O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES DA CLASSE TRABALHADORA

O trabalho do assistente social nas organizações da classe trabalhadora

O presente trabalho tem o intuito de apresentar, de forma sintética, a atuação do assistente social nos movimentos sociais, a partir da elaboração de Franci Cardoso e Josefa Lopes "O trabalho do assistente social nas organizações da classe trabalhadora", destacando os processos concretos do trabalho do assistente social nas organizações da classe trabalhadora.

Para melhor explicar tais processos é necessário abordarmos as determinações históricas que direcionaram o trabalho dos assistentes sociais nesses espaços. De acordo com Cardoso e Lopes (2009), no final da década de 1970 e durante a primeira metade de 1980 (Ditadura Militar), houve uma onda crescente dos movimentos da classe trabalhadora estendendo-se até a promulgação da Constituição Federal de 1988. Neste contexto, a perspectiva do exercício profissional do assistente social nos espaços de formação e organização política dos trabalhadores, como por exemplo, nos sindicatos, era de mobilização social e organização. Neste momento, os assistentes sociais contribuíam para que projetos de construção de novas relações hegemônicas na sociedade fossem viabilizados. Vale ressaltar que tal direcionamento só foi possível graças à adesão dos profissionais ao Projeto Ético Político (constituído por três pilares: O Código de Ética da Profissão, as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação e a Lei de Regulamentação da Profissão) da categoria, que direciona a atuação profissional numa perspectiva de superação da sociedade capitalista, tendo como horizonte a busca incessante pela emancipação humana.

Por outro lado, o projeto neoliberal, implantado no Brasil a partir dos anos de 1990, no Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), que defende a intervenção mínima do Estado na garantia dos direitos dos cidadãos, inaugurando uma "era dos serviços" e colocando os cidadãos na condição de meros consumidores como aponta Boschetti (2010), influencia de forma negativa o trabalho dos assistentes sociais, visto que as políticas públicas passam a ser focalizadas e seletivas. Desta forma, representa um retrocesso para a consolidação dos avanços conquistados pela categoria nos anos 1980, principalmente nas organizações da classe trabalhadora.

Segundo Cardoso e Lopes (2009), no contexto de predomínio do projeto neoliberal, faz-se necessário ressaltar o caráter contraditório do trabalho do assistente social, cuja profissão é determinada pelas contradições desta sociedade capitalista. Diante disso, no bojo desse movimento contraditório da sociedade capitalista e mesmo nos espaços de formação e organização política dos trabalhadores, há projetos profissionais e societários com direções distintas e que estão em constante disputa hegemônica. A primeira visa à superação da sociedade capitalista, numa busca pela emancipação humana e a segunda tem como horizonte a manutenção da ordem do capital.

Cardoso e Lopes referem-se à categoria de "hegemonia" de Gramsci, elucidando que "uma massa humana não se distingue e não se torna independente por si, sem organizar-se [...]". Dito em outras palavras, a consciência de classe e a organização são fatores indispensáveis para a superação da sociedade capitalista e a conquista da emancipação humana. São nestes processos de organização e de tomada de consciência de classe que, para as autoras, encontram-se possibilidades de atuação do assistente social junto às organizações da classe trabalhadora, entre as quais destacam:

1) a participação no desenvolvimento de propostas de formação político-organizativa, que possibilite a essas classes a apreensão crítica das contradições econômicas e político-ideológicas inerentes às sociedades capitalistas; a criação de formas próprias de reprodução e de resistência no enfrentamento cotidiano com os interesses das classes adversárias e a construção de formas de superação da opressão por estas classes; 2) desenvolvimento de propostas eminentemente educativas de fortalecimento das organizações da classe trabalhadora e de processos de constituição ideológica das classes subalternas na luta pela construção de uma alternativa emancipatória da classe trabalhadora e de toda humanidade (CARDOSO; LOPES, 2009, p. 12).

Conforme Cardoso e Lopes, o trabalho profissional dos assistentes sociais nas organizações da classe trabalhadora é bastante complexo e se desenvolve a partir de duas dimensões institucionais distintas: a primeira refere-se ao trabalho realizado pelos assistentes sociais nas instituições de organização autônoma da classe trabalhadora, como empregadora desses profissionais; e a segunda diz respeito ao trabalho que o assistente social desenvolve junto a essas instituições e no movimento de organização da classe trabalhadora, a partir de outras instituições da prática profissional.

É tomado como referência, pelas autoras Cardoso e Lopes (2009), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) como exemplo de um movimento social combativo e que conta com assistentes sociais e que muitos deles não se reconhecem como tais no movimento, apenas como militantes, mas que o trabalho que desenvolvem é expressão concreta da profissão, a partir das demandas do movimento à equipe interprofissional. Tais demandas referem-se à educação e à produção. A primeira trata-se de demandas voltadas à educação formal e à formação política dos assentados, na direção da construção da consciência de classe indispensável à luta; e a segunda, as demandas envolvem o fortalecimento das cooperativas agrícolas, a qual visa à organização da produção através do trabalho cooperativo entre famílias, na perspectiva de garantir o avanço da reforma agrária (pauta do MST).