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Trabalho de Conclusão da disciplina Psicanálise e Educação

Por:   •  1/5/2023  •  Artigo  •  1.536 Palavras (7 Páginas)  •  63 Visualizações

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Pós-Graduação Psicanálise, Clínica e Cultura

Professora: Rosa Guedes

Aluna: Maria Clara Fernandes

Trabalho de conclusão da disciplina Psicanálise e Educação

        Sou professora de Psicologia de uma escola pública há 11 anos, esta instituição oferece ensino técnico integrado ao ensino médio e tem a Psicologia na grade curricular de diferentes cursos técnicos disponibilizados pela rede. Desta forma, a disciplina Psicanálise e Educação dialogou de maneira constante com os anseios e angústias vividos em uma profissão de educar adolescentes, a partir da transmissão da Psicologia, agora atravessada pela Psicanálise.

        Fiz, então, de meu ponto de partida para compor este texto os questionamentos: o que a psicanálise pode ajudar a pensar a educação contemporânea? O que elas têm em comum? A partir dessas perguntas pretendo desenvolver este trabalho.

        Em seu texto Análise terminável e interminável, Freud (1937;1996) afirma que educar, curar, psicanalisar e governar se constituiriam como ofícios impossíveis. A razão dessa impossibilidade estaria colocada pelo fato de que os exercícios em questão tentam responder ao real e, de acordo com Lacan (1971-1972; 2012) o real é o impossível de ser apreendido, posto que não cessa de não se inscrever e estão atravessados pela castração. Mas então como que a educação pode se inscrever para algo de um possível?

        A partir de Lopes; Sadala (2020) entende-se que a educação surge como obra da civilização, como uma das criações que serão estruturantes para a manutenção da civilização diante dos imperativos pulsionais. Freud (1905) explica que a problemática inicial na tarefa de educar está na constituição psíquica original da criança. Em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), Freud afirmará a criança como um “perverso polimorfo” e que, portanto, estará circunscrita à onipotência do princípio do prazer.

O imperativo de um real pulsional que a criança ainda não consegue manejar se expressa sob a forma da “onipotência narcísica infantil”. A criança, nesse período mais primitivo de seu desenvolvimento sexual, objetiva apenas à descarga da tensão advinda da concentração de volume pulsional. Seu objetivo é angariar uma satisfação completa em todos os órgãos corporais. Sendo assim, a primeira tarefa de educar incide sobre a atuação desse polimorfismo perverso, ou seja, fazer com que a criança aprenda a controlar as suas pulsões, aprender que não dá para colocar em prática todos os seus impulsos sem restrição.

Educar, desta forma, corresponderia a um forçamento do mundo externo sobre a criança para substituir o princípio do prazer pelo princípio da realidade, isto é, trocar o prazer pela responsabilidade social.

A grande dificuldade da tarefa do educador se coloca a partir do aspecto “ineducável” da pulsão. O profissional da educação precisa se confrontar com esse real, que foge por estrutura à captura pelo simbólico.

Lopes & Sadala (2020) explicarão que o processo de socialização consiste na atividade de oferecer aspectos da cultura tais como linguagem, códigos, regras, modos de conduta para que a criança se situe no laço social. As autoras, a partir de Berger e Luckmann (apud 2020), irão circunscrever duas etapas para o processo de socialização: a socialização primária e a socialização secundária, entendendo o segundo processo bastante atrelado e submetido ao primeiro.

A criança, quando vem ao mundo, nasce sem nenhum conhecimento prévio acerca do funcionamento do seu exterior. Para que ela possa, então, se integrar ela precisa passar pela socialização primária que são os ensinamentos, as regras, os modos de pensar e agir ofertados pelos pais/família. Família é o lugar onde a gente aprende, pelo desejo do outro, a amar e a desejar. Por querer ser amada, por querer amar e por medo de perder o amor uma criança faz concessões, comete atos de violência, se cala, se revolta e, por fim, se adapta ao discurso dos pais. São essas adaptações que nos dão o suporte suficiente para que sigamos com nossas vidas. Por fim, se houve uma forte exigência do mundo externo sob a criança na administração de suas pulsões através da educação, a criança consegue estabelecer a renúncia à satisfação ilimitada e abrir passagem para a socialização secundária.

A passagem para a socialização secundária não acontece sem que a criança tenha desenvolvido o recalque e a capacidade sublimatório, de dar outros contornos a sua pulsão. A socialização secundária é aquela que é conferida pela escola. A incumbência da escola é dar extensão ao trabalho realizado pela socialização primária, oferecendo conhecimentos, regras e modos de se estar no coletivo.

Lopes & Sadala (2020) localizam que, a partir da revolução dos costumes no final dos anos de 1960, do advento do movimentos feministas pela igualdade de direitos entre homens e mulheres e um novo sistema econômico e social, a configuração familiar passou por novos rearranjos, fazendo com que mulheres e homens estivessem menos presentes em casa a partir das demandas de trabalho e, consequentemente, as crianças ou são cuidadas por outras pessoas ou estão mais direcionadas cada vez mais cedo para a escola. Como reflexo, a escola tem se responsabilizado mais incisivamente pela socialização primária.

Corroborando com as autoras Lopes & Sadala (2020), como professora e como psicóloga, o que vivencio no universo escolar em termos de queixas são relativas a comportamentos, desobediências, desatenção, “alunos que não querem saber de nada”, desrespeito. De outro lado, pais que não querem frustrar seus filhos, a ausência dos pais durante as reuniões e a falta de implicação e comprometimento, em alguns casos, de adolescentes que apresentam um baixo rendimento escolar.  Pais que se afirmam impotentes diante do comportamento desajustado do filho. Professores com receio de exercer algum tipo de autoritarismo ou de serem desautorizados pela escola ou pelos pais, não conseguem estabelecer um limite para que os processos pedagógicos possam acontecer.

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