Antropologia da Cidade: Lugares, Situações, Movimentos. Tradução de Graça Índias Cordeiro
Por: Anthony Matias Etcheverry • 15/2/2019 • Resenha • 2.670 Palavras (11 Páginas) • 211 Visualizações
AGIER, Michel. Antropologia da Cidade: Lugares, Situações, Movimentos. Tradução de Graça Índias Cordeiro. São Paulo, Editora Terceiro Nome, 2011 [2009], 213 pp.
BEATRIZ VASCONCELOS MATIAS
RESUMO
CAPITULO I- A CIDADE DOS ANTROPÓLOGOS
A proposta para a Bahia era de uma antropologia da mudança social, do ponto de vista da população operária dos bairros (Bairro Liberdade, invasão antiga que se tornou um bairro com cerca de 200 mil habitantes).
Estudou como as famílias permanecem juntas mesmo em condição de extrema pobreza, sistema de parentesco e apadrinhamento e parentesco espiritual, em torno da família "nuclear", todas relações requerem determinados compromissos.
Bairro predominantemente negro, com preconceito racial forte e a negação do problema, importante ferramenta pra pensar a mobilidade social atrávez da resolução do problema da cor, pelo branqueamento. Como resistência, há emergência da cultura negra, funda-se o bloco carnavalesco Ilê Aiyê (jovens negros que se depararam com problemas de racismo).
Comparando a cultura negra Brasil/Colômbia, constata que tudo o que sobressai da cultura étnica, da cultura negra ou afrodescendente, começa nas cidades, é um puro produto das cidades. Uma das conclusões de todo trabalho transversal permite dizer que, tanto na América Latina como em qualquer lado, a cidade é um fator de etnicização que se aproxima de certa consciência da diferença cultural, mesmo que a cidade tendo elementos favoráveis a homogeneização, pois os modos de vida se aproximam de acordo com critérios espaciais ou sociais, assemelhando-se.
É preciso investigar a identidade no sentido em seu sentido situacional: com que tipo de lugar, de situação, de configuração, em dado momento, eu me identifico. A cultura negra não possui nada de ancestral ou original, como alguns dizem, mas permite que as pessoas que vivem em situações de exclusão e de segregação se identifiquem, que possam tecer laços, tecer relações entre si, através da identificação com certos elementos de cultura, nesse caso com essa reinvenção das culturas africanas ou afro-brasileiras, ou, ainda, com a reidentificação com lugares para pessoas (deslocados, refugiados) que também não tem nada de inscrição ancestral.
O local não é um fato da natureza, pela origem, pode ser apreendido numa perspectiva construtivista. É nesse sentido que me parece importante seguir a redefinição dos modos e dos espaços específicos de identificação num mundo ao mesmo tempo globalizado e perturbado.
A proposta de uma antropologia urbana, ou da cidade, reside mais num esforço de teorização no qual se evidenciam certos tipos de relações entre as pessoas. Abordando em diferentes escalas, o sentido das relações sociais e o sentido da festa em situações ordinárias e em situações rituais. A ideia é partir do nível mais elementar da festa, o aniversário, a forma como se festeja uma pessoa até nas famílias mais necessitadas, que se sacrificam nessas ocasiões, e depois considerar a festa de rua, a festa de bairro, a festa “de largo”, a festa de santo, a grande procissão, a festa de carnaval. Talvez essa fosse uma forma de apreender o conjunto da cidade como um sistema de relações e de significações articuladas, sem deixar de ser etnógrafo
Antropologia da cidade e não na cidade?
Como as pessoas fazem a cidade, principalmente em zonas marginais, onde a presença do poder público é fraca e onde as pessoas são obrigadas a inventar por si próprias a sua existência, pôs em dúvida o ponto de vista dos sociólogos que afirmam que a cidade já não faz sociedade. São as pessoas, os grupos sociais que fazem a cidade, nas relações sociais, em diferentes formas de sociabilidade; mais do que partir de um modelo de parentesco que não funciona na cidade, como alguns antropólogos, ou de um modelo de família que não é suficiente, como alguns sociólogos ou alguns demógrafos. Se as pessoas chegam a viver juntas vinte ou trinta anos em meios de pobreza, é porque têm recursos, são sistemas de poder que servem para as pessoas viverem. Isso é a antropologia da cidade relacional.
Há a antropologia da cidade cultural: de pessoas que produzem o sentido da sua própria existência, produzem o quadro desse sentido, a sua simbólica, a sua bricolagem, que pode desencadear momentos de festa: é também o laço cultural entre as pessoas que faz cidade. O laço político é ainda uma outra maneira de fazer cidade, através da mediação de atores, artistas ou líderes, se identificam com um conjunto, um coletivo, “uma comunidade” mais ou menos imaginária. Por isso falar de uma antropologia da cidade é falar de tudo aquilo que faz a cidade. Apesar de não conseguir apreender a cidade, como totalidade.
Não se vê nunca a cidade, apenas se veem situações que se passam na cidade. Quando pode-se fazer, a partir de uma situação observada, uma descrição que faça sentido, porque ela se repete o suficiente, por exemplo, se ela for repetitiva, banal ou ritual. A situação não é um ponto de vista minimalista é, precisamente, apreender o sentido no contexto cultural, histórico, sociológico, local etc. da situação. É estabelecendo a relação situação-contexto que se pode atingir certo nível de compreensão. A análise situacional funciona muito bem, nesse caso. Constroem-se muito rapidamente edifícios, mas também é possível destruí-los ou mudá-los, como uma mobile home; as periferias mudam de aspecto e, na América Latina, bairros de lata transformam-se em permanentes, com habitações sólidas ou, então, são destruídos de um dia para o outro.
CAPÍTULO 2- OS SABERES URBANOS DA ANTROPOLOGIA
Apoia-se num fato: não é a partir da própria cidade que emergem os conhecimentos da antropologia urbana, mas a partir de uma montagem de sequências da vida urbana retiradas de uma ínfima parte do curso real do mundo. O conjunto dessas informações representa uma espécie de cidade bis, como resultado dos procedimentos de coleta e arranjo (organização, gestão) dos dados urbanos.
Os conhecimentos produzidos pelo antropólogo estão ancorados no nível microssocial, sendo isso verdade significa, contudo, que na cidade os conhecimentos retirados dessa pesquisa de campo são inevitavelmente parciais e só abrangem a totalidade urbana através de procedimentos de análise. A pesquisa empírica, que, para o antropólogo, se baseia em informações diretas (de primeira mão e de caráter pessoal) recolhidas “no campo”, no âmbito de relações cara a cara em espaços de interconhecimento acessíveis individualmente.
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