Resenha Crítica Tomboy
Por: Marina Lopes • 10/6/2021 • Trabalho acadêmico • 576 Palavras (3 Páginas) • 295 Visualizações
Em Tomboy, são os papéis de gênero que roubam a cena, até mais do que as próprias subjetividades dos personagens. Os amigos de Laure, os quais ela fez no novo bairro em que reside, representam primordialmente os comportamentos os quais a sociedade considera como normativo em meninos. A mãe de Laurie é uma referência de feminilidade para a personagem: uma mulher grávida que, no momento, simboliza o destino biológico do sexo feminino. O pai, no entanto, é o que ao mesmo tempo em que não só representa a masculinidade à filha, também dá a ela abertura para que possa se aventurar no “mundo” desse papel de gênero ao qual o desejo dela se volta com muita vontade. Assim, é claro as referências que Laure, agora identificada como Mikael, tem em sua vida. São bastantes complexos esses papéis de gênero, o que permeia a vida da personagem em um entrelaçamento entre o que seria masculino e feminino.
É possível ver também que a cultura é o espaço-tempo do filme. Isso é evidente, já que os ideais de gênero não foram criados pelos próprios personagens, e sim pela cultura ocidental ao qual eles estão inseridos. Desse modo, o conceito de micropoder de Foucault é, também, notório no contexto mais amplo de Tomboy, haja vista que não é só o desejo dos indivíduos de se portarem na esfera social de acordo com a identidade a qual se reconhecem que é o fator determinante, mas sim de que se deve estar de acordo com as normas dominantes. Logo, não é possível culpabilizar os personagens por suas escolhas, como por exemplo, a da mãe de Laurie, haja vista que todos estão inseridos em uma esfera complexa, na qual devem constituir suas subjetividades ainda que de acordo com a cultura em que estão inseridos.
Assim, é desse modo que a criança constrói sua identidade de gênero, este complexo momento de tomada de consciência que o indivíduo tem em seu desenvolvimento, a qual é pautado, primordialmente, no contato com a sociedade. Assim, é à luz de perspectivas sobre o desenvolvimento de gênero na criança que é possível analisar o filme de acordo com diferentes abordagens da psicologia.
Sob a visão da psicanálise, o desenvolvimento da identidade de gênero de Laure com o sexo masculino se deu, de forma preponderante, de acordo com o processo de identificação com um de seu genitor, ou seja, no caso da personagem principal, do pai. Ela, evidentemente, está passando pelo processo de castração, o que é claro na cena na qual ela tenta fazer o que seria correspondente ao pênis com uma massa de modelar. Nesse momento, essa falta seria o significante do falo e, de modo a sanar isso, Laure busca substituir com a sua imaginação.
Já sob a perspectiva da abordagem cognitiva, a teoria do esquema de gênero, proposta pela psicóloga estadunidense Sandra Bem, também é observável no longa-metragem. Isto é, que a criança se socializa em seus papéis de gênero desenvolvendo uma rede de informações mentalmente organizadas sobre o que significa ser masculino ou feminino em uma determinada cultura (PAPALIA, 2013, p. 293). Estas redes fazem com que a criança ajuste seu comportamento à visão da cultura do que os meninos e as meninas devem fazer. Essa teoria é totalmente observável na forma em que Mikael interage com seus amigos, a forma em que se comporta ao jogar bola, de modo a aprender trejeitos “masculinizados” para se inserir no grupo e, também, de se sentir confortável consigo.
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