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FORMAS DE VIOLÊNCIA E A NECESSIDADE DE OLHA-LA DIFERENTE

Por:   •  17/9/2021  •  Artigo  •  3.034 Palavras (13 Páginas)  •  150 Visualizações

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Cultura Moderna e Contemporânea

FORMAS DE VIOLÊNCIA E A NECESSIDADE DE OLHA-LA DIFERENTE

UFG – FACULDADE DE ARTES VISUAIS

JÚLIA NOGUEIRA DE OLIVEIRA

RESUMO

O texto utiliza o Condomínio Jardins de Provence, situado no bairro Altos do Calhau, em São Luís/MA, para fomentar uma discussão referente às violências impostas a sociedade. Busca modificar os estereótipos entorno da realidade do “bandido” e da classe social mais desfavorecida, de forma a tentar entender o amplo sistema, que, hoje, sustenta a violência no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE

Violência; segregação; São Luís.

Figura 1: A desigualdade social de São Luís (MA). A esquerda o Condomínio Jardins de Provence e a direita o bairro do Coroadinho

[pic 1][pic 2]

Fontes: MARANHÃO HOJE, 2018. G1, 2020.

INTRODUÇÃO

Ao tratar da configuração urbana dos dias atuais, Milton Santos, geógrafo, escritor, cientista, jornalista, advogado e professor universitário brasileiro, traz uma concepção de cidade que vale ser analisada:

Existem duas ou diversas cidades dentro da cidade. Esse fenômeno é o resultado da oposição entre níveis de vida e entre setores de atividade econômica, isto é, entre classes sociais. Pode ser verificado e medido pela análise diferencial de um certo número de características do habitat e dos serviços de cada bairro, assim como pelas trocas entre as diferentes frações do tecido urbano. (MILTON SANTOS, 2008, pp. 190 – 191)

Nesse sentido, o texto busca, a partir de uma análise do Condomínio Jardins de Provence, no bairro Altos do Calhau, localizado na cidade de São Luís, no Maranhão, incitar uma reflexão entorno das diversas cidades existentes dentro da própria cidade e assim fazer uma análise conjunta das relações de violência expressas na sociedade.

Nessa configuração, é importante salientar que apesar do Brasil estar entre as doze maiores economias do mundo, ele é conhecido por ser um dos países mais desiguais, estando na 80ª posição no ranking mundial das desigualdades segundo o Banco Mundial em 2014. Mais especificamente, o Maranhão se encontra na 23ª posição segundo o Coeficiente de Gini em 2013, se configurando um dos estados mais desiguais do Brasil, e ainda, apresenta um índice alto de violências, chegando a registrar um aumento de 420% em relação ao número de homicídios entre o ano de 1998 e 2012 (COSTA, 2014).

Utilizando os altos índices de violência, a população mais abastada da cidade justifica seu isolamento em grandes condomínios fechados, caracterizados por muros altos e um grande aparato tecnológico, a fim de garantir sua segurança. A questão é que ao fazer isso, além de reiterar a chamada “arquitetura do medo”, eles praticam uma violência simbólica ao promover a segregação socioespacial.

Agravando a situação da cidade de São Luís, o Estado concede um aval de segregação ao distribuir a aparelhagem urbana de forma a favorecer o que João Sette Whitaker, docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e escritor do blog “Cidades para que(m)?”, chama de “cidade que funciona”, se referindo aos bairros nobres e exclusivos das classes média alta e alta.

É importante também, aqui, destacar a relação histórica do Estado com as minorias, em que essa se caracteriza como uma demonstração de falha estatal quando o Estado tenta manter sua soberania nacional. Nesse sentido, acontece um impulso global de expulsar as minorias, incentivado, principalmente com a ascensão de figuras políticas de extrema direita, que validam a violência contra os marginalizados. Além, é claro, dos incentivos da indústria da cultura e dos jornais, que tratam diariamente a violência com apatia e a banalizam.

Nesse sentido, apresenta-se nas grandes cidades brasileiras, inclusive em São Luís, um ciclo vicioso de violência, em que a falta de um posicionamento coerente do Estado em garantir o direito à segurança leva a população mais rica da cidade a se isolar em enclaves fortificados, o que gera a segregação e consequente marginalização da camada mais pobre, que muitas vezes vê na violência uma maneira de inclusão social, inclusive devido a grande receptividade dela nos produtos culturais, como filmes e séries. Além disso, a ausência estatal muitas vezes possibilita a ascensão de discursos de ódio em diferentes âmbitos, inclusive no político, reiterando ideias como “Bandido bom, é bandido morto” e incitando ainda mais a violência ao tentar combate-la com mais violência.

A QUESTÃO DA VIOLÊNCIA EM SÃO LUÍS

A partir da pesquisa exploratória realizada no Condomínio Jardins de Provence para o curso de Serviço Social da UFMA, desprende-se que 100% dos entrevistados afirmaram optar pela moradia em condomínios fechados por motivos de segurança. Além disso, 42% deles já haviam residido em outros condomínios, sendo então que 58% estavam vivenciando a experiência pela primeira vez. A compreensão, portanto, do referido condomínio como a materialização do “sonho de morar com segurança” expressa uma inoperância por parte do Estado como garantidor de segurança pública.

Ao contextualizar, portanto, a cidade de São Luís, encontram-se dados alarmantes em relação a violência, como os levantados por Costa (2014), em que, durante os anos de 2002 a 2012, a taxa de homicídios triplicou de 21,4 para 62,2 para cada cem mil habitantes, configurando um aumento de 192,5%, o que levou São Luís para o Ranking das 50 cidades mais violentas do mundo.

É importante, porém, entender que a violência não pode ser reduzida a um problema individual de alguns, geralmente mais pobres e negros, que comumente são vistos como os praticantes de atos violentos e de crimes, e nem pode ser vista como uma apreensão isolada, uma vez que:

[...] a concepção moralista e moralizadora que hoje organiza as formas pelas quais são enunciadas as ameaças representadas pelas manifestas e crescentes distâncias sociais e culturais entre os deserdados e os vencedores do mercado, ao responsabilizar os pobres e excluídos pela sua pobreza e exclusão, reintroduz no discurso público a ótica estigmatizadora que demonizou as camadas populares no século XIX. O recalcado pânico social das “classes perigosas” retorna ao imaginário coletivo (...) e participa da condenação do subproletariado urbano. Condenando-o à desqualificação, à inviabilidade e à inutilidade sociais, transformando-o de fração pobre do salariat em segmento marginal da sociedade. Condenando-o a exclusão da divisão social do trabalho e a viver em uma economia da pobreza, não raro alimenta-o com as práticas do capitalismo predatório das drogas e do roubo. Condenando-o ao cárcere de um ambiente social e cultural que incentiva e valoriza a prática da violência como o único recurso simbólico, produz, especialmente para os jovens, a ilusão do reconhecimento social. (RIBEIRO, 2001, pp. 14)

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