Resenha Crítica: Requiem for a Dream
Por: Jaqueline Rebello • 8/6/2018 • Trabalho acadêmico • 1.007 Palavras (5 Páginas) • 351 Visualizações
Discente: Jaqueline Rebello
RESENHA
Réquiem for a Dream
Réquiem for a Dream trata da história de quatro pessoas e da relação de vício delas com drogas lícitas e ilícitas. Contudo, o filme não se resume a isso, seguindo um caminho que atravessa os julgamentos que se poder ter a respeito do abuso de psicoativos. O longa trata de vícios em geral, possibilitando um envolvimento com os personagens e a reflexão: Em uma sociedade doente, na qual se busca a todo momento preencher um vazio existencial (ou a dor de existir), o que distingue o que é moralmente aceito ou não além de uma mera convenção?
Réquiem for a Dream começa contando a história de Harry (protagonista) e sua namorada Marion. Os dois procuravam adrenalina, e se colocar em situações desafiadoras, eram dependentes de drogas ilícitas, mas tinham sonhos para além do prazer imediato. O filme deixa claro que Harry e Marion queriam “melhorar de vida” e abrir o seu próprio negócio. O amigo de Harry, Tyrone, ainda que com sonhos diferentes, se encanta com a possibilidade de ganhar dinheiro, juntamente com Harry, a partir do seu conhecimento sobre heroína. Contudo, esses sonhos se veem destruídos a partir do momento que eles, enquanto sujeitos, encontram-se passivos diante desse objeto, ou seja, controlados pelos efeitos dos psicoativos.
De forma similar, a mão de Harry, Sara, vivia seus dias assistindo um reality show quando recebe uma carta (duvidosa) convidando-a para fazer parte da próxima edição do programa. A partir dessa fala Sara começa a viver em função de estar perfeita para o dia em que participaria do programa e todos dariam o reconhecimento que ela sempre mereceu. Assim, para Sara, era necessário que ela coubesse em um vestido vermelho utilizado no dia da formatura de Harry, caso contrário o seu sonho estaria prejudicado. Dessa maneira, para que conseguisse caber no vestido, Sara vai ao médico que lhe dá pílulas de anfetamina para emagrecer, e acaba ficando dependente. Assim, em ambos os casos, a fala do outro (seja pela necessidade de usar um vestido, ou de se vê privado da substância estruturante de sua vida) é tão forte que coloca os sujeitos em uma posição submissa e delirante. A obtenção do sonho por meio das drogas acaba evidenciando, portanto, um outro elemento: O vazio de suas próprias vidas.
No filme, há uma semelhança fundamental entre Sara que enlouquece frente à possibilidade de aparecer no seu programa de TV favorito, Marion que vende o seu corpo para ter acesso a drogas, e os dois rapazes que apostam a sua própria vida em um empreendimento ilegal. Todos esses personagens vivem um profundo vazio existencial, uma angústia, e buscam, cada um do seu jeito, suprir essa falta.
Aprofundando um pouco mais, Freud identifica a estrutura psíquica “supereu” como sendo equivalente a consciência moral que regula nossos pensamentos e ações e também uma das nossas principais fontes de culpa. Assim, as demandas do supereu podem ser tão severas a ponto de o eu resignar-se a ser odiado e perseguido pelo supereu, característica fundamental da melancolia (depressão). Lacan, sobre esse mesmo assunto, indica que essa ferocidade do eu não é um efeito da civilização, mas sim um “mal-estar (sintoma) na civilização”.
Tal perspectiva nos faz pensar na civilização a partir de um contexto bastante irônico. Fundamos uma estrutura a fim de acabar com o “sofrimento” da nossa existência, quando na verdade essa própria estrutura civilizatória é a principal causadora do sofrimento humano.
Pode-se dizer que é isso o que acontece no filme com a senhora que toma pílulas para emagrecer. No momento em que ela recebe o convite para participar do seu programa de TV favorito, ela é confrontada com a expectativa de que ela esteja arrumada, bonita, magra e jovem (expectativa imposta pela sociedade). Essa expectativa é incentivada pelas suas amigas, que a encorajam na busca pelo corpo e pela aparência perfeita. No entanto, essa mulher é confrontada pela impossibilidade de ignorar a sua própria fome (pulsão), e acaba incorrendo em medicamentos perigosos para alcançar os seus objetivos.
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