O Parque Linear
Por: Wiverson de Oliveira • 13/10/2020 • Artigo • 10.954 Palavras (44 Páginas) • 262 Visualizações
100.07ano 09, set 2008
Parque linear da Prainha, Cuiabá-MT
Uma ruptura de paradigmas na intervenção urbana
Geovany Jessé Alexandre da Silva e Luiz da Rosa Garcia Netto
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Fig. 3 – Vista tradicional de Cuiabá a partir da torre da Embratel, junho de 2002. Observa-se o Parque do Morro da Luz e seu potencial paisagístico em contraste com a cidade e seus edifícios. A Avenida paralela ao Parque é a Tenente Coronel Duarte, popula [SIQUEIRA, 2006: 109. /Org.: SILVA, Geovany J. A., 2007]
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O Parque Linear da Prainha se constitui num projeto utópico de intervenção urbana para a cidade de Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso, resultado da Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, no dia 20 de novembro de 2007, e intitulada de “Parque Linear da Prainha, Cuiabá-MT: Uma Ruptura de Paradigmas na Intervenção Urbana”. A utopia como proposição conceitual visionária de uma nova cidade permeia a necessidade atual de se romper paradigmas urbanos da contemporaneidade, e assim idealiza uma cidade que respeite as leis ambientais reinventando um espaço urbano para o cidadão e estabelecendo seu lazer, recreio e convívio social saudável com a natureza dentro de uma proposição sensível de sustentabilidade urbana. A proposta do Parque Linear da Prainha é recriar um lugar natural esquecido e substituído pelo homem em seu processo de ocupação e modernização urbana; pois, idealiza a descanalização e a recuperação do traçado original de um córrego localizado na área central histórica da cidade (antes denominado córrego da Prainha), e que atualmente se encontra retificado, concretado, canalizado e poluído sob a Avenida Tenente Coronel Duarte. A reinvenção desse potencial ambiental do córrego da Prainha, com seus meandros de traçado sinuoso, revive uma imagem da Cuiabá colonial do século XVIII; na qual a chamada Prainha constituía-se em uma importante artéria hidrográfica que conectava o centro da ocupação aurífera da Igreja do Rosário (hoje área do centro histórico tombado pelo IPHAN) com a região do Porto Geral, sendo piscoso, navegável e utilizado como área de lazer pela antiga população até meados da década de 1960 e 1970. A utopia de cidade que será recriada a partir da implementação do Parque Linear da Prainha aponta para a necessidade humana de se repensar seu espaço urbano e sua sociedade global; suprimindo as mazelas sociais, educacionais e econômicas entre ricos e pobres, propondo um novo modelo de desenvolvimento em sinergia com o meio ambiente e mais próximo, portanto, do utópico conceito de sustentabilidade mundial.
Traços da modernização da capital: córrego da prainha e o processo de retificação e transformação
A capital mato-grossense de Cuiabá é uma imagem do processo de construção e modernização das cidades brasileiras que, de maneira mais deflagrada, ocorre a partir da década de 1970. Essa cidade, especialmente quando analisada a partir do seu centro histórico, que é o objeto desse trabalho, apresenta determinantes urbanísticas intrigantes em seu processo de produção e reprodução do moderno. O que proporciona ao olhar mais capcioso, entendimento de uma sobreposição temporal e histórica de várias formas (ou camadas) de cidade, desde a colonial até a contemporânea.
A antiga Cuiabá colonial do século XVIII, de ocupação bandeirista (Figuras 1, 2 e 3 apresentam a evolução urbana da cidade até o século XXI), iniciada a partir da exploração aurífera nas margens do córrego da Prainha nos idos de 1720, já não apresenta as características de outrora. A cidade se transfigurou em uma metrópole conurbada ao município de Várzea Grande, com uma região violenta, impermeabilizada, poluída, degradada e congestionada. Assim, o objetivo desse trabalho é propor uma realidade alternativa e diversa desse contexto através da implementação do Parque Linear da Prainha, destarte uma nova cidade seria possível, com qualidade ambiental e humana. Uma “cidade ideal”, que respeite sua histórica ocupação, considerando a cultura ribeirinha e a do caboclo, resgatando a cuiabania tradicional que tem por necessidade se relacionar com a natureza e sua religiosidade.
A região da antiga Prainha é o limite linear e objeto da intervenção urbana desta proposta, pois essa área expressa condicionantes importantes como um patrimônio arquitetônico expressivo no contexto histórico do cerrado no Centro-Oeste brasileiro, além de ser uma área constituída por edifícios simbólicos e emblemáticos para a capital. Atualmente, também é uma das áreas mais degradadas e densas da cidade, teve seu córrego canalizado e retificado entre os anos de 1960 e 1970, intervenção que esconde sob a atual Avenida Tenente Coronel Duarte um curso d’água poluído de esgoto e intensamente depreciado pela sociedade.
A cidade de Cuiabá torna-se refém de um intenso surto de expansão urbana entre os anos 1970 e 1980 que subjuga a cultura local e imprime forte pressão especulativa sobre o centro histórico. Isso culmina com a descaracterização ou destruição de várias edificações coloniais, situação que expressa a ideologia do moderno e avanço da fronteira capitalista para o Centro-Oeste, bem como delineia uma capital mato-grossense que negligencia de seu meio natural característico de cerrado e desagrega sua paisagem urbana e ambiental qualitativa de outrora.
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