OS REFLEXOS MUSCULARES

REFLEXOS MUSCULARES

O reflexo de estiramento (ou miotático)

As condições dentro e fora do corpo podem variar rapidamente e de modo inesperado. Um reflexo é uma resposta motora involuntária imediata a um estímulo específico. Os reflexos ajudam a preservar a homeostase, ajustando rapidamente as funções de órgãos ou sistemas orgânicos. A resposta apresenta pouca variação – a ativação de um determinado reflexo sempre produz a mesma resposta motora. O circuito neuronal de um reflexo isolado é denominado arco reflexo. Um arco reflexo começa em um receptor e termina em um efetuador periférico, como um músculo ou uma célula glandular. Assim existem cinco etapas envolvidas em um reflexo nervoso (GUYTON & HALL, 2006):

ETAPA 1. Chegada de um estímulo e ativação de um receptor. Cada receptor tem uma variação de sensibilidade própria; alguns receptores, como os receptores da dor, respondem a praticamente qualquer estímulo. Estes receptores, dendritos de neurônios sensitivos, são estimulados por pressão, extremos de temperatura, lesão física ou exposição a agentes químicos nocivos. Outros receptores, como os que oferecem sensações visuais, auditivas ou gustativas, são células especializadas que respondem apenas a uma variedade limitada de estímulos.

ETAPA 2. Transmissão da informação ao SNC. A informação é conduzida sob forma de potenciais de ação ao longo das fibras aferentes. Neste caso, o axônio conduz os potenciais de ação até a medula espinal via uma das raízes posteriores.

ETAPA 3. Processamento da informação. O processamento da informação começa quando um neurotransmissor, liberado pelo terminal sináptico do neurônio sensitivo, atinge a membrana pós-sináptica de um neurônio motor ou de um interneurônio. Nos reflexos mais simples, esse processamento é realizado pelo neurônio motor que controla efetuadores periféricos. Nos reflexos

mais complexos, várias associações de interneurônios estão interpostas entre o neurônio sensitivo e o motor, ocorrendo tanto processamento paralelo quanto seriado. O objetivo do processamento desta informação é a seleção de uma resposta motora apropriada mediante a ativação de neurônios motores específicos.

ETAPA 4. Ativação de um neurônio motor. Um neurônio motor, quando estimulado até o seu limiar, conduz potenciais de ação ao longo de seu axônio para a periferia, neste exemplo, através da raiz anterior de um nervo espinal.

ETAPA 5. Resposta do efetuador periférico. A ativação de um neurônio motor periférico causa uma resposta em um efetuador periférico, como um músculo esquelético ou uma glândula. Em geral, o objetivo desta resposta é a remoção do ou a reação ao estímulo original. Os reflexos desempenham importante função na oposição a estímulos causados por alterações potencialmente nocivas no ambiente interno ou externo (GUYTON & HALL, 2006).

Ato reflexo é a resposta, sendo estereotipada e involuntária, a um estímulo sensorial, e pode variar em relação à latência, duração e intensidade, de acordo com o estímulo desencadeado e as influências supraespinhais e intersegmentares. A graduação dos reflexos são de acordo com a intensidade, sendo a de maior intensidade de estímulo (estiramento), tem a maior amplitude de resposta (KANDEL et al., 1997).

O reflexo de estiramento muscular é caracterizado pela contração reflexa quando um músculo é estirado. Consiste na função do fuso muscular, quando este é estendido rapidamente, da excitação dos fusos causada pela contração reflexa das fibras musculares extrafusais do mesmo quando estirado e também dos músculos sinérgicos que se relacionam com ele (GUYTON & HALL, 2006).

Anatomicamente, é o mais simples, pois só depende de conexões monossinápticas entre as fibras aferentes primárias dos fusos musculares e os neurônios motores alfa que inervam o mesmo músculo. A fibra Ia entra pela raiz dorsal da medula espinhal e uma de suas ramificações segue diretamente para o como ventral da substância cinzenta medular e faz sinapse excitatória com o motoneurônio alfa. Essa via monossináptica possibilita que um sinal reflexo retome ao músculo, com menor atraso, após a excitação do fuso. Outras ramificações da fibra estabelecem sinapse excitatória com interneurônios inibitório Ia que terminam em motoneurônio alfa dos músculos antagonistas, provocando sua inibição (KANDEL et al, 2000).

O reflexo de estiramento pode ser divido em dois componentes: (a) reflexo de estiramento dinâmico e (b) reflexo de estiramento estático.

a) O reflexo de estiramento dinâmico (ou físico) é provocado por um estiramento rápido do músculo. Este estiramento origina um sinal dinâmico potente transmitido pelas fibras aferentes do tipo Ia que irão causar a contração reflexa do mesmo músculo de origem do sinal. Portanto, esse componente do reflexo se opõe às alterações rápidas no comprimento do músculo. Ele termina em uma fração de segundo após o músculo ter sido estirado e depois um reflexo de estiramento estático mais fraco continua por um período prolongado (KANDEL et al., 2000).

b) O reflexo de estiramento estático (ou tônico) é provocado pelos sinais dos receptores estáticos contínuos transmitidos pelas terminações aferentes primárias e secundárias (fibras Ia e II). A importância desse reflexo de estiramento estático é de manter o grau de contração muscular razoavelmente constante, ou seja, manter o tônus muscular, exceto quando o sistema nervoso determina que seja diferente (KANDEL et al, 2000)

O tônus muscular é a força com que o músculo resiste a seu alongamento. Um dos componentes do tônus muscular é a rigidez intrínseca do próprio músculo decorrente das propriedades elásticas e viscoelásticas das fibras musculares. Além desse, há o componente neural, ou seja, por meio de suas influências excitatórias e inibitórias sobre o circuito do reflexo de estiramento (especialmente o tônico), o sistema nervoso central é capaz de ajustar o tônus muscular para adequá-lo a diferentes tarefas determinadas (KANDEL et aL, 1997).

Reflexo dos Órgãos Tendinosos de Golgi

O órgão tendinoso de Golgi é um receptor sensorial situado no tendão muscular que detecta a tensão muscular. Ele tem uma resposta dinâmica e uma resposta estática. A resposta dinâmica faz com que haja resposta muito intensa quando se varia bruscamente a tensão. Essa resposta dura apenas fração de segundo e a ela se segue uma resposta de menor intensidade, mantida em valores praticamente constantes e quase diretamente proporcionais à tensão (resposta estática). A principal diferença entre o órgão tendinoso de Golgi e o fuso muscular é que o fuso muscular detecta o comprimento do músculo e as alterações desse comprimento, enquanto o órgão tendinoso de Golgi detecta a tensão muscular (GUYTON, 1992).