Resenha Teoria da Administração
Por: brunajacobm • 2/5/2018 • Resenha • 1.990 Palavras (8 Páginas) • 315 Visualizações
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
DISCIPLINA: Teoria da Administração I
PROFESSOR: Luiz Alex Silva Saraiva
CURSO: Administração / Noturno
ALUNA: Bruna Jacob Martins
A obra “Trabalhando para Ford”, do autor Huw Beynon, consiste em um retrato da vida que as pessoas levavam quando trabalhavam em uma grande empresa automobilística, no caso, principalmente a presença do grupo Ford na Grã-Bretanha. O livro inicia enfatizando que o século XX foi o século da produção em massa, mas apresenta, também sob outra perspectiva, o que ele chama de homem de massa. Henry Ford é mencionado que era visto por alguns como herói (triunfou devido a sua linha de montagem movida a volante magnético), mas que passou a ser visto como vilão, devido ao fato de que não havia somente uma produção em massa vigente, mas o que o autor chama de homem de massa, o trabalhador esmagado pela linha de montagem de Ford, estabelecendo um novo conceito de organização humana. Esta obra relata experiências de operários da Ford que mostra uma deterioração do ser humano, em função da obsessão por se produzir cada vez mais, a partir de uma direção de mão de ferro nas oficinas baseadas em justiças arbitrárias dos contramestres.
Não obstante, assentado em cinco anos de investigação, o livro evidencia o trabalhador em detrimento do ritmo estabelecido pela máquina e exigido, por meio de rígidas disciplinas, pela administração da fábrica. A criação do sistema de participação dos lucros, o Dia dos Cinco Dólares, por exemplo, consistia em dobrar o salário dos trabalhadores e menos horas de trabalho para àqueles que preenchessem os requisitos do trabalho a fim de se alcançar maior produtividade. Regime esse o qual determinava cruéis interferências na vida privada do operário, em que entre os escolhidos para serem inclusos ao sistema, se adequariam entre eles apenas os que tivesse hábitos em casa e no trabalho considerados satisfatórios – uso do álcool ou do fumo, por exemplo, eram mal vistos. De modo geral, esses aspectos, segundo o autor, expressavam intenções ideológicas subjacentes à criação do programa de inculcar valores americanos, os quais Ford aprovava e considerava necessários para uma força de trabalho estável e laboriosa.
O autor evidencia, ainda, que a crescente competição na indústria automobilística e a depressão econômica faziam-se sentir na fábrica: o trabalho teve seu ritmo acelerado, e os salários foram cortados. A fábrica não reconhecia qualquer organização sindical de trabalhadores, a qual Bennet - chefe do Departamento de Serviços, adotava um regime autocrático a fim de mante a disciplina da força de trabalho e impedir a sindicalização. Nesse sentido, o sistema de espionagem tinha uma alcance e eficácia exorbitantes, havia espiões por todas as partes. Assim, os operários inseridos nessa tirania, eram constantemente vigiados, não tinham segurança ou direitos, de tal forma que, segundo relatos mencionados ao longo da obra, aos empregados que estavam submetidos a esse regime, até mesmo o ato de sorrir era considerado uma infração.
Na década de 30, operários da indústria automobilística e ativistas do UAW fizeram um esforço conjunto para sindicalizar as fábricas de automóveis, e após enfrentarem um exorbitante movimento e repressão antissindicalista, foram, posteriormente, estabelecidos acordos entre os sindicalistas e industriais, inclusive Ford. Esses acordos, segundo o autor, prepararam o cenário para a expansão do pós-guerra nos Estados Unidos e na Europa.
Nesse sentido, o autor enfatiza os “shop stewards”, representantes operários, que são evidenciados por meio de suas falas e comentários ao decorres da narrativa. Isso pode ser observado no trecho: "Os shop stewards, porém, foram veementes em suas críticas sobre o modo como a administração da Companhia tratava os operários. Uma indicação da intensidade desse sentimento é o fato de que 28 do shop stewards consideravam que a atitude da administração era o que mais precisava ser mudado na Companhia. Alguns de seus comentários ilustram essa ideia: 'Eles tratam os trabalhadores como máquinas aqui. O Departamento Pessoal simplesmente não existe. Em muitos casos, eles são absolutamente cruéis. Só se preocupam com o problema de produção. Para eles, é produção, produção o tempo todo.' ".
Beynon, por meio do estabelecimento dos elementos que constituem conflitos de classe – contramestres e lideranças administrativas, importantes cargos, representantes dos operários, dirigentes sindicais e operários- elabora uma análise e estudo de alguns dos mais importantes movimentos grevistas da época relata, e, especialmente da Ford, na Inglaterra. O autor expressa, ainda, que a atividade do shop steward fundamenta-se na necessidade de obter, ao menos, certo ou algum grau de controle sobre as decisões tomadas pela administração, ou seja, uma ligeira reforma no sistema de controle em vigor na fábrica, pelo menos, de tal forma que a crítica estrutural feita por eles é, ainda, reforçada pela crítica moral.
No capítulo 5, A linha de produção, percebe-se, também, o destaque do autor sobre a necessidade do conformismo para trabalhar em uma oficina de fábrica de automóveis. A escolha de se empregar em uma linha de produção, segundo o relato de alguns operário, vem da necessidade da remuneração. Em um dos relatos, o operário diz que o trabalho não exige nenhum raciocínio e que isso é dito para eles: "Não lhes pagamos para pensar", masque, apesar disso, estão na linha de produção pelo dinheiro, a única forma é adaptar-se e, mesmo que seja frustrante, conformar. O autor cita algumas relações que são estabelecidas pelos operários com o conceito de "trabalho ideal", alguns, com a ausência desse trabalho ideal, conformaram-se em trabalhar nas fábricas. Sair da linha de montagem era considerado um alívio imenso, devido ao seu elevado desgaste e monotonia, além de que os operários não se identificam com o trabalho. O trabalho de stop stewards, apesar de serem ainda operários, possibilitava-lhes atuar com algum propósito, ao menos, ajudar alguém ou os colegas.
“Americanismo e fordismo”, de Antônio Gramsci, por sua vez, aborda sobre a dificuldade de se introduzir o fordismo na Europa. Segundo ele, tanto o americanismo quanto o fordismo resultam da necessidade de alcançar uma organização de uma economia programática. Entretanto, eles encontram resistências ao decorrer das tentativas de serem introduzidos na Europa, de tal forma que, a Europa ao passo que quer aproveitar dos benefícios do fordismo, pretende conservar o que o autor chama de “exército de parasitas que, ao devorar enormes quantidades de mais-valia, agrava os custos inicias e debilita o poder de concorrência no mercado internacional.”.
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