CURSO DE GESTÃO URBANA E DE CIDADES.
Por: renata-rmt • 30/3/2016 • Trabalho acadêmico • 1.578 Palavras (7 Páginas) • 390 Visualizações
CURSO DE GESTAO URBANA E DE CIDADES
EG/FJP WBI PBH ESAF IPEA
Belo Horizonte – Brasil – 12 a 24 de março de 2000
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Escola de Governo da Fundação João Pinheiro – Curso de Gestão Urbana e de Cidades.
As cidades e a globalização: os novos desafios
Jordi Borja
A cidade é o produto cultural, ou melhor a realização humana em resumo mais complexa e significante que recebemos da história. E que construimos e destruimos cada dia. Entre todos.
E é assim poque é a maximização das possibilidades de intercâmbio. “ Nada é mais importante, econômicamente em uma cidade, que os cafés, os bares, os restaurantes”, dizia mais ou menos o diretor de planejamento de Londres, para justificar porque apesar do neoliberalismo ainda imperante, exigiam aos edifícios de escritórios que seus andares térreos oferecessem esse tipo de uso considerado decisivo para a produtividade urbana.
Cidade, cultura, comércio, são termos etimológica e historicamente ligados. Como cidade e cidadania ( pessoas com direitos e responsabilidades, livres e iguais). E cidade ( polis, lugar da cidadania) e política ( como participação nos assuntos de interesse geral). Não é demais recordar alguns conceitos que expressam valores tão fortes que não merecem ser suplantados por outros mais frágeis ou menos solidários.
A complexidade e o sentido vinculado a cidade não resultam automaticamente da concentração de população nem de sua atividade econômica, nem ser sede de poderes administrativos ou políticos. Se a troca é uma dimensão fundamental, a “ cidade-cidade” é aquela que otimiza as oportunidade de contatos, a que aposta na diversidade e na mistura funcional e social, multiplicando os pontos de encontro.
O urbanismo não pode pretender resolver todos os problemas da cidade. Roland Castro, modesto em suas afirmações, diz que pelo menos não deveria agravá-los. Não é uma frase vazia. Em muitos momentos históricos, incluindo o atual, parece empenhado em fazê-lo. A literatura sobre o assunto é abundante e este autor também contribuiu à crítica de um urbanismo que despreza o espaço público.BORJA e CASTELLS(1997)
Porque aqui está uma dimensão decisiva da cidade: a qualidade de seu espaço público. O lugar de traca por excelência. E também onde melhor se manifesta a crise da cidade.
As dialéticas da cidade atual
A cidade atual sofre um triplo processo negativo: dissolução, fragmentação e privatização. Dissolução por difusão da urbanização desigual e enfraquecimento ou especialização dos centros. Fragmentação pela exacerbação de alguns pressupostos funcionalista, caricaturas do movimento modernista: a combinação de um capitalismo desregulado com a lógica setorializada das administrações pública produz a multiplicação de elementos dispersos e monovalentes num território recortado por vias de comunicação. E privatização pela generalização de guetos determinados por classes sociais , desde os condominios de luxo às favelas ou similares, e a substituição das ruas, praças e mercados por centros comerciais.
Os três processos se reforçam mutuamente para contribuir ao quase desaparecimento do espaço público como espaço de cidadania. Estamos diante da morte das cidades como se proclama com frequência, como questiona CHOAY (1994).
Parece óbvio que as tendências citadas contrariam o complexo “ produto cidade”, caracterizado pela densidade das relações sociais e pela mistura de populações e de atividades. E mais ainda, acentuam as desigualdades e a marginalidadem reduzem a capacidade e integração cultural e a governabilidade do território e, finalmente negam os valores universalistas vinculados à “ cidade”.
Sem dúvida, frente a estas dinâmicas desestruturadoras da cidade atuam outras dinâmicas de sentido contrário. Em todos os momentos históricos de mudança se anunciou a morte da cidade. E, com frequência, tem prevalecido em muitos casos, nem sempre e com elevados custos sociais em todos os casos, as dinâmicas de revalorização da cidade.
De onde procedem as tendências e as forças construtoras da cidade?
Existem fatores econômicos e técnicos , em especial os progressos dos transportes e da comunicações, que favorecem a dispersão. Mas há outros ao contrário: o capital fixo polivalente, o tecido de depósitos e de empresas prestadoras de serviços, os recursos humanos qualificados, a imagem da cidade, a oferta cultural e lúdica que atrae cada vez mais os agentes econômicos e os profissionais, as multiplas oportunidades ( teóricas) de trabalho, a diversidade de equipamentos e serviços e o ambiente urbano que demandam amplos setores intermediários... O fato é que uma parte importante dos grupos sociais que pareceiam irreversivelmente isntalados nas periferias, revalorizam a cidade tanto na hora de decidir seus investimentos ou seu trabalho, como sua residência.
Mas além desses fatores econômicos e sociais existem faotres culturais e políticos que explicam a revalorização da cidade. Mito ou realidade, a cidade aparece como o lugar das oportunidade, das iniciativas e das liberdades individuais e coletivas. O lugar da privacidade mas também da participação política. “ Ontem, na manifestação dos grevistas, me senti pela primeira vez em muitos anos um cidadão”, declarou um manifestante, em Paris, maio 1997.
A cidade é além disso, talvez o mais importante, o continente da história, o tempo aprisionado no espaço, a incitação ao passado e a memória do futuro, ou seja é o lugar onde se produzem os projetos de futuro que dão sentido ao presente. A cidade é o patrimônio coletivo em que redes, edifícios e monumentos combinam com recordações, sentimentos e momentos comunitários. Não parece que as pessoas, muitas pessoas, vão renunciar facilmente a tudo isso.
Finalmente se concluimos que na cidade, ou melhor nas áreas urbanas se confrontam dinâmicas contraditórias e que as políticas urbanas, que significam responsabilidade política, profissional e de agentes econômicos e sociais, podem impulsionar algumas dinâmicas e reduzir outras, então a questão dos valores culturais e dos objetivos políticos se convertem na questão decisiva de nosso presente e de nosso futuro urbano.
Como recordava recentemente Michael Cohen (1997), dirigindo-se aos responsáveis pela política urbana de Buenos Aires, o que deve ser buscado antes de qualquer coisa é : quais são os valores que orientam sua ação, onde queremos chegar, que modelos de vida urbana se propõem aos cidadãos.
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