Fichamento Sobre a Erosão do Serviço Social Tradicional do Brasil e da America Latina
Por: Thayanne Lira • 21/3/2017 • Trabalho acadêmico • 1.036 Palavras (5 Páginas) • 858 Visualizações
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A erosão do Serviço Social “tradicional” na America Latina
- A crise do Serviço Social “tradicional”, no entanto, esteve longe de configurar-se como um processo restrito às nossas fronteiras. [...] vindo à tona nos anos sessenta, ela é um fenômeno internacional, verificável, ainda que sob formas diversas, em praticamente todos os países onde a profissão encontrara um nível significativo de inserção na estrutura sócio-ocupacional e articulara algum lastro de legitimação ideal. (pág. 142)
- [...] os anos sessenta foram marcados por alguns terremotos econômicos-sociais, políticos e ideoculturais que vincaram indelevelmente. (pág. 142)
- Cabe, entretanto, assinalar alguns núcleos problemáticos que, especificamente em relação ao Serviço Social, podem responder pelos traços gerais da erosão da legitimação das suas formas até então consagradas, e em escala mundial; não se trata mais de que um mapeamento, cujo objetivo limita-se a acentuar o que indiscutivelmente incidiu sobre a profissão. (pág. 142)
- O pano de fundo de tais núcleos é dado pelo exaurimento de um padrão de desenvolvimento capitalista. (pág. 142)
- O tencionamento das estruturas sociais do mundo capitalista, quer nas suas áreas centrais, quer nas periféricas, ganhou uma nova dinâmica; num contexto de desanuviamento das relações internacionais (superados já os tempos da Guerra Fria), gestou-se um quadro favorável para a mobilização das classes sociais subalternas em defesa dos seus interesses imediatos. (pág. 143)
- Registram-se então amplos movimentos para direcionar as cargas da desaceleração do crescimento econômico, mediante as lutas de segmentos trabalhadores e as táticas de reordenação dos recursos das políticas sociais dos Estados burgueses. (pág. 143)
- Nas suas expressões menos consequentes, estes movimentos põem em questão a racionalidade do Estado burguês e suas instituições; nas suas expressões mais radicais, negam a ordem burguesa e o seu estilo de vida. Em qualquer dos casos, relocam em pauta as ambivalências da cidadania fundada na propriedade e redimensionam a atividade política, multiplicando os seus sujeitos e as suas arenas. (pág. 143)
- [...] este é o cenário mais adequado para promover a contestação de práticas profissionais como as do Serviço Social “tradicional”: seu pressuposto visceral a ordem burguesa como limite da história, é questionado; seus media privilegiados, as instituições e organizações governamentais e o elenco de políticas do Welfare State, vêem-se em xeque; seu universo ideal, centralizado nos valores pacatos e bucólicos da integração na “sociedade aberta”, é infirmado; sua aparente assepsia política, formalizada “tecnicamente”, é recusada. (pág. 143)
- Esta contestação [...], do exterior da profissão; indiretamente, parte da movimentação social que caracteriza o período; diretamente, arranca dos segmentos sociais que padecem a intervenção imediata dos assistentes sociais. (pág. 144)
- Sua conversão em efervescência profissional interna deve-se à convergência de três vetores que afetam a reprodução da categoria profissional como tal. (pág. 144)
- – Em primeiro lugar, a revisão que se processa na fronteira das ciências sociais. : (pág. 144)
- O segundo vetor que intercorria no processo era o deslocamento sociopolítico de outras instituições cujas vinculações com o Serviço Social são notórias: as Igrejas – a católica, em especial, e algumas confissões protestantes. (pág. 144)
- Finalmente, last but not least, o movimento estudantil: condensadamente, ele reproduz, no molde particular da contestação global característica da sua intervenção, todas as alterações que indicamos e as insere perturbadoramente no próprio locus privilegiado da reprodução da categoria profissional: as agências de formação, as escolas. (pág. 145)
- É por esses condutos e sujeitos principais que a problemática própria da contestação social dos anos sessenta se internaliza no Serviço Social, metamorfoseando-se em problemática profissional. (pág. 145)
- É indiscutível que, apreciada a profissão em escala mundial, ela experimentou então uma profunda inflexão, cujo conteúdo basilar se constituiu justamente na erosão da legitimidade do Serviço Social “tradicional”. (pág. 145)
- A reconceptualização é, sem qualquer dúvida, parte integrante do processo internacional de erosão do Serviço Social “tradicional” e, portanto, nesta medida, partilha de suas causalidades e características. Como tal, ela não pode ser pensada sem a referência ao quadro global (econômico social, político, cultural e estritamente profissional) em que aquele se desenvolve. (pág. 146)
- [...] a reconceptualização está intimamente vinculada ao circuito sociopolítico latino-americano da década de sessenta: a questão que originalmente a comanda é a funcionalidade profissional na superação do subdesenvolvimento. (pág. 146)
- [...] permite uma espécie de grande união profissional que abre a via uma renovação do Serviço Social, Ela é o pronto de partida para o processo que se esboça em 1965 e que, genericamente, tem como objetivo expresso adequar a profissão às demandas de mudanças sociais registradas ou desejadas no marco continental. (pág. 146-147)
- Num prazo muito curto, porém, aquela grande união objetivamente se esfarinha. Concorrem para isso duas ordens de causas: (pág. 147)
- - A primeira foi o leito real seguido no equacionamento das mudanças sociais nas áreas mais significativas do continente: a perspectiva da “modernização” por vias ditatoriais ou do seu puro congelamento repressivo acabou por impor-se, derrotando as alternativas democráticas que apostavam nas vias reformistas. : (pág. 147)
- – A segunda radicava na própria composição daquela grande união: se colocavam em xeque o Serviço Social “tradicional”, seus constituintes faziam-no a partir de posições distintas e com projeções também diferentes. : (pág. 147)
- A evolução do movimento de reconceptualização, que como tal se exaure por volta de 1975, vai explicitar esta heterogeneidade. Importa-nos aqui, tão somente, destacar dois de seus traços pertinentes. : (pág. 149)
- O primeiro deles refere-se à relação com a tradição marxista. [...] e o fato é que, depois da reconceptualização, o pensamento de raiz marxiana deixou de ser estranho ao universo profissional dos assistentes sociais. : (pág. 148)
- O segundo elemento importante introduziu no curso do processo de que estamos cuidando foi uma nova relação dos profissionais no marco continental. (pág. 150)
- Destacamos apenas esses dois elementos no bojo da reconceptualização porque o seu desenvolvimento marca com nitidez o envolver do movimento. Quanto mais eles se aprofundam, no curso das modificações sócio-políticas que se produzem na transição dos anos sessenta aos setenta, mais se explicitam os cortes e as colisões no seu interior, distinguindo com fronteiras muitos visíveis os segmentos profissionais modernizantes daqueles que apostavam uma ruptura com as práticas e as representações do Serviço Social “tradicional”. (pág. 150-151)
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