A Fundamentação Teórica do Estudo
Por: Mazinha22 • 29/11/2018 • Resenha • 1.772 Palavras (8 Páginas) • 172 Visualizações
3. Fundamentação Teórica do Estudo
Uma das maiores dificuldades que os mestrandos encontram na elaboração da dissertação está, sem dúvida, no aspecto do referencial teórico, ou fundamentação teórica, ou revisão da literatura. Os obstáculos não são apenas de natureza material como falta de fontes bibliográficas ocasionadas pela escassez de livros e revistas atualizados no meio do pesquisador, ou pela deficiência de veículos modernos de informação, colocados à disposição do investigador em algumas regiões do país por organismos nacionais. Há algumas deficiências do tipo pessoal, como o investigador realizar um trabalho mais completo e, muitas vezes, mais científico. Não se trata de atributos pessoais inerentes ao sujeito, dos quais nenhum pesquisador pode fugir. Pensa-se em algumas condições relacionadas à formação do investigador e que interferem negativamente —nos resultados da pesquisa.
Uma dessas situações que diminuem os efeitos positivos de um trabalho está representada pela deficiência do pesquisador na leitura de línguas estrangeiras, de considerável importância na área que está investigando.
Por outro lado, às vezes por pressão intelectual ambiental, quer por uma formação específica recebida no exterior, quer por simples preconceito, inconsciente ou conscientemente dirige sua ação num determinado sentido, ignorando o que se faz em outros idiomas.
Mas o mais grave talvez não seja o que se tem comentado acima. As maiores deficiências nos resultados de uma pesquisa podem derivar de um embasamento teórico para explicar, compreender e dar significado aos fatos que se investigam. Naturalmente, existem realidades Simples que não precisam nenhuma teoria para serem compreendidas em toda sua extensão e significado. Mas os fatos sociais e educacionais, geralmente complexos, não só precisam como exigem um suporte, de princípios que permitam atingir os níveis da verdadeira importância do que se estuda.
A compreensão da necessidade da existência de uma teoria num processo de pesquisa pode evitar exigências absurdas que alguns programas de mestrado há alguns anos costumavam estabelecer como requisitos para a elaboração de uma proposta de dissertação: ler, pelo menos, 40 obras sobre o assunto que preocupava ao futuro mestre. A análise dos pontos de vista sobre um assunto pode exigir uma revisão de extensa bibliografia, mas todo o desenvolvimento do tema de uma dissertação pode basear-se numa teoria colocada numa só obra, com apoio de um escasso número de livros auxiliares.
O processo de avaliação do material bibliográfico que o pesquisador encontra lhe ensinará até onde outros investigadores têm chegado em seus esforços, os métodos empregados, as dificuldades que tiveram de enfrentar, o que pode ser ainda investigado etc.
Mas, geralmente, o mestrando da área da educação começa sua revisão bibliográfica sem uma linha teórica definida. Aqui podem apresentar-se duas situações: ele tem dúvidas sobre qual teoria está de acordo com seus pontos de vista, sua concepção de vida, seus princípios e coloca em foco da melhor forma o assunto que é objeto de sua preocupação; ou tem carência de toda orientação teórica específica. Neste último caso, o mestrando coleta todas as idéias encontradas nas obras que estuda, sem critérios teóricos adequados para fazer a escolha.
Para o desenvolvimento do pensamento científico no mundo contemporâneo, o conceito de teoria tem adquirido importância essencial. Nenhum investigador busca às cegas nos laboratórios a verdade sobre algum problema. O pesquisador guia seu pensamento por determinadas formulações conceituais que integram as teorias, quando maneja os tubos de ensaio, procura obter conclusões no estudo da realidade social etc. Os instrumentos de pesquisa, o questionário, a entrevista etc. Para a coleta de informações, são iluminados pelos conceitos de uma teoria. Os fatos se "observam" e assim estamos perto da raiz etimológica do termo. Mas com o tempo, o conceito de teoria tem evoluído. A primitiva idéia grega é rica, não obstante, em sugestões.
Existem três termos que têm íntima relação na elaboração do conhecimento científico: hipótese, lei e teoria.
A hipótese, às vezes, vinculada à vida cotidiana envolve uma concepção intelectual de íntima categoria. A existência humana está preenchida de hipóteses. Daí deriva sua desvalorização na linguagem familiar. Mas para a ciência, a hipótese tem uma importância singular. A hipótese relativa aos fatos pode definir-se como uma referência a fatos ainda não confirmados. Quando a hipótese enfrenta a realidade, ela pode ser aceita ou rejeitada," reformulada ou originar outras à medida que o pensamento não fique suspenso, pela incapacidade de agir de forma desejável.
O requisito logico mais óbvio que estabelecemos às hipóteses para considerá-las leis é a generalidade em algum aspecto e em alguma medida. A ciência em seus primeiros passos, numa etapa pre-teórica, semi-empírica, trabalha com hipóteses isoladas. À medida que avança o conhecimento estabelecem-se relações entre as hipóteses e se alcançam, às vezes, generalizações não suspeitas.
Desta maneira, a teoria tem como base principal um conjunto de leis, e deve-se entender como um sistema hipotético-dedutivo e não simplesmente como uma soma de formulações conceituais.
Togerson, seguindo o ponto de vista positivista, ressalta que toda ciência é, por um lado, teoria e, por outro, um conjunto de dados que se pode observar. Talvez o pensamento de Togerson tenha servido a Hayman para elaborar sua própria definição de teoria, dentro dos princípios do positivismo, nos seguintes termos: "uma teoria é um sistema de constructos abstratos e de suas relações mútuas, que pretende explicar aspectos particulares da conduta em face de predições verificáveis a respeito desta."
Em pesquisa educacional é preferível trabalhar com fragmentos de teorias parcialmente desenvolvidas a ter carência de qualquer referência teórica. O investigador, apoiado num conjunto de conceitos, de alguma maneira está iluminando uma parte da realidade e terá, sem dúvida, maior segurança para realizar sua ação.
Não obstante isso, é conveniente lembrar que ainda no terreno das ciências sociais o pesquisador, às vezes, não encontra suporte seguro para uma teoria. Em algumas áreas da conduta humana, é difícil pesquisar orientado por uma soma de idéias que constituem as bases de uma teoria.
Zimbardo & Ebbesen tentam explicar esta ausência da teoria em certas áreas da conduta humana da seguinte forma:
"... a construção de uma teoria que explique o complexo é a mais difícil das atividades intelectuais. Não exige apenas um nível extraordinário da capacidade criadora, mas outros atributos teóricos. Precisa ter chutzpah (ousadia, confiança, atrevimento) para arriscar-se e errar quando apresenta, sua visão simplificada da realidade. Em qualquer boa teoria deve estar incluído um método de prova que permita a possibilidade de ser a teoria desmentida. Na realidade, grande parte da teoria estimulada por outra destina-se a provar que está errada, em parte ou completamente. Embora essa atividade intelectual possa dar grandes prêmios, a possibilidade de fracasso é ainda maior."
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