Elementos Fundamentais da Ética Cristã
Por: Roberta Ribeiro • 31/8/2019 • Seminário • 3.298 Palavras (14 Páginas) • 342 Visualizações
Módulo 02. Filosofia do Direito II – Pensadores Medievais
25.04
Unidade 1 - Elementos Fundamentais da Ética Cristã.
1. Pressupostos da filosofia Cristã: elementos gerais da ética cristã
A moral cristã influencia a ordem jurídica.
Não se trata da justiça de deus com os homens, mas sim aquela que se realiza entre os homens – essa justiça social apresenta como marco a ideia de bem como centro da questão ética. Aquele que sofre para a ser a atenção da ética, desta forma, o bem deve ser exercido sobre aquele que mais carece.
A miséria e a penúria passam a ser de interesse do cristianismo, pois dão substrato para a noção de justiça.
Segundo Giovanni Reale e Dário Antiseri, a mensagem cristã assinalou, sem dúvida, a mais radical revolução de valores da história humana.
Nietsche chegou a falar de total subversão aos valores antigos.
Bittar e Assis, por sua vez, entendem que a doutrina cristã, em sua pureza originária, está a indicar a tolerância como sendo o ratio essendi do operar cristão. Isso quer dizer que se mede o home por suas obras, as obras dos cristão deverão assinalar benevolência, paciência, tolerância, caridade, compreensão, amor... o que se quer grava é que a lei do amor e caridade são os preceitos segundos os quais se deve pautar o comportamento humano.
Assim, o outro é tido em conta, por essa doutrina, como a única condição de salvação pessoal: se o outro não há caridade, que significa doação de si em proveito de outrem: sem o outro não há amor, que também só se exerce dentro de uma relação humana... em outras palavras, somente por meio do outro é que se pode realmente praticar o amor e a caridade, de modo que o outro é mesmo o mister para o alcance da perfeição em si.
A humildade torna-se a virtude principal do cristão e ela desconhecida dos gregos, principalmente em relação ao excluído.
OBS: enquanto Aristóteles diz que justo é seguir a lei da polis ou dar a cada um o que é seu; Cristo, por sua vez, diz que o justo é a caridade e a solidariedade para com o outro. Aristóteles vai dizer que a justiça só é possível na polis, o cristianismo diz que não é preciso uma polis para ser justo, e nem viver em um estado democrático de direto ou um estado autoritário platônico, para ser justo com o outro.
1.1. A ética cristã x princípio da reciprocidade absoluta (Lei de Talião)
A lei de talião é uma noção de justiça arcaica.
Uma análise filológica revela que a ideia deriva do latim lex talionis (lex de lei e talis de idêntico). Comumente a noção de justiça é reduzida à máxima “olho por olho e dente por dente”.
Um dos exemplos mais claros da lei de talião é o Código de Hamurabi, do séc. XVIII a.C.
OBS: a importância da lei de talião é tão significativa que no próprio Antigo testamento é possível encontrar sua referência (Êx 21:23-25).
Numa primeira visão, a lei de talião é uma autorização a vingança, retaliação, o justo parece se confundir com uma forma de violência, mas em verdade, ela buscava funcionar como limitar a violência, ou seja, quer que o sujeito se limite a fazer com o agressor exatamente aquilo que foi feito com ele (controle e limitação da raiva).
A lei de talião fazia muito sentido em termos arcaicos, pois antigamente não havia um ordem estatal.
O cristianismo buscou romper radicalmente com essa tradição. Para o cristianismo o bem vem em primeiro lugar e toda e qualquer ação deve buscar o bem para o outro, nunca o mal, assim o cristianismo ensina que se deve pagar o bem com o bem e mal com o bem. Justo seria realizar o bem, independente de quem é essa pessoa.
No Novo Testamento, Jesus teria mudado a lei afirmando:
Ouvistes o que foi dito: olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas.
1.2. O significado da justiça cristã
Há uma noção de justiça que busca fazer com o outro mesmo que ele seja seu agressor. A justiça cristã faz residir o bem no perdão, na caridade para com o outro, o que está para além do que se pede ao homem.
Destaca-se que a noção de justiça cristã é severa e de difícil realização, não sendo fácil para o sujeito deixando a raiava de lado e atuando solidariamente com o seu agressor.
1.3. Ética cristã x pensamento grego e arcaico
Nesse momento é possível verificar como o pensamento cristão se opõe ao pensamento grego clássico e helênico.
Os pensadores clássicos relacionavam três conceitos: justiça, política e vida boa. Para os gregos se há uma política boa, as leis são justas e a vida das pessoas são boas, mas se a vida não é boa, é porque a cidade não é boa e as leis não são justas.
O cristianismo mostra que ser justo não garante felicidade no mundo terreno. De um comportamento justo não desdobra uma vida feliz, o cristianismo rompe com a noção grega de eudaimonia.
Para os gregos clássicos a justiça só ocorre na polis e precisa dela, para a justiça cristã isso não é necessário, desta forma há uma cisão entre a justiça da polis e a justiça da igreja.
Segundo Franz Rosenzweig, no mundo cristão Estado e Igreja se dividiram desde o início. Desde então a história do mundo cristão vem sendo realizada na conservação dessa separação.
O antigo grego viva na dimensão da polis e pela polis, e só sabia pensar dentro dos seus quadro. Destruída a polis com a expedição de Alexandre da Macedônia, o filósofo grego refugiou-se no individualismo, sem descobrir um novo tipo de sociedade, e isso pode ser visto no estoicismo e no epicurismo.
Já o cristão vive na igreja, que não é uma sociedade politica e nem puramente natural. O advento dele rompe com uma aliança entre estado e religião.
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