Os Paradigmas de Gestão do Processo do Século XX à Luz da Teoria Institucional
Por: Fernanda Quintanilha • 3/5/2018 • Artigo • 5.667 Palavras (23 Páginas) • 309 Visualizações
ADMINISTRAÇÃO ON LINE - PRÁTICA - PESQUISA - ENSINO - ISSN 1517-7912
Volume 2 - Número 4 - (outubro/novembro/dezembro - 2001)
Fundação Escola de Comércio Álvares PenteadoFECAP - desde 1902.
Um Estudo sobre os Paradigmas de Gestão do Processo do Século XX à Luz da Teoria Institucional, da Teoria Contingencial e do Paradigma de Kuhn.
Carlos Frederico Mourilhe Roses - UNISINOS.
Resumo
O objetivo deste estudo é relacionar os paradigmas de gestão do processo com a teoria institucional, a teoria contingencial e o conceito de paradigma de Kuhn (1989). São analisadas as influências do ambiente e das crises na gênese dos paradigmas. São abordados o taylorismo, o sistema Toyota de produção, a teoria das restrições e a reengenharia como paradigmas na gestão dos processos. Estes foram escolhidos pela sua influência histórica e abrangência mundial. A relação estreita das crises com o surgimento dos paradigmas, a influência do ambiente nos processos de institucionalização e a relação das teorias e o conhecimento organizacional são algumas das conclusões deste artigo.
Palavras-chave: Paradigmas de gestão, Teoria contingencial, Teoria institucional, Paradigma de Kuhn e Gestão de processo.
1. Introdução
O século XX foi palco de inúmeras mudanças econômicas, sociais e tecnológicas. Diversos paradigmas atuaram e ainda continuam em cena atualmente. No entanto, qual é a influência do ambiente na gênese destes paradigmas? Que relações existem entre a teoria institucional, a teoria da contingência e o conceito de paradigma de Kuhn (1989)? As crises são a chave para os novos paradigmas?
Este estudo objetiva, através da análise sócio-econômica da gênese dos paradigmas da gestão de processos, relacioná-los com estas teorias. Serão abordados o taylorismo, o sistema Toyota de produção, a teoria das restrições e a reengenharia como paradigmas na gestão dos processos. Estes foram escolhidos pela sua influência histórica e abrangência mundial.
2. O paradigma taylorista
O final do século XIX caracterizou-se por um período de desaceleração da economia, de desgaste dos avanços da primeira revolução industrial. No entanto, por outro lado, a virada do século é caracterizada por uma mudança da situação econômica e conforme Landes (1994 :. 243) cita:
"Essa desaceleração só foi revertida por volta da passagem do século, quando uma série de grandes avanços abriu novas áreas de investimento. Esses anos assistiram à vigorosa infância, senão ao nascimento, da energia e dos motores elétricos; da química orgânica e dos sintéticos; do motor de combustão interna e dos dispositivos automotores; da indústria de precisão e da produção em linhas de montagem – um feixe de inovações que mereceu o nome de segunda revolução industrial."
Nesta segunda revolução industrial, o sistema capitalista é consolidado, a ciência e a tecnologia se casam e surge uma nova base técnica, a qual se caracteriza pela indústria eletromecânica. Este tipo de indústria potencializa a divisão do trabalho como conseqüência do tipo de equipamento. Por conseguinte, há um aumento de produtividade e de acumulação de capital. Neste cenário de início de século surgia a indústria automobilística liderada por Ford (1927) e seu modelo T. Em 1908, enquanto o modelo T era lançado, surgia também a General Motors. O progresso tecnológico nesta área era incipiente e, como cowboys desbravando o oeste, este nova tecnologia começa a ser desenvolvida.
O sistema de produção adotado por Ford teve uma influência significativa no progresso da indústria e da economia americana como um todo. O fordismo teve influências dentro e fora do terreno das suas fábricas. Do ponto de vista macroeconômico, Ford vislumbrou a necessidade de integrar o trabalhador no mercado consumidor e ,através do seguinte círculo virtuoso, puxou o crescimento econômico:
[pic 1]
Figura 1: Círculo virtuoso do crescimento econômico no modelo fordista.
Neste sentido, os sindicatos tiveram influência importante na questão dos salários e o Estado na infraestrutura. Esta consistia nas condições para viabilizar o desenvolvimento produtivo como estradas e portos, como também, a responsabilidade pelo bem-estar social dos trabalhadores como saúde e segurança. No entanto, este círculo virtuoso só existe com o crescimento econômico e para tal, o aumento da produtividade era essencial. Neste ponto, surge Taylor com os princípios da administração científica para aumentar a eficiência e reduzir a porosidade do trabalho [1]. Segundo Taylor (1995), o trabalhador apresentava uma indolência natural e sistemática; e o trabalho deveria ser administrado de outra forma através de quatro princípios fundamentais:
1. Desenvolver o trabalho como uma ciência. Este princípio pressupunha um estudo criterioso de todos os elementos de cada atividade para extrair os métodos científicos de sua realização.
2. Selecionar e treinar o trabalhador. Neste ponto, significava uma determinação detalhada das tarefa do trabalhador, ou melhor dizendo, um adestramento do trabalhador.
3. Cooperar com os trabalhadores. Pode-se dizer que se tem um processo de compra através da remuneração por produtividade do consentimento do trabalhador em participar desta sistemática.
4. Dividir o trabalho entre a direção e o trabalhador. A direção se incumbe da administração do trabalho e o trabalhador, da responsabilidade tão somente pela execução.
Com estes princípios, o Taylorismo buscava o controle total do processo de trabalho e o aumento da produtividade através da sistematização das tarefas. No entanto, este processo de sistematização das tarefas era amplo e irrestrito, ou seja, buscava-se a melhoria de todas as etapas do processo simultaneamente. Neste período, um processo era visto como um somatório de atividades e que a melhoria local de uma delas necessariamente melhoraria o resultado final. Neste enfoque, a prioridade absoluta era a melhoria das tarefas e o treinamento do trabalhador. Este era reconhecido dentro do conceito literal de mão-de-obra, ou seja, desprovido de capacidade de raciocínio e iniciativa.
Esta estratégia pode ser justificada pelo incipiente desenvolvimento da nova tecnologia industrial da época, pois muitas eram melhorias necessárias. Conforme preconizado por Taylor (1995), havia uma necessidade de transformar os métodos empíricos em métodos científicos. Assim sendo, pode-se dizer que a gênese do taylorismo está relacionada à conjuntura existente na época. Conforme Donaldson (1997), a busca da organização ideal deve refletir uma preocupação de adequação da mesma ao seu ambiente e esta é a base da teoria da contingência. O conceito chave desta teoria é a incerteza da tarefa, ou seja, quanto mais incertas as tarefas, maior a necessidade de contingencialização constante. Neste ponto, o taylorismo através dos seus princípios buscava a eliminação da incerteza das tarefas, ou seja, eliminando a necessidade da contingencialização da organização. Segundo Donaldson (1997), as tarefas de baixa incerteza são melhor executadas através de uma estrutura organizacional hierarquizada e centralizada. Esta era a lógica do taylorismo. A busca da redução da incerteza de todas as atividades para que pudessem ser melhor controladas pela direção das organizações.
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