, as exigências expostas pelo autor têm poucas oportunidades de serem satisfeitas.
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