TRABALHO ADMINISTRADOR

O CONTEXTO HISTÓRICO DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO^[1] (Texto 1)

CLARIDES HENRICH DE BARBA

RESUMO: Este texto tem como objetivo apresentar as principais abordagens da Filosofia da Educação dentro de uma visão histórica. Pretende-se realizar uma avaliação crítica a respeito da Filosofia da Educação com o objetivo de compreender o processo educativo, proporcionando uma análise crítica e reflexiva na Escola e na Sociedade. Compete, pois a Filosofia da Educação realizar o processo de desenvolver a consciência educativa através da construção do conhecimento pelo educador e pelo educando.

PALAVRAS-CHAVE: FILOSOFIA - EDUCAÇÃO - CONTEXTO HISTÓRICO

1. AS ORIGENS DA FILOSOFIA  E O PROCESSO DO FILOSOFAR

As condições para o surgimento da Filosofia na Grécia no final do século VI antes de Cristo são várias: condições materiais, isto é, econômicas, sociais, políticas e históricas. Vamos a algumas: a) Viagens marítimas - as viagens dos gregos permitiram que eles fossem aos lugares onde se dizia que os deuses moravam, e puderam perceber que lá só havia humanos. Os mares não eram habitados por monstros ou seres fabulosos. Se o mundo desmistificou era necessário colocar no lugar outra explicação; b) A invenção do calendário - ao calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes se repetindo, revela-se uma capacidade de abstração nova e o tempo como natural; c) A invenção da moeda - as trocas não mais eram por objetos concretos e semelhantes, mas uma troca calculada pelo valor, revelando abstração e generalização; d) O surgimento da vida urbana - o prestígio dos aristocratas proprietários de terras estava em declínio e os mitos atendiam seus interesses, ampliam-se as técnicas de fabricação de artesanatos, surge uma classe de comerciantes ricos procurando poder e prestígio e incentivaram artes e conhecimentos; e) A invenção da escrita alfabética - revelando o crescimento da abstração e da generalização, pois diferente dos hieróglifos ou dos ideogramas não representava a imagem, mas a idéia dela, ou o que dela se pensa; f) A invenção da política - tal avanço trouxe três aspectos decisivos: A idéia da lei como expressão da vontade da coletividade e de um mundo legislado, regulado, ordenado; o surgimento do espaço público que faz aparecer um novo tipo de palavra ou de discurso; há um estímulo para o pensamento público, transmitido, ensinado, discutido, e não mais de seitas secretas com adeptos iniciados em mistérios.

As principais características desta Filosofia nascente são: a) Tendência à racionalidade - a razão é o critério de explicação de alguma coisa; b) tendência a oferecer respostas conclusivas para os problemas - um problema é submetido à análise, crítica, discussão, demonstração e só é aceita como verdade a solução provada racionalmente; c) exigência de que o pensamento apresente suas regras de funcionamento - o pensamento deve seguir regras universais e quando uma contradição aparecer ele deve ser considerado falso; d) recusa de explicações pré-estabelecidas - para cada problema que se encontre a solução própria exigida por ele; e) tendência à generalização - mostrar que a explicação tem validade para muitas coisas diferentes, porque na diferença percebida pelos sentidos o pensamento descobre semelhanças.

Assim filosofar é: a) perguntar o que a coisa, o valor, a idéia é; b) perguntar como a coisa, o valor, a idéia é; c) perguntar por que a coisa, o valor, a idéia é e é como é; atitude filosófica é dirigir indagações ao mundo, mas pouco a pouco se percebe que somos nós que pensamos, que conhecemos as coisas, os valores, as idéias, e então nos perguntamos sobre o próprio pensamento. É o pensamento se interrogando a si mesmo.

Cabe à Filosofia fazer o desvelamento da realidade e o desvendamento do sujeito. Para chegar a isso, Saviani afirma que a reflexão filosófica deve ser: a) Radical - chegar até à raiz dos acontecimentos, sendo uma reflexão profunda; b) Rigorosa - seguir um método adequado ao objeto em estudo, com rigor; c) De Conjunto - não considerar os problemas isoladamente, mas dentro de um conjunto de fatos, fatores e valores, relacionando-os entre si.

Para melhor definir Filosofia, vamos tentar uma aproximação:

        a) Filosofia é uma visão de mundo - visão de mundo de um povo, de uma cultura, de uma civilização. É o conjunto de idéias, valores e práticas pelos quais uma sociedade apreende o mundo e se compreende a si mesmo, definindo para si o justo e o injusto, o bom e o mau, o belo e o feio, o sagrado e o profano (essa definição se aproxima mais de cultura);

        b) Filosofia é sabedoria de vida - exprime a ação das pessoas, seu pensamento sobre a vida moral, seus caminhos para uma vida feliz (mas isso é moralizante demais);

Esforço racional para conceber o Universo como uma totalidade dotada de sentido - aqui já se distingue Filosofia e religião, mas ainda dá à Filosofia uma tarefa impossível - elaborar um sistema universal - e há hoje ainda duas limitações - outras ciências e as artes também explicam a realidade ou partes dela e é impensável que uma única disciplina pudesse abranger sozinha a totalidade dos conhecimentos, e segundo porque a própria Filosofia já não admite que um sistema de pensamento possa oferecer uma explicação única para o todo da realidade;

        c) Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas - a Filosofia cada vez mais se ocupa com as condições e os princípios do conhecimento; com a origem, a forma e os conteúdos dos valores éticos, políticos, artísticos e culturais; com o estudo da consciência em várias modalidades; com o estudo e interpretação de idéias ou significações gerais;

        d) Finalizando, a Filosofia se ocupa com aquele momento em que a realidade natural (o mundo das coisas) e a realidade histórica (o mundo dos homens) tornam-se estranhas, espantosas, incompreensíveis, enigmáticas. Assim ela se apresenta em condições de fazer análise, reflexão e crítica, e busca significações gerais sobre a realidade e os seres humanos e procura o fundamento e o sentido da realidade em suas múltiplas formas.

Filosofia não é ciência - é uma reflexão crítica sobre os procedimentos e os conceitos científicos; não é religião - é uma reflexão crítica sobre as origens e formas de crenças religiosas; não é arte - é uma interpretação crítica dos conteúdos, das formas, das significações das obras de arte e do trabalho artístico; não é sociologia e nem psicologia - é uma interpretação e avaliação crítica dos conceitos e métodos destas ciências; não é política - Mas interpretação, compreensão e reflexão sobre a origem, a natureza e as formas de poder; não é história - é interpretação do sentido dos acontecimentos, enquanto inseridos o tempo.