AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO DO CONJUNTO VIA EXPRESSA
Por: Leandro135 • 27/9/2016 • Trabalho acadêmico • 2.705 Palavras (11 Páginas) • 342 Visualizações
PROJETO DE EXTENSÃO
INSTITUTO POLITÉCNICO – Centro Universitário UNA
AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO DO CONJUNTO VIA EXPRESSA
ARQUITETURA E URBANISMO
Cláudia Oliveira, Fernando Ferraz, Isabella Braga, Leandro Freitas, Lívia Herken e Rodrigo Furtado.
Professor: Guilherme Maciel Araujo.
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- INTRODUÇÃO
A habitação compreende um espaço maior do que apenas a residência. O Estatuto da Cidade (Lei n. 10. 257 de 10 de Julho de 2001) estabelece, logo em seu início, em seu parágrafo único, “o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.”. O mestre em filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais, Francisco Augusto C. Freitas, em seu trabalho “A habitação como espaço de habituação” (2012), discorre sobre a percepção e ação do indivíduo (ou da comunidade) no espaço em que habita, tanto no caráter espacial como também no temporal. Pois, uma vez podendo perceber o espaço, pode-se conduzir uma ação, ou conjunto de ações, tornando o espaço reflexo dinâmico da habituação daquele indivíduo ou comunidade ao longo do tempo.
Se o hábito é definido pelo espaço de habitação e se, inversamente, a habitação é definida pelo hábito, então o espaço pode ser definido como o medium dessa relação, e com isso não se restringe a um lugar fixo, mas é móvel, adaptável, permeável a novas práticas e contextos (FREITAS, 2012, p. 2).
Porém, encontramos situações onde essa mutabilidade, citada nos argumentos de Freitas, não acontece, ou acontece de forma muito lenta.
Esta pesquisa volta-se, especialmente, para uma comunidade de baixa renda reassentada no Conjunto Via Expressa, no bairro Califórnia, região noroeste de Belo Horizonte, devido à remoção dessas famílias de edificações construídas informalmente em áreas de risco.
Em entrevista à alguns moradores do local e análise de documentos e mapas, foram verificadas carências em serviços e infraestrutura urbana, o que inviabilizam a concretização do que é exposto por Freitas e faz descumprir-se o que é definido no Estatuto da Cidade. Essas carências tornam-se um empecilho para a relação do indivíduo com o espaço, pois confinam-no em seu espaço residencial, apenas. Sem praças, sem espaço público adequado, sem infraestrutura urbana bem distribuída que atenda às necessidades da população e que viabilize a construção e desenvolvimento do indivíduo como cidadão, resta a este apenas a repetição enfadonha e inerte de um cotidiano que não vislumbra novos horizontes. Portanto, eles residem, mas não habitam.
Este confinamento das famílias dentro de suas próprias residências é a principal problemática desta abordagem, uma vez que a produção de habitações em massa não é projetada para se adequar as necessidades das famílias com conformações diversas. Esse engessamento da moradia, cunhada de estojo por Walter Benjamim (1982 apud Kapp, 2007), impede que ajustes sejam feitos conforme a alteração as demandas ao longo do tempo. Assim, um apartamento com dois quartos pode ser confortável para um casal, mas o terror de uma família com cinco filhos. E o passar do tempo implica no desgaste da moradia, que por falta de manutenção adequada e um acompanhamento profissional, pode ter seu desempenho reduzido em um curto período e é assim que percebemos a importância de uma Análise Pós-Ocupação (APO).
Atualmente, as construtoras de habitação social têm a economia de matéria-prima e a simplificação dos processos construtivo como principais alvos para se obter lucro, abrindo mão de qualquer partido que fuja ao convencional. O resultado disso é a repetição inserida na paisagem da cidade.
Mas será possível fazer uma boa arquitetura social? Uma habitação que seja ''moldável'' às particularidades dos moradores pode ser o princípio de uma revolução no modelo de construção atual. Exemplo disso é o projeto de habitação social de Alejandro Aravena em Quinta Monroy, no Chile, onde o princípio é construir a primeira metade mais complexa da edificação (banheiro, cozinha, escada e paredes divisórias), mas prevendo a ampliação pelo proprietário de acordo com sua necessidade.
Na produção de moradias dignas devem ser considerados os aspectos econômicos, estéticos, funcionais e humanos. Se aplicados desde o projeto, a acessibilidade e a adaptabilidade não serão onerosas e seus aspectos estarão fundidos no conceito arquitetônico do edifício.
É fundamental que arquitetos estejam atentos à sua responsabilidade social, propondo edificações que considerem a diversidade humana e que garantam melhor qualidade de vida às pessoas.
Para analisar e refletir as problemáticas dos conjuntos habitacionais de massa, principalmente, o Conjunto Via Expressa, foi realizada a Avaliação Pós-Ocupação (APO).
A APO é uma série de métodos e técnicas que diagnosticam fatores positivos e negativos do ambiente no decorrer do uso, a partir da análise de fatores socioeconômicos, de infra-estrutura e superestrutura urbanas dos sistemas construtivos, conforto ambiental, conservação de energia, fatores estéticos, funcionais e comportamentais, levando em consideração o ponto de vista dos próprios avaliadores, projetistas e clientes, e principalmente, o atendimento das necessidades ou o nível de satisfação dos usuários (COLEÇÃO HABITARE, 2003, p. 26).
Desta forma, objetiva-se realizar a aplicação da Avaliação Pós-Ocupação (APO) no Conjunto Via Expressa de modo específico aos referentes aspectos:
- socioeconômicos: origem, tempo de moradia, tamanho e composição familiar; níveis de renda; consumo de energia; consumo individual e coletivo; faixa etária; nível de escolaridade; atendimento à demanda de escolas e hospitais; sociabilidade; situação do conjunto habitacional em relação ao bairro; entre outros;
- avaliação da satisfação dos usuários: abrange uma amostra de edifícios e de suas unidades habitacionais, do edifício escolar mais próximo e das áreas livres (praças) ou similares. Inclui, no caso das edificações/ unidades habitacionais, os seguintes aspectos: aspecto visual; densidade ocupacional do edifício versus conforto psicológico individual e grupal (privacidade/territorialidade); possibilidade de intervenção no apartamento versus adaptação ao uso; identificação dos moradores com o edifício e suas áreas comuns (manutenção/ tratamento paisagístico); espaços e equipamentos qualificados e informais para convivência social, recreação e lazer para crianças, jovens, adultos e idosos; condições de estacionamento em áreas comuns dos edifícios; segurança contra crimes nas áreas comuns dos edifícios; nível organizacional dos moradores para intervir ou implementar programas coletivos de manutenção; e outros. Neste item, serão também contemplados alguns aspectos básicos de uma avaliação estética a partir do ponto de vista do usuário;
- avaliação do(s) sistema(s) construtivo(s): abrange uma amostra de edifícios e unidades habitacionais e do edifício escolar mais próximo e das áreas livres (praças). Inclui, no caso das edificações/unidades habitacionais, os seguintes aspectos: implantação/movimento de terra; infra-estrutura; superestrutura; alvenaria; cobertura e forros; pisos; revestimentos; caixilhos; vidros; pintura; impermeabilização; louças; metais; instalações hidrossanitárias; instalações elétricas e telefonia; águas pluviais; instalações de gás; segurança contra fogo; segurança de utilização; paisagismo; intervenções/usuários; patologias em geral; entre outros;
- avaliação funcional: abrange uma amostra dos edifícios e de suas unidades habitacionais, de um edifício escolar mais próximo e das áreas livres (praças). Inclui, no caso das edificações/unidades habitacionais, os seguintes aspectos: integração do uso residencial com outros usos; tratamento paisagístico das áreas comuns do edifício; circulação vertical externa; número de pavimentos do edifício versus adequação à escala humana; flexibilidade/arranjo espacial do apartamento; facilidade de manuseio/limpeza das janelas; facilidade de abertura de portas a 90° em função do espaço de utilização; área útil do apartamento/morador; área útil do dormitório, área útil da sala, área útil da cozinha; área útil de serviço; área útil do banheiro/lavatório, pé-direito; circulação/ integração entre cômodos no apartamento; adequação ao uso/equipamento/mobiliário/intensidade de sobreposição de tarefas; área útil/área construída do apartamento; adequação e acessibilidade dos deficientes físicos aos apartamentos; entre outros;
- avaliação econômico-funcional: abrange uma análise de “custos versus benefícios” dos edifícios e unidades habitacionais, e leva em consideração as principais sugestões ou melhorias implementadas pelos moradores, tais como modificações do mobiliário, aumento da área construída, alterações das instalações hidráulicas e elétricas, mudança nos acabamentos, entre outras. [a]
- METODOLOGIA[b]
A APO é uma metodologia que foi utilizada para analisar o Conjunto Via Expressa quanto à sua funcionalidade, sistemas construtivos e caracterização socioeconômica do conjunto e do bairro.
Para a realização da APO, segundo os objetivos, foram utilizados relatos orais dos moradores, observação de campo e avaliação do projeto arquitetônico do Conjunto Via Expressa.
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