Caravela à Brasileira - Gerenciamento de Projetos
Por: Charleston Pereira • 6/4/2016 • Pesquisas Acadêmicas • 579 Palavras (3 Páginas) • 244 Visualizações
Caravela à brasileira – um relato tragicômico de gerenciamento de projetos
Posted on July 5, 2011 by fabianabigao
Fabiana Bigão Silva
Educadora e Consultora em gerenciamento de projetos, melhoria e qualidade de processos
Alguns de você devem se lembrar que, por ocasião da comemoração dos 500 anos do descobrimento do Brasil, tiveram uma grande idéia: Construir uma caravela semelhante às que foram usadas pela esquadra portuguesa para chegar às terras brasileiras, para que esta pudesse participar das comemorações.
Em termos de gerenciamento de escopo, estava tudo certo, já que caravelas são caravelas desde os tempos de Cabral. Em termos de gerenciamento do tempo, poderia haver um “probleminha”, pois poderia ser difícil, mesmo tendo ACM como patrocinador do projeto, adiar o dia 22 de abril de 2000 para outra data. Em termos de gerenciamento de custo, também estava tudo certo, já que o mesmo ACM havia garantido fundos indefinidos, pois o projeto seria construído na base naval de Aratu, em Salvador, e para um evento no qual a Bahia teria, obviamente, um papel de destaque.
Aí começaram os problemas: na gestão de aquisições, seguiu-se a tradição brasileira de escolher não o fornecedor mais qualificado, mas sim o mais “adequado”. Como resultado, coube a construção da nau, em última instância, a um francês chamado Henry Schlomoff Moncey, que exercia ilegalmente a profissão de armador e fugiu do Brasil um tempo depois.
Os riscos advindos de entregar um projeto a um fornecedor sem capacidade técnica eram óbvios, mas o que aconteceu a seguir não passava pela cabeça nem dos mais pessimistas. Para fazer uma história longa curta, veja a cronologia abaixo:
- Na primeira vez que foi ao mar, por assim dizer, a caravela quase afundou. Esqueceram o “pequeno” detalhe do lastro, então ela balançava de tal forma que era fácil prever que naufragaria em poucos minutos. Solução de contorno: Usaram todo o chumbo disponível na Bahia, quase 25 toneladas, para estabilizar a embarcação. Um problema a menos.
- Na segunda vez que foi ao mar, alguém deve ter proclamado a famosa frase “Içar as velas!”, da qual deve ter se arrependido imediatamente, pois assim que as velas subiram o mastro principal, surpreso com tal fato, quebrou. Nesta hora, os gestores do projeto devem ter ficado bastante orgulhosos, pois para tal infortúnio havia sido feito um plano de resposta ao risco, na figura de dois motores a diesel, “just in case”. No entanto, ao ligarem os motores, viram os dois falharem espetacularmente. Dizem as más línguas que, no lugar das mangueiras de combustível, haviam ligado as mangueiras de água no motor (Atenção, a frase anterior não é uma piada.
Assim, para celebrar os 500 anos de sucesso do gerenciamento de projetos no Brasil, assistimos um barco que os portugueses construíam com sucesso 500 anos atrás voltar ao estaleiro rebocado. Hoje, a bonita caravela serve de museu. A foto ao lado mostra que pelo menos parecida com o que eram as originais ela ficou.
Este caso mostra o seguinte: Não há limite superior para o vexame. Não dê atenção aos riscos de seu projeto e você será o próximo candidato a estrelar notícias deste tipo. O Brasil verá, nos próximos anos, uma quantidade enorme de projetos complexos como há muito não se via. Vamos torcer para que, pelo menos em termos de gerenciamento de projetos, tenhamos nos tornado um país mais sério.
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