Resenha - Os Fundamentos da ideologia gerencialista
Por: Jonathan Domingues • 10/12/2017 • Resenha • 1.374 Palavras (6 Páginas) • 1.091 Visualizações
GAULEJAC, Vincent de. Os fundamentos da ideologia gerencialista. In: GAULEJAC, Vincent de. Gestão como Doença Social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação social. 3ª edição. São Paulo: Ideias e Letras, 2005, p. 63-79.
Resumo
“A gestão apresenta-se como pragmática e, portanto, não ideológica, fundada sobre a eficácia da ação, mais do que sobre a pertinência das ideias. Ela se torna uma “metalinguagem” que influencia fortemente as representações dos dirigentes, dos quadros, dos empregados das empresas privadas, mais igualmente das empresas públicas, das administrações e do mundo prático. Os experts da gestão tornaram-se pessoas que prescrevem modelos. Propõem encarregar-se dos negócios do mundo. Os modelos sobre os quais fundamentam sua competência são construídos sobre diferentes paradigmas. Um paradigma descreve o conjunto das crenças a partir das quais os pesquisadores elaboram suas hipóteses, suas teorias e seus métodos. Entre as ciências da gestão e a ideologia gerencialista, as relações são ambíguas. Ás primeiras cabe descrever e analisar as modalidades de organização da ação coletiva. As segundas estão a serviço do poder gerencialista para garantir sua empresa. A gestão se perverte quando favorece uma visão do mundo na qual o humano se torna um recurso a serviço da empresa. (GAULEJAC, 2007, p.63) ”
Analisaremos a crítica apresentada acima a respeito da contradição entre sobre o que é chamado de ciência da gestão e ideologia gerencialista. A economia gestionária considera mais importante as questões contábeis e financeiras do que as considerações humanas e sociais. O autor apresenta então o conceito de gerencialismo como tecnologia do poder, entre o capital e o trabalho, cuja finalidade é obter a adesão dos empregados às exigências da empresa e de seus acionistas. A prática da gestão como ciência modela pensamentos, comportamentos e estabelece normas funcionais possuindo assim uma finalidade prática. A ideologia, no entanto, mantém uma ilusão e dissimula um projeto de dominação, modelando condutas humanas e tem como base um sistema econômico cujo lucro é a única finalidade.
Palavras chave: ideologia, fundamentos gerencialistas, fragmentação social, gestão, teorias e práticas organizacionais.
Os fundamentos da ideologia gerencialistas
Gaulejac aborda as ideias gerencialista em questão como difundidas por meio de ideias americanas que estimulam o gestor a deixar de lado fenômenos da dominação e do poder, do lugar da empresa na sociedade ou da desigualdade, focando apenas em aprender a planejar e executar soluções eficientes e eficazes na organização.
A ideologia gerencialista trata as pessoas como seres de pensamento racional, os quais pode-se facilmente prever seu comportamento, desconsiderando a subjetividade de cada um, otimizando suas opções e programando sua existência. Indo por essa lógica, exclui-se quase tudo que não é racional como registros subjetivos, afetivos, emocionais, vistos como não confiáveis. Ao contrário de medir para compreender, querem só compreender aquilo que é mensurável, o ensino da economia e da gestão, por exemplo, está no patamar em que todos os problemas sociais e humanos estão sendo reduzidos a cálculos matemáticos.
Gaulejac critica a transmutação da economia à matemática, em que problemas desse gênero são tratados como uma tarefa exata. Gestores confundem racionalização com razão, pois a racionalização tende a neutralizar aquilo que incomoda, estando assim ao lado do poder, ao passo que a razão está do lado do conhecimento. A organização é tratada como um dado, em que a análise organizacional é feita sob uma perspectiva funcionalista, ou seja, é aquela visão que liga as questões sociais ás funções que elas garantem. Não buscam estudar as particularidades da organização e do indivíduo, mas sim encontrar meios para adaptar um ao outro.
O autor discute sobre a forma como o pensamento é considerado como inútil se não puder contribuir para a eficiência da organização. A reflexão a serviço da eficácia, explicada pelo paradigma utilitarista, em que cada sujeito procura maximizar suas utilidades e isso é totalmente compreensível, visto que vivemos em um mundo em que a preocupação com a eficiência e rentabilidade são constantes. Assim sendo, pesquisas que aprofundam questões sociais e subjetivas não tem espaço, pois só terá valor se for para servir como uma solução operacional.
O objeto de estudo e a crítica de Gaulejac é pela forma como o ser humano é tratado como um recurso da empresa ao passo que a gestão se tornou uma ciência do capitalismo. O que mais importa no meio empresarial é racionalizar a produção com menor custo para favorecer o crescimento e atender as necessidades dos consumidores, sendo que há custos que não são levados em conta como os constantes atentados ao meio ambiente, trabalho escravo, exclusão daqueles que não podem ter acesso a esses bens de consumo, pressão de trabalho.
O capítulo é finalizado com uma crítica aos paradigmas que fundamentam a gestão, o economista (reduz o homem a um recuso da empresa), objetivista (compreender o pensamento humano é medir e controlar), utilitarista (submissão do conhecimento a critérios de utilidade), funcionalista (ocultação dos mecanismos de poder) e experimental (dominação da racionalidade instrumental). Assim, o indivíduo submetido a gestão deve, então, adaptar-se ao “tempo do trabalho”, às necessidades financeiras e produtivas, e é exigido que o ser humano se adapte à empresa e não o contrário.
Conclusão
O conceito ideologia foi criado pelo francês Antoine Louis Claude Destutt de Tracy (1754-1836). Este filósofo o empregou pela primeira vez em seu livro “Elementos de Ideologia”, de 1801 para designar o “estudo científico das ideias”.
“Ideologia é um conjunto de ideias ou pensamentos de uma pessoa ou de um grupo de indivíduos. A ideologia pode estar ligada a ações políticas, econômicas e sociais. ”
Sendo assim ideologia é um sistema de ideias baseado na articulação e sistematização de ideais universais humanos, que são apropriados por um determinado grupo e convertidos em rituais com o objetivo de emprego em estratégias de manipulação e controle da maioria.
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