Disciplina de Linga Portuguesa. Uma discussão sobre teoria e prática
Por: Almirenecosta • 23/6/2015 • Seminário • 5.652 Palavras (23 Páginas) • 544 Visualizações
A DISCIPLINA DE LÍNGUA PORTUGUESA NO CURRÍCULO ESCOLAR: UMA DISCUSSÃO SOBRE TEORIA E PRÁTICA
RESUMO: O presente trabalho visa a uma discussão sobre os aspectos políticos, sociais e culturais presentes na formulação e execução do currículo e sua influência no ensino da disciplina de Língua Portuguesa. Para a recolha dos dados realizamos entrevista com professores de Língua Portuguesa do ensino fundamental, da rede municipal em Vitória da Conquista e analisamos o Parâmetro Curricular Nacional de Língua Portuguesa. Concluímos que embora haja uma evolução na política curricular brasileira, ainda há a necessidade de uma ação conjunta do professor, em parceria com a escola, a família e o Estado, em promover subsídios para que o ensino da Língua Portuguesa alcance os objetivos a que se propõe.
PALAVRAS-CHAVE: Currículo, Língua Portuguesa, Prática Docente.
1. Introdução
Ao propormos uma discussão sobre o ensino da Língua Portuguesa, precisamos levar em consideração a questão do currículo e sua relação com as práticas escolares. Durante muito tempo, o currículo estudado por profissionais da área da Educação foi analisado sob o aspecto de elaboração de programas a serem cumpridos passivamente. Ou seja, não era formulado sob um ponto de vista crítico, numa tentativa de mudança, mas sob um ponto de vista de conformação aos modelos sociais existentes, atendendo às suas necessidades e aos interesses de uma classe social dominante, excluindo então os que dela não faziam parte.
Ao longo do tempo, o currículo passou a ser avaliado a partir dos aspectos sociais e ideológicos que envolvem sua elaboração e execução. Ele passa a ser compreendido como um processo de formação que atende a interesses diversos.
O currículo discutido atualmente não diz respeito somente ao “que” e o “como” ensinar, mas torna-se um campo amplo de discussão que perpassa finalidades, relações de poder e aspectos que vão desde a tomada de decisão à resolução de conflitos. Por conseguinte, as disciplinas curriculares que o compõe se tornam objetos do mesmo discurso. Partindo dessa premissa, o presente trabalho tem como objetivo analisar o currículo de Língua Portuguesa dos anos finais do ensino fundamental, tendo em vista a importância e influência desse documento no contexto escolar.
Para tanto, foi realizada uma entrevista com três professores de Língua Portuguesa do ensino fundamental (do 6º ao 9º), da rede municipal em Vitória da Conquista, a fim de compreendermos suas concepções sobre currículo e o embasamento teórico que norteia seus trabalhos, além das dificuldades que eles encontram para a execução das propostas curriculares na disciplina de Língua Portuguesa.
O termo currículo surgiu no século XVII, com a reforma Calvinista, aparecendo pela primeira vez como objeto de estudo nos EUA, na década de 1920. Deriva da palavra latina “curriculum” e significa etimologicamente “pista de corrida”, o que remete a idéia de caminho a ser percorrido.
No entanto, de acordo com Macedo (2007), se nos apropriarmos do conceito simplista de currículo como meio ou caminho de formação, incorreremos no equívoco de aceitação do currículo como modelo “único” pronto a ser vestido, modelo uniformizado. Nesse sentido, o autor alerta para a necessidade de: “Os educadores saberem distinguir o campo e o objeto de estudo do currículo como processos históricos, como processo de interesse formativo e ao mesmo tempo de empoderamento político (p.19)”.
Essa concepção aponta os dois aspectos que devem se destacar na compreensão do currículo: o aspecto teórico, desde a sua formulação, e o aspecto prático, até a sua operacionalização. As abordagens que melhor definem esses aspectos são: a tradicional, a crítica e a pós-crítica.
Para Macedo (2007), na teoria tradicional, o currículo é marcado pela neutralidade. Cultivava uma função de controle e tinha como principal foco garantir que a escola funcionasse como uma fábrica, objetivando uma formação com base na competência e na eficiência. Essa concepção de currículo se utiliza de princípios Tayloristas, tendo como principal representante Bobbit, que escreveu sobre o currículo em um momento no qual diversas forças políticas, econômicas e culturais procuravam envolver a educação de massas, visando a permanência da sua ideologia. Dessa forma, o currículo era uma espécie de instrumento pedagógico de massificação da sociedade industrial que propunha um modelo de formação relevante para o contexto social da época.
A teoria crítica de currículo questiona o currículo enquanto elemento neutro e desinteressado. Questiona também as desigualdades provocadas pela teoria tradicional no sistema de ensino e “procura compreender o que o currículo faz com as pessoas e as instituições e não apenas como se faz o currículo (MACEDO, 2007 p.38)”. Os críticos reprodutivistas, além de criticarem o modelo convencional de currículo, preocupavam-se com o aspecto político, com as relações de poder presentes no currículo e os mecanismos que reproduziam a divisão de classe no espaço escolar. Embora diferentes teóricos apontem diferentes perspectivas, eles convergem no ponto comum, ao assinalar o espaço escolar como reprodutor das desigualdades sociais.
Para Silva (2005), as teorias pós-criticas, por sua vez, criticam o determinismo social, enfatizado pelos críticos reprodutivistas. Tais teorias levam em consideração a subjetividade dos sujeitos no processo educativo. O saber-poder não assinalado como fator determinante de dominação, antes vê no conhecimento cientifico produzido pela e para a classe dominante como fator de conscientização, que produzirá emancipação, através da resistência. Ou seja, de posse da mesma cultura da classe dominante, os sujeitos estariam habilitados a conhecer e questionar a sua realidade social e se mobilizar contra a dominação, alcançando a sua autonomia.
Dessa forma, as teorias do currículo permitem-nos perceber que a elaboração, as propostas e utilização do currículo envolvem diversos conceitos e aspectos culturais, políticos, pedagógicos, etc., os quais indicam que ele não pode ser visto como algo independente, neutro e exterior à realidade escolar. O currículo é cheio de intenções, significados e finalidades que permeiam as relações que se constituem dentro e fora da escola. Essas diferentes concepções de currículo representam uma dinâmica entre visão da sociedade e visão da educação.
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